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Reportagens de nossos correspondentes em várias partes do mundo sobre fatos políticos, sociais, econômicos, científicos ou culturais, ligados à realidade local ou às relações dos países com o Brasil.
De Wandinha a Agatha: diretora brasileira Gandja Monteiro assina produções cheias de magia
20 October 2024
De Wandinha a Agatha: diretora brasileira Gandja Monteiro assina produções cheias de magia

A diretora brasileira Gandja Monteiro acaba de marcar presença no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) com a estreia do sexto episódio de Agatha Desde Sempre, que entrou no ar na última quarta-feira (16), na plataforma Disney+. A cineasta dirigiu este e os capítulos oito e nove, que finalizam a minissérie e estarão disponíveis em 30 de outubro e 6 de novembro, respectivamente.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Gandja é hoje uma das cineastas brasileiras com maior destaque na direção de séries de TV norte-americanas, com produções que trazem à tona narrativas autênticas e complexas e representam um avanço significativo na busca por uma indústria do entretenimento mais inclusiva. Mas nem por isso é fácil, muito pelo contrário: o sucesso individual da cineasta, embora inspirador, não apaga a realidade de que as mulheres latinas ainda enfrentam desafios sistêmicos em Hollywood.

"Estamos bem longe de uma representatividade real em Hollywood. Acho que a representatividade latina é bem minúscula e de mulheres também, os números parecem que não sobem. Pré-pandemia, os números estavam mais altos, aí caíram durante a pandemia e isso faz uma diferença muito grande", afirma Gandja.

"Eu acho que todo trabalho ajuda o próximo, então é lógico que a Marvel tem um certo espaço na indústria. Mas, é interessante porque o estúdio não estava em um lugar tão brilhante nos últimos tempos e eu acho que dirigir uma série como Agatha ajuda, porque ela é uma desconstrução do que a Marvel tem feito", destaca a cineasta brasileira.

Agatha Desde Sempre explora a origem e a história da poderosa feiticeira Agatha Harkness, personagem icônica dos quadrinhos. Após sua aparição marcante em "WandaVision" (2021), a série se aprofunda no passado de Agatha, revelando seus segredos, poderes e conexões com outros personagens do MCU. A minissérie foi dirigida por três diretoras.

"Todas mulheres e muitas roteiristas mulheres, a criadora também é mulher, a executiva da Marvel, também. É bem feminino o universo", constata.

Um olhar único para a magia

Gandja nasceu em Nova York, mas é filha de pais brasileiros. A cineasta morou no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte quando era criança, e vive há 14 anos em Los Angeles. Apesar de estar há pouco tempo dirigindo produções de TV nos Estados Unidos, já carrega no currículo grandes títulos do universo da fantasia e do terror.

Além deste lançamento da Marvel, de 2022 até agora ela dirigiu dois episódios de Wandinha, a série de Tim Burton sobre a adolescente de A Família Addams, e episódios de The Witcher (Netflix) e Dead City, spin-off do sucesso The Walking Dead.

"Eu ando dirigindo TV nos Estados Unidos há uns 6 anos. Foi a série que menos esperaria que chamou a atenção da Marvel: uma série de terror chamada Brand New Cherry Flavor, que acabou sendo um sucesso underground, um sucesso cult. Eu acho que essa série queria um pouco disso, uma textura um pouco mais cult, mais dark mesmo", revela a cineasta.

Cenas dos próximos capítulos

Gandja revelou à RFI que o foco não é apenas uma carreira em Hollywood, mas internacional. Além de projetos nos Estados Unidos, tem outros no Brasil, onde também já assinou produções como a série documental Outros Tempos e o curta Quase todo dia.

"Eu acabei de dirigir a série nova do Vince Gilligan, que foi o criador de Breaking Bad. Fiz uma outra série com um ator maravilhoso que é o Sterling K. Brown e a Julianne Nicholson, e estou com vários longas e projetos", antecipa. 

A atual contração da indústria cinematográfica impacta diretamente o número de empregos e, consequentemente, a representatividade latina e feminina. Com os estúdios priorizando projetos de menor risco, tudo continua "como era antes", avalia a brasileira.

