Glaçon espalha rostos portugueses nas ruas de Paris até ao 25 de Abril

Glaçon espalha rostos portugueses nas ruas de Paris até ao 25 de Abril

RFI Português
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Desde o início de abril, as ruas de Paris estão a encher-se de figuras portuguesas que se distinguiram nos domínios da literatura, do desporto ou da música. Uma homenagem pensada em formato de calendário do advento pelo graffiteur Glaçon, português estabelecido em França, que até ao 25 de Abril está a pintar 24 rostos portugueses um pouco por toda a capital francesa para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos.

Instalado há quatro anos em Paris, o artista urbano Glaçon, cujo nome próprio é Bryan Diegues, queria assinalar o aniversário emblemático da Revolução dos Cravos e decidiu pintar em diferentes ruas da capital rostos de portugueses que se distinguiram em diversas áreas e alguns com uma relação particular com a França, como é o caso da actriz Maria de Medeiros, o jogador Eder ou o comediante David Castello-Lopes.

"Eu quis fazer um calanedário do advento do 25 de Abril celebrando Portugal sem ser só MFA (Movimento das Forças Armadas), sem ser só capitães, porque seria sempre mais ou menos a mesma coisa. Quis fazer uma espécie de homenagem a Portugal. Então falei da ideia de irmos de Magalhães ao Ronaldo, passando pela cultura portuguesa, é claro", explicou em entrevista à RFI.

Assim, e olhando para a topografia de Paris e locais emblemáticos conseguiu "casar" figuras histórias portuguesas com muitos recantos da cidade.

"As pinturas não podem ser em qualquer sítio. Por exemplo, Camões tem que ser na Avenida de Camões. Não pode ser outra coisa. Então quis sempre fazer uma pintura à beira de algo ou numa parede que fizessem sentido. Por exemplo, pintei o Éder à frente do Stade de France, onde ele marcou o golo no Europeu de Futebol. Pintei, por exemplo, José Saramago e como não há uma Rua Saramago, há em Paris aquelas livrarias verdes à beira do rio Sena e pintei-o aí", declarou.

Auto-didacta, esta paixão de Glaçon (ou cubo de gelo em português) pelo graffiti acelerou quando o seu pai morreu e teve vontade o pintar um pouco por todo o lado. Os seus conhecimentos e tecnicas foram evoluindo e começou a ser contratado para pintar rostos em espaços privados, mantendo sempre a sua actividade de street artist.

É neste contexto que se insere este calendário, sendo que estas pinturas são ilegais e muitas vezes efémeras, como explicou o artista.

"Isto não é legal. Nada. E não há nenhuma tolerância. Por isso estou a arriscar multas porque ninguém sabe o que eu faço. Não avisei porque não posso fazer e se eu aviso pode demorar anos para receber permissão. Então tinha que ser antes do 25 de Abril, não podia ser em dezembro. E será que vai ficar ou não? Não sei. Isto é uma arte que pode desaparecer amanhã. Por isso eu não pintei tudo no mês de Janeiro. As pinturas vão desaparecer, então não faz sentido. Fico sempre à espera do dia de amanhã. Vou pintando hoje, publicar amanhã ou às vezes pinto hoje para publicar hoje. E assim, se alguém quiser vir ver a pintura, pode ir e ver, tirar fotografias até que a pintura um dia pronto, ficará pela história", concluiu.