Um projecto de lei visa proibir a utilização do véu religioso em todas as competições desportivas em França a nível distrital, regional e nacional. Até agora, a escolha era das federações desportivas e esta lei que visa uniformizar esta prática está a gerar debate no mundo do Desporto, mas também no seio do Governo.
A utilização do véu em França está novamente envolvido em polémica, desta vez ligado ao Desporto. Até agora, cada federação francesa decidia de forma independente se a sua modalidade permitia ou não a utilização de véu por parte das suas praticantes muçulmanas, mas um projecto de lei apresentado pelo senador Michel Savin veio gerar uma nova polémica, já que propõe que o véu seja banido de todas modalidades.
Para este senador, o secularismo no desporto, tal como já acontece na escola pública em França, tem de ser respeitado e, por isso, o véu como símbolo religioso não pode ser autorizado em competições desportivas. Esta lei já passou com uma maioria esmagadora de votos no Senado e irá agora ser analisada na Assembleia Nacional.
João Martins Pereira, vice-presidente dos Jovens Socialistas Europeus e eleito local em Charenton, nos arredores de Paris, considera que o ressurgir deste tema não é uma surpresa, mas que é sim uma proposta mais ligada ao actual momento político em França.
"O debate existe em França já há muitos anos e não é surpreendente que faça de novo parte da actualidade política. No entanto, acho que com os desafios maiores que temos no país, tanto a nível social como económico., parece que esta proposta vem como algo para esconder o vazio das propostas da direita e a ausência total de agenda política a nível do Governo. Temos um quadro legal muito forte, com a base da lei de 1905 sobre a separação do Estado e da Igreja e com a proibição mais recente dos símbolos religiosos na escola. E este quadro justamente define aquilo que é da esfera pública e aquilo que é da esfera privada. Ora, a proposta de lei vem agora alterar este quadro fundamental e acho que o faz de uma maneira muito, muito inconsequente e talvez polémica, em vez de trabalhar com pragmatismo", indicou o autarca.
Como eleito local, para João Martins Pereira esta não é uma questão que perturbe o funcionamento das associações desportivas, que estão, aliás, mais preocupadas com o seu bom e regular funcionamento devido a cortes orçamentais.
Esta lei, segundo meios de comunicação desportivos, terá sido pedida por várias federações francesas, mas está agora a dividir o Mundo do desporto. Teddy Riner, multi campeão francês de judo, disse que esta é uma lei "é uma perda de tempo" e que se deve pensar mais na igualdade do que "atacar sempre a mesma religião", já João Martins Pereira pensa que o importante é a emancipação das jovens que praticam desporto.
"O desporto deve ser um espaço de emancipação, com valores de respeito e de liberdade. Mas acho que a lei vem misturar várias coisas e não faz bem. Acho que alguns termos como tem a lei, ou seja, a mesma estratégia em relação a uma atleta nacional que vá debaixo da bandeira do país, que com uma jovem amadora que faz uma hora de desporto à semana, na noite ou no fim de semana, acho que está errado e que é feito assim só por fins ideológicos não dará nenhum resultado positivo", considerou.
A polémica do uso do véu no desporto foi agravada por uma querela no seio do Governo, quando a ministra do Desporto, Marie Barsacq, numa primeira declaração disse que havia algumas confusões e amálgamas na proposta de lei. Isto enfureceu o ministro Interior, Bruno Retailleu, e terá levado mesmo o ministro da Justiça, Gerald Darmanin, a querer apresentar a sua demissão ao primeiro-ministro. A ministra entretanto retratou-se publicamente.
Muitas jovens francesas em desportos como ruguebi, andebol ou atletismo ameaçam agora parar a prática do seu desporto em França, até porque contrariamente a esta lei, muitas federações internacionais permitem o uso de véu durante as competições desportivas.
"O tema da liberdade da mulher e da liberdade religiosa tem de se tratar sempre, seja qual for o contexto. Mas deve ser algo tratado a nível global e nota-se que desta vez foi feito com fins polémicos e não para favorecer a liberdade das mulheres. E acho que quem melhor sabe como se deve praticar um desporto, enfim, são as federações próprias, não é o governo, não é gente de fora que vai definir como é que se pode praticar um desporto", concluiu João Martins Pereira.