Mas, a cineasta é um exemplo de como a resistência e a criatividade florescem mesmo em tempos desafiadores, abrindo caminho para que outras identidades e histórias ganhem mais espaço. "Eu sou brasileira. Nasci nos Estados Unidos, mas meus pais são brasileiros, de Minas. Acho que tudo que eu vivo, tudo que eu penso tem essa pegada. Tem muito Brasil nisso", conclui.

Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do Brasil, é homenageada nos EUA
19 October 2024
Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do Brasil, é homenageada nos EUA

Em uma das salas da Universidade de Columbia, em Nova York, um coro entoa uma das canções de Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Autora do best-seller autobiográfico Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, Carolina foi a primeira brasileira negra a vender mais de um milhão de exemplares no mundo. Carolina faleceu aos 63 anos, deixando três filhos, dos quais apenas Vera Eunice permanece viva.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

"Quando minha mãe faleceu, ela me deixou uma carta, entregue um dia após sua morte. Dentre os pedidos, ela queria que eu propagasse sua memória. E é isso que eu tenho feito", conta Vera.

Apesar de "Quarto de Despejo" ter sido traduzido para 13 idiomas e alcançado cerca de 40 países, esta é a primeira vez que Vera é convidada a falar sobre a mãe no exterior. Ela participou do ciclo de debates "Carolina - A Escritora do Brasil", celebrando a obra da autora em Nova York e Washington, uma iniciativa do coletivo Mulheres na Escrita. 

"Ela é uma pensadora do Brasil e representa, de alguma forma, a mulher, especialmente a mulher negra, fora do Brasil, como é o caso agora aqui nos Estados Unidos, em Nova York", disse Tom Farias, biógrafo de Carolina e também presente nos debates. 

Vera, uma das personagens principais de Quarto de Despejo, tinha apenas 21 anos quando Carolina morreu. Foi nesse momento que ela e seus irmãos deixaram de receber os direitos autorais da escritora no Brasil.

"O que ainda ajudava a gente a sobreviver eram os direitos autorais dos Estados Unidos, que nunca deixaram de pagar", conta Vera.

Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos como Child of the Dark em 1962 e logo se espalhou pelo mundo. A iniciativa de Mulheres na Escrita, ao revisitar a obra da escritora, busca colocar Carolina de volta no radar literário e incluí-la como leitura obrigatória nos programas de faculdades que estudam obras brasileiras.

"Espero que, com essa abertura, Carolina volte a ser reconhecida mundialmente, como nos anos 1960", diz a filha, Vera.

Quem foi Carolina de Jesus

Carolina nasceu na cidade de Sacramento, no início do século 1920. Tom Farias, que está reescrevendo uma biografia dea autora a ser lançada no ano que vem, afirma que, ao contrário do que se pensava, Carolina não nasceu em 1914, mas em outubro de 1915. Filha de uma família de lavradores, ela frequentou a escola por apenas dois anos, período no qual se apaixonou pela leitura. Os livros, no entanto, tiveram que esperar, já que ela precisava ajudar a sustentar a família.

"Ela começou a trabalhar cedo como empregada doméstica, babá e cozinheira, mas nunca perdeu o amor pelos livros e pela escrita", conta Tom.

Carolina se mudou para São Paulo em 1937, depois de ser injustamente acusada de roubo em Minas Gerais. Na capital paulista, trabalhou como empregada doméstica na casa do renomado cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini. Nas horas livres, saciava sua sede de leitura na biblioteca da casa.

"Foi em São Paulo que ela se revelou como escritora, morando na favela do Canindé e criando seus três filhos sozinha", relata o biógrafo.

Durante esse período, Carolina acumulou muitos textos em seus diários, que foram descobertos pelo jornalista Audálio Dantas em 1958. Durante uma reportagem em Canindé, seu caminho se cruzou com o da escritora. Dantas ajudou Carolina a publicar suas obras, e em 1960, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada foi lançado.

"O livro se tornou um sucesso instantâneo, chegando a vender mais de dois mil exemplares por dia", relembra Tom.

No mesmo ano, Carolina foi homenageada pela Academia Paulista de Letras e recebeu o título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina. Publicou outros livros de forma independente, como Pedaço da Fome (1963) e Provérbios (1964), mas nenhum alcançou o sucesso de sua primeira obra.

