A artista leiriense Inês Condeço inaugurou, no passado dia 20 de Maio, o ciclo “Mardis en Musique”, na Casa de Portugal André Gouveia, na cidade Universitária de Paris. A sua performance foi mais do que um concerto: foi uma viagem sensorial onde se cruzam piano, voz e electrónica, guiada por uma forte componente de improvisação e uma procura por novas sonoridades.
Natural de Leiria, Inês Condeço tem vindo a construir um percurso singular, assente na improvisação e na experimentação sonora. “A música começa nas emoções”, explica. “Tento transpor isso para o som, não só através do piano, que me é mais familiar, mas também da electrónica e da minha voz, que comecei a explorar na pandemia", acrescenta.
Foi durante esse período de isolamento que Inês Condeço se aproximou da eletrónica: “Comecei a ouvir muita música electrónica e a experimentar com sintetizadores. A improvisação já fazia parte de mim desde criança, e essa curiosidade levou-me a uma sonoridade que, ao início, nem me parecia óbvia, mas que acabou por se tornar muito minha”.
A fusão de linguagens; do clássico à eletrónica, não é um exercício de rótulos, mas uma forma de escuta e de expressão. A identidade artística, para Inês Condeço, não se constrói com a intenção de ser diferente, mas com autenticidade: “O mais interessante é fazermos algo com o qual nos identificamos genuinamente. Se isso nos diferencia ou não, já não é o mais importante”, defende.
Essa autenticidade sente-se nos seus concertos, muitas vezes compostos por peças improvisadas, moldadas pelo ambiente e pela energia do público: “O que tenho feito nos últimos concertos é uma viagem que 90% é improvisada. Tento perceber a sala, a cidade, a atmosfera. Em Paris, levo também o que estou a absorver daqui”.
Improvisar em palco é, para Inês, tanto um desafio como uma necessidade. “Gosto mesmo dessa folha em branco”, afirma. “Estar em palco já é um risco por si só, mas gosto de aproveitar estas oportunidades entre álbuns para explorar e treinar a forma de estar em cena, resolver problemas em tempo real”, descreve.
Sobre a relação com o público e a perceção de que a electrónica pode parecer distante ou fria, Inês é clara: “A voz é o elemento mais humano que podemos utilizar. Cria uma ponte entre o mundo electrónico e algo mais orgânico, como o piano. Eu não vejo a eletrónica como fria, vejo-a como muito rica e expressiva”.
Os seus concertos são descritos como “viagens sonoras” por quem os presencia, mesmo por quem não está habituado a ouvir música electrónica. “O importante é que haja uma disponibilidade emocional para seguir essa viagem”, diz, sem esconder o entusiasmo por um género que considera essencial ao seu caminho criativo.
A actuação em Paris representou um passo importante na sua internacionalização, algo que vê com naturalidade e entusiasmo. “Tocar numa cidade como Paris é uma oportunidade incrível. Estar em contacto com outras culturas e experiências enriquece sempre: a nós e à nossa música”, explicou.
O futuro inclui um segundo álbum já em desenvolvimento, que promete acentuar ainda mais o contraste e a expressividade da sua estética sonora. “Sinto que agora tenho mais recursos, mais ideias. O próximo álbum vai ter mais electrónica, mais piano e a voz manipulada de uma forma diferente. Vai ser ainda mais contrastante e, acima de tudo, ainda mais meu”, concluiu.