
Cabo Verde no Mundial2026: “Somos pequenos no mapa, mas de coração grande no mundo”
Desporto
Cabo Verde apurou-se pela primeira vez para o Mundial de 2026, juntando-se a outras oito selecções africanas. O seleccionador cabo-verdiano Pedro Leitão Brito, conhecido por Bubista, destacou a união, a coesão e o apoio da federação como factores decisivos, sublinhando o impacto histórico para o país, que celebra 50 anos de independência. Para o treinadro d'os Tubarões Azuis, o feito prova que com resiliência e investimento os cabo-verdianos podem competir no maior palco do futebol.
As qualificações africanas para o Mundial de 2026 chegaram ao fim e definiram nove selecções já apuradas: Marrocos, Tunísia, Egipto, Argélia, Gana, Cabo Verde, África do Sul, Senegal e Costa do Marfim. Pela primeira vez, o continente africano beneficiou do alargamento da competição para 48 equipas, passando de cinco para nove vagas directas. A possibilidade de uma décima presença ainda está em aberto: Gabão, Camarões, Nigéria e República Democrática do Congo medem forças em Novembro, em Marrocos, no play-off continental cujo vencedor vai enfrentar depois uma selecção da América, Ásia ou Oceânia em Março.
Entre as nove nações já apuradas, Cabo Verde surge como uma das grandes histórias desta fase de qualificação. O arquipélago, com pouco mais de meio milhão de habitantes, assegurou uma presença inédita na maior competição de selecções do mundo, um feito que vai ficar marcado na história do futebol cabo-verdiano.
O seleccionador Pedro Leitão Brito, conhecido no mundo do futebol por Bubista, explica que a base deste sucesso está no espírito colectivo sólido. “Penso que a nossa união tem sido a base de construção da nossa selecção. Como sabem, temos muitos jogadores que nasceram fora do país, uma mistura também dos jogadores que já têm muitos anos na selecção, com agora jogadores jovens. Daí que era ou é importante a nossa união, a nossa coesão, mas também devo dizer que temos um leque de jogadores bastante técnicos. Procuramos debalar os egos e ter uma equipa sólida com base na união. Mas devo dizer também que há muito trabalho da federação que tem apoiado muito também nessa caminhada”, explica.
O feito, acredita o treinador, terá impacto muito além das quatro linhas: “Tem que ter um impacto grande, tendo em conta que, sendo um país pequeno, fica a ideia clara de que qualquer jogador, qualquer jovem, se trabalhar, se tiver resiliência, tem condições para chegar a patamares superiores. A nossa equipa viveu dessa questão de ultrapassar as dificuldades para conseguir a qualificação. Tivemos sempre desde o início o objectivo definido, claro, que era a qualificação. Não é nada individual, é uma qualificação do grupo, da equipa, do povo. O nosso povo está extremamente satisfeito, extremamente feliz com a conquista, até porque estamos a comemorar 50 anos da nossa independência. Daí que tudo se conjugou para uma festa bastante grande”.
Apesar da festa nacional, Bubista sublinha que o foco competitivo será mantido na preparação para enfrentar adversários de maior dimensão. “Claramente estamos todos em festa, mas sei que a nossa equipa estará empenhada no máximo para dignificar o nosso país na competição. Sei que o nível das equipas no Mundial é extremamente alto, mas tenho a certeza de que a nossa equipa estará bastante empenhada em demonstrar o nosso futebol, em demonstrar ao mundo a nossa capacidade. O nosso princípio é o mesmo: a procura dos pontos", sublinha.
O seleccionador lembra que este é mais um passo numa trajectória de afirmação desportiva do arquipélago, depois da conquista da primeira medalha olímpica em Paris 2024. “Primeiramente prova que, se houver investimento certo, se houver um trabalho com critérios, os cabo-verdianos têm condições para dar cartas no mundo. Somos pequenos no mapa, mas de coração grande no mundo. Temos tido resultados nos desportos individuais, resultados bastante satisfatórios. Daí que temos cada vez mais de procurar condições, procurar formas de investir nos atletas jovens para ter resultado. Sem investimento não há resultado”.
O alargamento de vagas africanas no Mundial também foi visto pelo treinador d'os Tubarões Azuis como um factor crucial para o desenvolvimento do futebol no continente: “Ao meu ver, dá mais condições às equipas para trabalhar e ter melhores classificações no Mundial. Penso que é um alívio grande para as equipas em África. Antigamente passavas no primeiro lugar do grupo e ainda tinhas um play-off extremamente difícil. Hoje em dia já consegues lutar pelo primeiro lugar e classificas-te directamente. Isso dá possibilidade também às equipas mais pequenas de lutar para uma classificação. Nós sentimos orgulho de estar nesse leque de selecções de grande nome em África”, acrescenta.
O seleccionador cabo-verdiano acredita que esta nova realidade pode estimular investimentos e sonhos em todo o continente. “Dá mais possibilidade dos países em si fazerem mais pelas suas selecções, investirem, e faz com que em África todas as crianças fiquem com mais possibilidade de um dia representar o seu país. Quando há mais equipas no Mundial, há mais investimento. É uma satisfação grande para mim e para o continente ter nove equipas apuradas e a possibilidade de ainda termos mais uma”, afirma.
Questionado sobre o potencial das selecções africanas já apuradas para surpreender em 2026, Bubista relativiza, mas mantém a ambição: “Nós estamos na nossa primeira vez, somos ainda uma equipa em construção, mas há excelentes selecções com experiência, com jogadores habituados a grandes palcos. Estamos confiantes de que África estará bem representada. Obviamente sabemos das dificuldades, mas as dificuldades aparecem para ser ultrapassadas. Repara que todas as equipas têm jogadores que actuam nas melhores competições da Europa, da Ásia, da América. Essa experiência dá tranquilidade para lutar de igual para igual. Temos é que ter confiança e coragem”.
Entre sentimentos de orgulho, humildade e esperança, Bubista garante que Cabo Verde não vai apenas participar no mundial, mas competir. “Temos demonstrado ao longo dos últimos anos que selecções africanas com grandes jogadores podem bater-se de frente com qualquer equipa do mundo. Só precisamos de acreditar, trabalhar pelos objectivos e jogar com confiança", concluiu.