"Carolina foi uma figura importante para a literatura brasileira, porque era mulher, negra e favelada", celebra Vera, ao ressaltar que a mãe foi a primeira a contar a história do negro pobre brasileiro em primeira pessoa. Tom Farias destaca que Carolina, ao contrário de pensadores da época como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, conseguiu pensar o Brasil sob a ótica da miséria.

"Minha mãe tinha tudo para não dar certo,mas ela era ousada. E agora estou aqui para ver sua ascensão no Brasil e no mundo", festeja Vera, que luta para reunir o acervo deixado pela mãe e concretizar o sonho de inaugurar um centro cultural, onde o público possa conhecer melhor a sua obra.

Brasileira lança projeto que leva tradição da cachaça para a Europa
28 September 2024
Brasileira lança projeto que leva tradição da cachaça para a Europa

"A cachaça é um projeto 100% brasileiro, único, que só pode ser fabricado nos alambiques brasileiros", afirma Raquel Lopes, brasileira apaixonada pela tradição da cachaça que encontrou em Portugal o palco perfeito para compartilhar sua paixão com o mundo.

Luciana Quaresma, correspondente da RFI no Portugal

A empreendedora carioca criou a “Casa Cachaça”, um projeto para promover a cachaça brasileira na Europa, em busca de um novo público e de uma oportunidade de mostrar ao mundo a riqueza e a sofisticação da bebida brasileira.

"A cachaça é muito mais do que uma bebida. É um reflexo da nossa história, da nossa cultura, da nossa gente. É uma tradição que precisa ser preservada e compartilhada com o mundo", explica Raquel.

A paixão de Raquel pela cachaça nasceu em sua terra natal, no Rio de Janeiro, onde a bebida faz parte da cultura e da história do povo brasileiro. Raquel sempre se encantou com o sabor único da cachaça, com as festas e tradições que a envolvem, e com o espírito que ela representa.

Ao se mudar para Portugal em 2016, Raquel percebeu que a cachaça brasileira era pouco conhecida no país. Ela viu uma oportunidade de compartilhar sua paixão e de mostrar ao mundo a riqueza da bebida brasileira. Assim, criou a “Casa Cachaça”, um projeto que tem como objetivo promover a cachaça brasileira em Portugal e no mundo.

"Eu queria mostrar ao mundo que a cachaça não é apenas uma bebida barata e de baixa qualidade. Ela pode ser sofisticada, com um sabor único e uma história rica", explica Raquel.

A “Casa Cachaça” tem também como objetivo se tornar um ponto de encontro para amantes da cachaça e para aqueles que desejam conhecer mais sobre a cultura brasileira. Raquel realiza degustações, palestras, eventos e promove a cachaça de alta qualidade, produzida com ingredientes e processos tradicionais.

Cachaça premium

"A minha missão é mostrar a cachaça brasileira como um produto de qualidade, com uma história rica e um sabor único. Trabalho com cachaças premium, cuidadosamente selecionadas no Brasil, para apresentar ao mundo a riqueza e a sofisticação da nossa bebida", afirma Raquel.

Raquel viaja pelo Brasil em busca das melhores cachaças, conhecendo produtores que se dedicam  à tradição e à qualidade. Durante sua curadoria, a empresária se encanta com a história de cada alambique, com os processos de produção tradicionais e com o amor que os produtores têm pela cachaça.

"Cada alambique tem uma história única, um processo de produção próprio e um sabor singular. É fascinante conhecer cada um deles e entender a paixão que move cada produtor", comenta Raquel.

A Casa Cachaça já conquistou o paladar de muitos europeus, e Raquel sonha em levar a cachaça brasileira para ainda mais países. Ela acredita que a cachaça tem o potencial de se tornar um símbolo da cultura brasileira no mundo, uma bebida que represente a tradição, a qualidade e a paixão do povo brasileiro. Em um mundo globalizado, a Casa Cachaça “surge como um exemplo de como a tradição e a cultura podem ser compartilhadas e celebradas", diz Raquel. 

