Ep. 38 - Eles não Usam Black-tie
Radio Lula FalcaoELES NÃO USAM BLACK-TIE
[BRA, 1981. Dir. Leon Hirszman Drama/Histórico, Cor, 120 min.]
A fotografia é de Lauro Escorel e baseado na peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. A película foi premiada em vários festivais internacionais, com destaque para o Festival de Veneza, onde recebeu o Grande Prêmio do Júri. Em novembro de 2015, o filme entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Além de Gianfrancesco Guarnieri (o Otávio), participam do elenco atores importantes da dramaturgia brasileira, como Fernanda Montenegro (a Romana, esposa do Otávio), Milton Gonçalves (o Bráulio, operário católico), Carlos Alberto Riccelli (o Tião, operário alienado), Bete Mendes (a Maria, namorada de Tião) e Flávio Guarnieri (Chiquinho, irmão de Tião), Fernando Ramos da Silva (o Bié [Pixote], irmão de Maria), Francisco Milani (o Sartini, operário anarquista), Lélia Abramo (a mãe doente de Maria), entre outros.
O filme foi rodado na Brasilândia, periferia de São Paulo e busca retratar o universo operário através da sinuca no boteco, a cachaça, o alcoolismo, a casa rústica retratada pela cor ocre das paredes, a vilolência urbana e policial (“veraneio vascaína”), o piquenique, o cinema, a falta de infraestrura no bairro, o fusca amareloUm movimento grevista se inicia numa empresa. Um operário está preocupado com sua namorada, que engravidou, e eles decidem se casar. Para não perder o emprego, ele resolve furar a greve, que é liderada por seu pai, iniciando um conflito familiar que se estende às assembleias e piquetes. O filme retrata a luta de classes, não dentro da fábrica, mas sim dentro do lar operário.
Isto posto passemos a uma leitura e alguns questionamentos sobre o mesmo já que o debate do filme está no podcast de nº 38 da Filosofia nas Redes, e foi realizado em 03 de outubro de 2021, das 17 às 19h30min, através de plataforma digital, mediado por mim e conduzido brilhantemente pelo professor de História do Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Ouro Preto, Daniel Diniz Barbosa, que é Graduado em História pela UFOP, Mestre em História e Culturas Políticas pela UFMG e Doutor em História Econômica pela USP e que atua nas áreas de História do Brasil República e Ensino de História que nos brindou com a contextualização da História do Brasil do período de 1945-1964, que ele adota a denominação de ‘hiato democrático’, - uma vez que a peça de teatro homônima do filme, de Gianfracesco Guarnieri foi escrita em 1956 e encenada em 1958 – até o início da década de 1980, já nos estertores da Ditadura Militar, quando filme foi lançado (1981), após as Greves do ABC, pela professora de arte Mércia Severina Vasques da Silva, que lecionou na rede pública de ensino e particular no Fundamental I e II e no Ensino Médio . Atuou como professora de Arte do curso CEFAM desenvolvendo o projeto cinema em sala de aula. Atualmente aposentada tem como trabalho voluntário na Unati/ Unesp dando aula de história da arte com o curso A Arte de Ver para a terceira idade e que participa também como conselheira na área de artes visuais do Conselho de Cultura de Guaratinguetá que nos ofereceu uma belíssima interpretação da linguagem cinematográfica utilizada pela película e uma apresentação do seu Diretor e pelo Francisco Carvalho, Adora Cinema, professor do curso pré-vestibular CPV (especializado em FGV) na matéria Artes e questões contemporâneas e também da rede municipal de São Paulo, com graduação e mestrado em Letras pela USP, que apresentou uma crítica contundente, apoiado em Jean Claude Bernadet, respeitado autor de cinema, em relação à representação fílmica da classe operária pela intelectualidade de esquerda, caso do cineasta León Hirszman diretor do presente filme, ainda que cônscio da crítica deste ao movimento do Cinema Novo de Glauber Rocha e do Centro Popular de Cultura – CPC – da União Nacional dos Estudantes (UNE).