Francesas conquistaram direito de voto há 80 anos, mas estão a perder terreno na vida política
30 April 2025

Francesas conquistaram direito de voto há 80 anos, mas estão a perder terreno na vida política

Vida em França

About

As mulheres francesas podem votar há 80 anos, após mais de um século de luta para obter o direito de eleger e ser elegível. No entanto, a representação da smulheres na política em França está actualmente a decrescer, assim como a participação das mulheres, muitas delas preferindo enveredar no activismo social.

Há 80 anos, nas eleições municipais de 1945, as mulheres puderam votar e ser eleitas pela primeira vez em França. Um longo caminho de combate para as militantes dos direitos das mulheres que desde a Revolução Francesa, em 1789, exigiam o direito de voto em igualdade com os homens. No entanto, e após mais de um século de luta, esse direito veio no pós-guerra, numa altura em que o General de Gaulle precisava unir o país e quando as mulheres mostraram tanto no trabalho árduo na Primeira Guerra Mundial como na resistência durante a Segunda Guerra Mundial que não só foram essenciais para a sobrevivência da França, mas parte inteira de uma sociedade que se queria mais paritária.

Nathalie de Oliveira, antiga deputada portuguesa e ex-eleita municipal em França, falou à RFI sobre este combate pelo direito de voto, mas também da luta que se mantém até hoje para ter mais mulheres na política e com cargos de maior visibilidade.

"Tratou-se de um processo muito longo, muito sofrido, como ainda é agora, apesar de termos direitos políticos, de sermos eleitas, de sermos líderes quando é possível, o que ainda não é assim tão comum como isso. Eu acho que estamos a passar por uma fase muito regressiva na prática do respeito dos direitos políticos, das mulheres. Mas isso não é sabido e esquecido. Parece que o voto das mulheres foi sempre um direito adquirido desde a Revolução Francesa em França. E aí há um grande paradoxo, como há muitos em França, de sermos o país da conquista dos direitos fundamentais e humanos. É um modelo para o mundo inteiro. E afinal, foi tardio. Foi muito tardio em relação à ideia da igualdade perfeita entre homens e mulheres no que diz respeito aos direitos políticos", disse a antiga deputada franco-portuguesa.

Em 1999, numa revisão constitucional, a França introduziu leis de paridade obrigatória nas listas dos partidos que se candidatam às eleições. Em 2024, nas eleições legislativas antecipadas, o número de eleitas na Assembleia Nacional diminuiu, representando agora apenas 36% dos deputados.

Este retrocesso na representação política é acompanhado por um retrocesso na participação política das mulheres que nas presidenciais de 2022 votaram menos do que os homens. As dificuldades na penetração do mundo político, assim como a falta de eficácia das estruturas políticas leva, segundo Nathalie de Oliveira, as mulheres a estarem mais representadas no mundo associativo, algo que contribui 

"Pessoalmente, quando são 22h00, há dez homens nos grupos de reflexão do PS francês e uma mulher, eu. Ou estou sozinha ou está outra mulher. Na vida real ainda somos muito poucas e sacrificar tudo da vida pessoal para estar em reuniões. As mulheres, por razões também de vida pessoal, também de vida pública, no sentido associativo, preferem ou optam por dar contributo e empenhar-se em causas, mas não é nas organizações políticas no sentido partidário. Acham que há mais resultado quando sacrificam o tempo de vida pessoal e, às vezes até muito ainda tempo da vida pessoal em reunir-se nas associações dos direitos das mulheres, na defesa de grandes causas. Mas evitam, e ainda mais nos últimos 10 anos, os partidos. Ou seja, temos menos mulheres. Eu acho que temos menos mulheres hoje em França nas reuniões de organização dos partidos", concluiu Nathalie de Oliveira.