Livro de jornalista brasileira lançado nos EUA revela expansão do movimento evangélico no Sul Global
21 September 2024
Livro de jornalista brasileira lançado nos EUA revela expansão do movimento evangélico no Sul Global

O movimento religioso pentecostal, surgido nos Estados Unidos no começo do século 20, espalhou-se rapidamente pelo Sul Global, desafiando o Vaticano a intensificar seus esforços de evangelização entre muçulmanos, principalmente depois dos atentados extremistas de 11 de setembro de 2001. Com as guerras no Afeganistão e no Iraque tornando perigosa a presença de missionários americanos, cristãos latino-americanos foram mobilizados para dar continuidade a essa missão global.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

No livro Soul by Soul (Columbia Global Reports, 2023), a jornalista Adriana Carranca aborda a expansão do cristianismo evangélico pentecostal usando como fio condutor a experiência de uma família missionária brasileira que se muda para o Afeganistão. Carranca é uma jornalista conhecida por seu trabalho como correspondente de guerra, tendo coberto conflitos no Oriente Médio, na Ásia e na África, além de temas como direitos humanos, questões de gênero e política internacional.

A Rádio França Internacional conversou com a autora durante o lançamento de sua primeira obra em inglês no teatro Martin E. Segal, na Universidade da Cidade de Nova York, na última terça-feira (17). Ela falou sobre as razões para o crescimento exponencial do número de missionários brasileiros no Brasil e no exterior.

Segundo ela, um movimento pouco conhecido vem ganhando força nos últimos anos: famílias brasileiras estão indo, de forma clandestina, para países de maioria muçulmana, como Afeganistão, Iraque e Síria, com o objetivo de evangelizar esses povos. Por isso, o encontro com um casal brasileiro, dono de uma pizzaria em Cabul, levantou as suspeitas da experiente repórter: "Na época, pensei que eles poderiam ser mercenários, pessoas independentes que vão lutar nesses países por contrato, ou então traficantes, porque o Afeganistão tem muito ópio", relembra. No entanto, logo ficou claro que essa família tinha outro propósito: disseminar a fé cristã em regiões de difícil acesso.

O Brasil, embora tenha uma forte tradição católica, desponta como o segundo país que mais envia missionários evangélicos ao exterior. "É um número absurdo de pessoas", comenta Adriana. Esse crescimento tem suas raízes no movimento pentecostal, que, no início, se espalhou pela América Latina com a premissa de que a palavra de Deus estava sendo distorcida pela Igreja Católica. "Eles começaram a traduzir a Bíblia para várias línguas, com a ideia de que precisavam espalhar a palavra de Deus, pois acreditavam que a Igreja Católica estava distorcendo essa mensagem", explica.

O pentecostalismo encontrou terreno fértil na América Latina, em parte devido à mistura de influências culturais e religiosas. "Foi facilmente aceito, também pela influência africana na região. O pentecostalismo prega que não há hierarquia na igreja, que todos são filhos de Deus e qualquer pessoa pode receber o Espírito Santo", aponta a autora. Esse modelo igualitário atraiu muitas pessoas, especialmente nas comunidades mais pobres. "No Brasil, a mensagem era: 'Você pode se tornar pastor, mesmo que não saiba ler ou escrever, porque o poder do Espírito Santo vai te guiar'", conta.

Reserva de missionários na América Latina

A expansão desse movimento foi significativa, e, em 2002 e 2003, líderes começaram a ver os perigos de enviar missionários americanos para regiões de conflito, como o Afeganistão. "Houve muitos casos de assassinatos, e os líderes se perguntavam o que fazer. Foi quando perceberam que tinham um 'exército' não utilizado na América Latina. Decidiram enviar latino-americanos, pois eles não eram alvos de ataques como os americanos", explica Adriana.

Após o atentado de 11 de setembro de 2001, o cenário se tornou ainda mais arriscado para os americanos. "O campo ficou muito perigoso, e então começaram a enviar latino-americanos em massa para o Oriente Médio e a Ásia", acrescenta. Os missionários latino-americanos, sem depender de grandes recursos, encontravam maneiras de se sustentar. "Eles não precisavam do dinheiro das igrejas americanas para sobreviver. Arranjavam o que fazer por lá", comenta.

O trabalho missionário, no entanto, é cercado de complexidades. No Afeganistão, por exemplo, a maioria dos convertidos eram hazaras, uma minoria étnica e religiosa historicamente perseguida pelos talibãs. "Os talibãs são de etnia pashtun, enquanto os hazaras são uma minoria xiita. Eles são historicamente massacrados e perseguidos", diz Adriana. Ela não tem dúvidas de que parte das conversões acontece por necessidade de segurança, ajuda humanitária e pelo sentimento de estarem sendo abandonados por seus próprios irmãos de fé. "Os irmãos muçulmanos estão me matando, estão me perseguindo", relata.

