Saudade inspira nova aventura de Astérix e Obélix na Lusitânia
16 October 2025

Saudade inspira nova aventura de Astérix e Obélix na Lusitânia

Vida em França

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Com saída prevista para dia 23 de Outubro, os autores de "Astérix na Lusitânia" desvendaram esta semana um pouco do enredo e disseram à RFI que esta 41ª aventura dos gauleses mais conhecidos do Mundo é marcada pela saudade, mas também pelo bacalhau, as paisagens portuguesas e a hospitalidade do povo luso.

O livro “Astérix na Lusitânia” vai ser lançado já no dia 23 de Outubro e para assinalar esta saída mundial em 19 línguas, as edições Albert René organizaram um evento de lançamento na Embaixada de Portugal em Paris. Como fã incondicional desde a mais tenra idade das aventuras de Astérix e Obélix, o embaixador português Francisco Ribeiro de Menezes diz-se entusiasmado com esta nova aventura dos gauleses mais célebres de sempre.

"Nós estamos obviamente muito entusiasmados. Hoje é um dia de festa e nós temos o maior gosto em abrir as portas da embaixada para ocasiões festivas. Também para os amantes de banda desenhada e os amantes desta maravilhosa série Astérix, pessoas como eu, é uma ocasião extraordinária e confesso que me senti como um miúdo abraçado aos bonecos do Astérix e Obélix. Foi a editora que nos abordou há tempos e estamos empenhados a fundo para ter a certeza de que isto corria bem e que os nossos convidados, que também serviram de anfitriões, tivessem aqui tudo aquilo que precisavam", detalhou o diplomata português.

Este é o 41º álbum de Astérix e o 25º álbum em que Astérix e Obélix saem da sua aldeia para desbravar o Mundo. Uma aventura na Lusitânia era algo há muito pedido pelos fãs, um facto desconhecido pelo letrista Fabcaro que escreve o texto desta afamada dupla cuja primeira aventura foi lançada em 1969 por René Goscinny e Albert Uderzo.

"Eu não sabia que era um tema tão aguardado e tão antecipado quando propus a ideia da Lusitânia. Pensei que tinha tido uma ideia inédita, um género golpe de génio que mais ninguém tinha pensado. E, na verdade, fiquei a saber depois que os leitores estavam à espera de Astérix na Lusitânia há muito tempo. Eu não posso falar muito sobre o enredo central, mas claro que era preciso uma ideia tal, por exemplo, como aconteceu com o livro Astérix entre os Helvécios, onde havia características especificas deste povo como a mania das limpezas, tal como lidamos também com as especificidades dos italianos, com os portugueses também tínhamos de encontrar esses pontos. E encontrei uma porta de entrada quando descobri a saudade, este sentimento tão português, um género de melancolia um pouco fatalista que é, ao mesmo tempo, como uma alegria triste. Achei que poderia ser um bom ponto de partida e também que conseguiria transformar este sentimento num elemento de comédia. É algo que considero muito cativante, muito bonito", disse o autor.

As paisagens, a calçada portuguesa e a tal saudade estão então patentes neste novo álbum, mas também está a história de resistência da própria Lusitânia, que tal como a Gália, também tentou fazer frente aos romanos. Para o embaixador Francisco Ribeiro de Menezes todas estas características fazem com que o livro seja mais um cartão de visita para a promoção de Portugal.

"São muitas as semelhanças entre os lusitanos e os gauleses. Há vários anacronismos. Neste livro as épocas não são inteiramente coincidentes, mas já do tempo de Goscinny esses anacronismos faziam parte do encanto da história. Aliás, neste volume, a insistência no bacalhau é talvez o maior desses anacronismos, porque o bacalhau salgado foi introduzido em Portugal muitíssimo mais tarde e não foi por via gaulesa. Claro que tudo o que pudermos fazer para aproximar os dois povos no plano bilateral, para os interessar pela nossa história, pela nossa cultura, pela nossa língua, é tarefa que nós abraçamos com muito empenho, todos os dias. Dir-se-ia: vale mais um conjunto de protocolos de cooperação com universidades. E eu digo que são realidades complementares. O poder de atracção de um álbum com estas características de uma das séries mais prestigiadas da história da banda desenhada, que continua ainda hoje, mesmo com todas as mudanças que houve nos suportes que continuam a ter tanto valor, é algo que nós não podemos desperdiçar. Nós temos mesmo de aproveitar estas oportunidades", indicou Francisco Ribeiro de Menezes.

Tanto o letrista Fabcaro como o desenhador Didier Conrad passaram três dias em Portugal para se inspirarem e compararem o trabalho que tinham levado a cabo até aí com os verdadeiros herdeiros de Viriato e não ficaram desapontados, como descreveu Fabcaro.

"Fomos a Portugal durante três dias com a editora e esta viagem aconteceu quando já tinha metade do texto escrito. Já tínhamos então a história, mas queríamos ir até lá para sentir um pouco a alma do lugar. E a recepção, a hospitalidade e o calor humano marcaram-nos. Fomos muito bem recebidos, embora não nos tivéssemos apresentado como autores de Astérix. Éramos apenas turistas e fomos muito bem recebidos em todos os lugares. E talvez isso não fizesse parte do primeiro rascunho da história e quando voltámos de Lisboa, quisemos que isso integrasse o livro. Claro que acabámos por refinar as paisagens e também a própria história, mas havia essa coisa da hospitalidade que queríamos reforçar e fortalecer", indicou Fabcaro.

Para Didier Conrad, que já vai na ilustração do seu 7º álbum de Astérix, esta foi uma oportunidade de imaginar um novo Mundo, o mundo dos lusitanos que ele tentou que se afastasse o máximo possível do Mundo já idealizado por Uderzo na aventura dos dois heróis na Hispania, um álbum que saiu em 1969.

"Fazer um álbum de viagem significa que se podem fazer mais pesquisas gráficas e, assim, ter uma maior contribuição ou uma contribuição mais pessoal para este livro. Então fazer este tipo de álbuns é bom, é estimulante. Além disso, foi particularmente interessante fazer o Asterix na Lusitânia porque havia muita documentação. O que aconteceu foi que tive muito cuidado para garantir que tudo fosse bem caracterizado e , sobretudo, que fosse muito diferente do que tínhamos feito em Espanha. Na verdade, trabalhei ao olhar para o álbum de Asterix na Hispânia, publicado em 1969, para que os ambientes não parecessem os mesmos", explicou o desenhista.

O que sabemos até agora é que haverá aldeias à beira-mar, a fazer lembrar o centro de Portugal, azulejos e bacalhau. Haverá ainda Piréspès, o mau da fita, um jogo entre a expressão francesa “pire espéce”, ou má rés, e o nome português Pires, homens com bigode de todos os formatos e tamanhos e mulheres com sete saias como as varinas da Nazaré. Mas também aqui e ali há palavras em português e mesmo uns trocadilhos de linguagem, promete Fabcaro.

"Nos livros de viagem, sempre há pequenos jogos sobre a língua da região ou do país que os nossos heróis visitam. No Astérix na Bretanha, por exemplo, é muito divertido como expressões são traduzidas literalmente ou se invertem sujeitos e verbos. Então, neste álbum, eu queria encontrar um pequeno truque de linguagem que não posso dizer ainda o que é, mas há um pequeno jogo de linguagem também", concluiu Fabcaro.

A primeira tiragem do livro terá cinco milhões de exemplares e saída simultânea em 19 línguas e dialectos diferentes.