Convidado para expor no templo dos impressionistas, o Museu d’Orsay, em Paris, o artista plástico Lucas Arruda concebeu “Que importa a paisagem” como parte da Temporada França-Brasil 2025. Em suas paisagens, ele fala através de luzes, pinceladas, gestos e memória.
Patrícia Moribe, em Paris
“Fiquei muito feliz pelo convite”, conta Lucas Arruda, o primeiro artista brasileiro contemporâneo a exibir no Orsay. “Acho que também tive uma certa ansiedade, um certo nervosismo, um certo medo de ter algum aspecto pretensioso em estar aqui. Mas aí, aos poucos, eu fui achando essas relações [entre os quadros] e percebendo que daria para construir algo que não confrontasse, mas que sim, respeitasse e continuasse.”
A ideia de trabalhar com Lucas Arruda já estava em pauta há algum tempo, conta o co-curador Nicolas Gausserrand. "Quando estamos diante de uma tela de Lucas Arruda, temos a impressão de que ela nos é familiar, e é o poder da paisagem de nos dar a sensação de que já a vimos", observa.
"Seja na realidade ou na pintura, as pinturas de Lucas Arruda parecem se inserir perfeitamente nessa continuidade, que é importante no Museu d'Orsay, ao mesmo tempo, trazendo uma contribuição nova, que é o fato de que ele não pinta, ao contrário dos impressionistas, diante da cena que vê. Todas essas telas são imaginadas e são totalmente ideais de paisagens feitas em sua mente.”
“Há algo bastante didático na progressão da exposição, falando primeiro sobre paisagens, em um encontro que não é conflituoso, mas organizado de maneira bastante elegante, tanto para as obras das coleções - Rousseau, Corot, Boudin, Pissarro – como para as obras de Lucas Arruda”, explica Gausserrand.
“Há também um deslocamento bastante excepcional do Mar Tempestuoso, de Courbet, para a galeria impressionista. E a conversa acontece de maneira bastante fluida com a paisagem como tema”, acrescenta Gausserrand.
“Que importa a paisagem”, frase tirada de um poema de Manuel Bandeira, trafega por três salas. A primeira, com vários expoentes do impressionismo; depois, uma ala só com as séries de Arruda, que funciona como uma quebra e a continuidade do diálogo.
Há mais de 15 anos, Lucas Arruda vem trabalhando paisagens em quadros de pequeno formato, da série Deserto-Modelo. O formato reduzido parece concentrar e, ao mesmo tempo, aumentar essa realidade virtual. O visitante precisa auscultar traços e matizes, guiado pelas luzes e memórias de Arruda.
Depois, na sala de Claude Monet, cinco versões da catedral de Rouen inspiraram Arruda a buscar cinco imagens de florestas.“Tentei achar cinco matas que tivessem luzes diferentes, construções diferentes. Então foi tudo um pouco pensado, com o entorno, com algumas limitações”, explica.
Ele fala sobre a influência dos impressionistas, mas sua obra vai além, com imagens que remetem a outras gerações de artistas, como William Turner, Joseph Constable, Mark Rothko, ou ainda as fotografias de Hiroshi Sugimoto.
O artista explica ainda a admiração pelo trabalho de Alfredo Volpi, um dos grandes nomes do modernismo brasileiro. “A luz que vem de trás da têmpera do Volpi tem essa transparência, essa pincelada aberta, que não fecha, que não sela. É uma pincelada que, ao mesmo tempo em que ela deposita, ela também abre luz de trás.”
“Que importa a paisagem”, de Lucas Arruda, fica em exposição no Museu d’Orsay, em Paris, até 20 de julho de 2025.