Pobreza no Afeganistão não assusta brasileiros

Um outro fator curioso quanto à facilidade de adaptação dos missionários brasileiros em zonas de conflito é que a realidade de violência e pobreza no Afeganistão não choca tanto os missionários brasileiros quanto os americanos. "A pobreza no Afeganistão não é tão chocante para o brasileiro como é para os americanos. A própria violência também não assusta tanto. O Brasil, em termos de assassinatos, é o país com o maior número", ressalta Adriana. Em comparação, segundo ela, o Afeganistão, em números, é mais seguro do que o Brasil.

Além do Oriente Médio, muitos missionários brasileiros tais como os que compõem a família central do livro de Carranca passam a ver a crise dos refugiados como uma oportunidade para evangelizar na Europa. "Viram isso como uma bênção", explica a jornalista. 

Para esses missionários, tudo faz parte de um plano maior. "Para eles, tudo era um plano de Deus desde o começo", conclui Carranca.

De Belém para Milão, estilista Val Valadares apresenta moda amazônica contemporânea
14 September 2024
De Belém para Milão, estilista Val Valadares apresenta moda amazônica contemporânea

De Belém para a Semana da Moda de Milão, a estilista Val Valadares esperou mais de 25 anos pela realização de um sonho antigo: mudar a cara do Pará a partir das roupas. Ela sempre quis saltar do folclórico regional para o cosmopolitismo carregado de ancestralidade e alta qualidade. No início deste ano, foi escolhida para formar a Cápsula Marajó, iniciativa que deve ser pontapé inicial do polo de moda da capital paranese e que ganhou espaço em uma das principais semanas de moda do planeta, na Itália. 

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Brasília

Val chegou ali por uma série de coincidências e por estar nos lugares certos, na hora certa – mas jamais terá sido por acaso. Por insistência de uma amiga, inscreveu-se em cima da hora em um curso de capacitação do Sebrae e, desde então, seu trabalho de anos ganhou visibilidade. Perguntada sobre quando começou a costurar, Val diz que é como se o fizesse desde que nasceu.

Neta de artesã, aos quatro anos já costurava as roupas das próprias bonecas, que fazia desfilar em uma tábua que equilibrava entre açaizeiros na comunidade quilombola onde cresceu. Val sonhava grande, mas não tinha ideia do que era empreendedorismo. Foi alfabetizada aos 13 anos.

"Aos 14 anos, quando eu fiz a minha primeira peça de roupa, eu tive certeza que era isso que eu queria fazer a vida inteira”, conta.

Ela garante lembrar-se como se fosse hoje de cada detalhe do modelo. Era uma blusa vermelha e branca listrada com um laço vermelho no bolso que promete replicar em breve. Autodidata, Val imagina uma peça e vai trabalhando diretamente o tecido.

O que produz são peças diferenciadas, contemporâneas, inspiradas na cena amazônica que viu desde a infância. A coleção uirapuru tem as linhas garça, guará, sururina, bicho-chato e marreca.

"Montei o meu primeiro ateliê aos 25 anos, quando eu mudei para um projeto da vale do Rio Doce, no interior do Pará, chamado mineração Rio do norte, em Oriximiná. Foi quando eu realmente me empenhei em fazer peças, mesmo sendo desacreditada pelas pessoas que me procuravam, devido a minha aparência de menina”, acha graça.

Quando chegavam no ateliê, as potenciais clientes perguntavam onde estava a sua mãe. Com 1,5m de altura, era magrinha e tinha jeito de adolescente. "Mesmo assim, consegui provar que era capaz de trabalhar com moda. De lá para cá, eu não parei mais”, diz.

Anos mais tarde, de volta a Belém, aumentou a clientela, sobretudo depois de desenhar peças medievais a pedido de uma menina de boa família que organizava seu trabalho de escola, uma peça de teatro. Recebeu o pagamento em um saquinho de dinheiro, com as moedas e notas picadas que a autora conseguira arrecadar pela entrada. Tirou nota máxima. Era a primeira vez Val que fazia roupas estilizadas – passou para o tecido o que a menina colocou no papel.

