Produção cinematográfica de diretor paulista acompanha conquistas da comunidade LGBTQIA+

Produção cinematográfica de diretor paulista acompanha conquistas da comunidade LGBTQIA+

RFI Brasil
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O cineasta paulista Ricky Mastro vive entre São Paulo e a França desde que fez um mestrado na Escola Nacional Superior do Audiovisual de Toulouse (sul). Há 16 anos trabalhando com um cinema engajado nas questões importantes para a comunidade LGBTQIA+, Ricky frequenta o circuito internacional de festivais e diz se sentir orgulhoso da produção brasileira sobre essa minoria diversa.

Desde que começou a fazer cinema, o mais importante para o diretor paulista era "poder contar histórias que eu não ouvi quando era jovem, quando eu era adolescente, quando era criança". Ricky afirma que sempre sentiu necessidade de contar histórias da comunidade LGBTQIA+, que representa a identidade dele.

"Decidi colocar uma visibilidade do personagem onde a sexualidade não fosse tema central da trama. Não que isso não seja importante, que eu desmereço os filmes que fazem isso, que são super importantes e que são super necessários. Mas para mim, nos meus filmes, eu sempre tento colocar como se fosse apenas parte, uma das características dos personagens", explica.

Ricky começou a produzir curtas-metragens no fim dos estudos de cinema na Faap, em São Paulo. Inicialmente, tratou de temas como "a melhor idade", depois de mulheres lésbicas e do momento em que os pais começam a desconfiar da orientação sexual dos filhos, foco do curta "Xavier", um dos filmes mais conhecidos do autor, lançado em 2016. Frequentador assíduo dos festivais de cinema LGBTQIA+ no Brasil e na França, ele confessa ter orgulho da diversificada e criativa produção brasileira.

Pista de dança

Atualmente, Ricky dirige a minissérie "O Mundinho", em desenvolvimento com a Manjericão Filmes e a produtora Rafaela Costa. "A série conta a história das seis últimas décadas da pista de dança dos jovens LGBTQIA+ em São Paulo", explica. Para Ricky, a pista de dança representou historicamente para essa comunidade um local de acolhimento, de expressão da liberdade e de conquista na aceitação de si mesmo e do outro.

Seis períodos marcantes guiam o espectador na trajetória de dificuldades e da emancipação conquistada pelos homossexuais: a transição democrática, no final de década de 1970; a epidemia de Aids, em 1988; o ano de 1994, quando o Brasil conquista o tetracampeonato mundial de futebol, o governo lança o Plano Real e a música eletrônica ganha as pistas de dança. Depois, em 2003, o primeiro ano do governo Lula libera "a esperança de ser feliz".

O quinto episódio tem como pano de fundo o golpe parlamentar que depôs a presidente Dilma Rousseff, em 2016. O último capítulo da minissérie se desenrola em 2020, quando a epidemia de Covid repercute particularmente na vida dos jovens. "É uma produção baseada em toda a vivência que eu tive, porque trabalhei na noite durante mais de 15 anos", observa o paulista.

Longa-metragem

Em paralelo à minissérie, Ricky trabalha em seu primeiro longa-metragem, "Os Invisíveis", uma produção da Lira Filmes. "É a história de quatro jovens que moram no bairro de Santa Cecília (SP), no verão mais quente que a cidade já enfrentou", destaca. Os protagonistas nasceram com o vírus HIV, adquirido pela transmissão vertical. Na virada do ano, eles decidem fazer um pacto de parar de tomar os medicamentos que evitam o desenvolvimento da Aids.

Neste projeto que vem sendo elaborado há vários anos, Ricky conta com o acompanhamento de médicos que dão atendimento a soropositivos em um centro de saúde do bairro da Lapa, na capital paulista.

"Eu tive muito orgulho de saber que no ano passado, a gente conseguiu zerar em São Paulo a taxa de transmissão vertical do HIV", que é a contaminação que ocorre durante a gestação e passa da mãe para o filho pela placenta. 

"São Paulo é uma das quatro cidades do Brasil onde teoricamente não existe mais esse tipo de transmissão. Então isso me deixa muito contente", finaliza.