Ep. 36 - Disparada

DISPARADA
[Geraldo Vandré e Theo de Barros, Jair Rodrigues, A Arte de Jair Rodrigues, 2005]

Prepare seu coração
Pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte, o destino, tudo
Estava fora de lugar
Eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo
Laço firme, braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
Que boiadeiro era um rei

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando
As visões se clareando
Até que um dia acordei

Então não pude seguir
Valente, lugar-tenente
De dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto para enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar em outro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisessse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme, braço forte
De um reino que não tem rei.
PROBLEMATIZANDO!
1) – Que tipo de visão de mundo é apresentada pela letra da música? Estática ou dinâmica? Justifique sua resposta.
2) – Quais problemas são retratados pela letra desta música? Justifique sua resposta.
3) – Faça uma interpretação das duas últimas estrofes da letra desta canção.
4) – Quem está com a razão, o autor desta canção, conforme podemos verificar a seguir “(...) Porque gado a gente marca, Tange, ferra, engorda e mata, Mas com gente é diferente.” ou Zé Ramalho que canta em “Admirável Gado Novo”: “E vida de gado, povo marcado, povo feliz”? Discuta essas comparações entre a vida do povo e a vida de gado.
5) – Relacione a última estrofe desta música com ex-presidente João Goulart, o Jango, que governou o Brasil de 1961-1964.
6) – Você concorda com a afirmação de que esta “canção fala sobre o despertar da consciência de um boiadeiro, o que também poderia representar o despertar da consciência da classe trabalhadora em geral”? Justifique sua resposta
7) – Qual a mensagem que podemos extrair da letra desta música?