A estilista não parou nem quando teve o primeiro filho, aos 41 anos, até que veio a pandemia, que a obrigou a fechar o ateliê, mas não a paralisar suas atividades. Dedicou-se a peças casuais e leves e chegou a fazer 60 kaftans em uma única semana. Manteve ateliê em casa, e, quando a situação melhorou, tinha 10 costureiras trabalhando com ela. 

No desfile de 20 de setembro, no Museo della Scienza, na Meca da moda italiana, vai contar a história do caso de amor do Padre Giovani Gallo com a Amazônia, onde o sacerdote atuou desde a década de 1970 até morte, no ano passado. A coleção que Val vai apresentar aos italianos tem o nome dele.

Em seus projetos sociais, Padre Giovani Gallo ficou conhecido como "o padre marajoara": ajudou a transformar as tramas marajoaras das cerâmicas encontradas em escavações em pontos perfeitos com que as bordadeiras pudessem trabalhar.

“Estou colocando na passarela o desejo de um padre italiano, que vai ser representado por uma evangélica brasileira", afirma.

Moda paraense tipo exportação

A coleção se baseia na história dele e nas roupas que usava. Será uma releitura de batinas em kaftans e quimonos, um estilo “mais litúrgico”, como explica a estilista. "A coleção Giovanni Gallo é uma moda leve, simples, onde quem vai protagonizar é o grafismo, motivos marajoaras nos quais ele se empenhou tanto”, diz.

Desde aquele primeiro curso de capacitação no Sebrae, para o qual foi escolhida com outras 10 empresas, Val quase não acredita na velocidade de sua trajetória. O próximo passo é exportar.

Até chegar à Europa, no final do mês, pretende estar 100% pronta para vender no exterior moda sustentável: nada de sintético, só algodão. Parte do grafismo de suas blusas fica por conta dos botões que mandou fazer sob encomenda com pau Brasil reciclado. Foi assim que foi descoberta pela Brasil Eco Fashion Week.

"Espero que esse desfile possa me dar espaço para eu contar não só para a Itália, mas para todos os outros países da Europa, a riqueza do nosso bordado, do nosso grafismo, a história linda do padre Giovanni Gallo. Que os italianos possam conhecer esse italiano mais paraense do que muitos paraenses”, garante.

O sonho de Val agora é ter um ateliê-escola no qual possa ensinar o povo paraense a fazer moda com qualidade. Hoje, emprega 18 costureiras independentes, que produzem só para ela.

"Eu desejo muito mudar a cara do Pará com relação à produção de moda. Mesmo que não vá ser grande polo de moda, ou referência, mas que seja moda com qualidade.”

Museu da Suíça realiza exposição com obras-primas do modernismo brasileiro
08 September 2024
Museu da Suíça realiza exposição com obras-primas do modernismo brasileiro

Pela primeira vez, o modernismo brasileiro vai ser tema de uma exposição em um museu da Suíça. O renomado “Centro Paul Klee” (Zentrum Paul Klee), de Berna, abriu as portas, no sábado (7), para “Brasil! Brasil! O nascimento do modernismo”, exposição que tem como uma das curadoras a brasileira Roberta Saraiva Coutinho, que falou com a RFI. 

Valéria Maniero, correspondente da RFI em Lausanne

Roberta Saraiva Coutinho conta que a ideia surgiu depois de uma exposição do Centro Paul Klee no Brasil, antes mesmo da pandemia. A surpresa com a boa recepção do público fez com que a curadora-chefe do museu, Fabienne Eggelhoefer, fosse ao país e tivesse contato com a pintura moderna brasileira. 

“É importante falar que o Centro Paul Klee é um museu dedicado a um artista que é um grande expoente do modernismo mundial. Também é um museu que vê o modernismo de forma bastante ampla, o modernismo global. Quando ela chega ao Brasil e vê o modernismo brasileiro, ela pensa, 'como essas obras não são conhecidas na Europa?' Gostaríamos de fazer essa exposição", conta Roberta Saraiva Coutinho. 

A curadora explicou que foram mais de cinco anos de trabalho, “olhando essas obras do Brasil, conhecendo o modernismo brasileiro e preparando esse projeto que agora chega em Berna”. 

O que os visitantes vão encontrar 

Roberta explica quem são os representantes do modernismo presentes na exposição e que foi "duro" fazer a seleção.

“Foi uma escolha dura. Fazer uma exposição é sempre fazer uma escolha. Então, o que pensamos e, sobretudo, a Fabienne, com um olhar muito dedicado ao público suíço, foi escolher dez artistas, se debruçar sobre a obra deles, para  poder mostrar um pouco mais sobre a obra de cada um", diz.

"A gente começa com um conjunto de artistas que estão consagrados no cânone modernista brasileiro: Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e, claro, Candido Portinari. Depois, os que vêm de uma espécie de segunda geração, aqueles que só posteriormente foram incluídos no cânone. E aí a gente tem um conjunto importante de obras do Flávio de Carvalho, do Volpi, da Djanira, do Rubem Valentim e do Geraldo de Barros”, descreve a curadora. 

“Um velho amigo na parede de um museu”

Quem visitar o Centro Paul Klee “vai ter essa sensação linda, que é quase como encontrar um velho amigo na parede de um museu da Suíça”, diz Roberta.

“É uma exposição muito emocionante: o conjunto completo e esse passeio pela obra de cada artista."

A importância de uma exposição como essa

Roberta, que também é diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, falou com a RFI sobre a importância de ter uma exposição sobre o modernismo brasileiro num museu na Suíça.

“Eu carrego esse desejo muito grande de ver o Brasil brilhando no exterior. Então, sempre, minha carreira tem sido dedicada a esses intercâmbios para fora e para dentro do Brasil. Nesse sentido, a primeira alegria é ver o Brasil escrito no Centro Paul Klee”, afirma.

Mas, além disso, ela diz que “a gente sabe que a arte brasileira tem sido pouco vista fora do Brasil”.

“Então, acho que é uma oportunidade maravilhosa poder trazer para o público suíço esse conjunto de obras que são, de fato, obras-primas do nosso modernismo”, diz. 

Segundo Roberta, o grande idealizador e organizador é o Centro Paul Klee, “que inventou toda essa história maravilhosa”. Mas, como o projeto é feito em colaboração com a Royal Academy of Arts, de Londres, ela também vai receber a mostra.

“É uma trajetória muito bonita, porque a gente tem a chance de expandir para o público londrino. Uma oportunidade maravilhosa poder disseminar esse conjunto de obras e mesmo a imagem do Brasil no exterior”, comemora.

Muita gente envolvida

Roberta explica que uma exposição como essa não é feita com pouca gente. Também contou com a presença e o apoio de uma quantidade enorme de instituições. 

“Você imagina cada primeira visita, cada conversa. A gente conta com um catálogo, com especialistas. Você pode imaginar a quantidade de pessoas envolvidas direta e indiretamente em um projeto como esse e de instituições nacionais, o próprio ministério, instituições na Suíça”, enumera.

O modernismo brilhando fora do Brasil

De acordo com a curadora, o “mais bonito de tudo é poder ter um projeto em que a gente mostre o Brasil na sua máxima potência”.

“O modernismo brasileiro, enfim, está brilhando na Suíça e a gente consegue mostrar essas obras para um público mais amplo, que teve pouca oportunidade de ver. Mas, sobretudo, é um projeto que conta com a participação de muita gente. Então, é quase um prestígio em cascata. Para mim, é uma grande alegria”.  

A exposição “Brasil, Brasil! O nascimento do modernismo” vai até 5 de janeiro no Centro Paul Klee. Interessados podem comprar as entradas para a mostra no site do museu

 

Pescador brasileiro leva história de amizade com pinguim a Hollywood
31 August 2024
Pescador brasileiro leva história de amizade com pinguim a Hollywood

Pinguins não são bichinhos de estimação, não é possível adotar um deles. Mas, nessa história, foi um desses animais - de andar apaixonante - que, bendizer, adotou um pescador. Uma trama inusitada, de uma amizade extraordinária, que viralizou e chamou a atenção de produtores de Hollywood, que levaram às telas o enredo inspirado em fatos que aconteceram no Brasil.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

"Meu Amigo Pinguim" chega às telas com a direção de David Schurmann e elenco multinacional. Filme já está em cartaz nos EUA e na França. A data de estreia no Brasil é em 12 de setembro

"Tô muito feliz de levar o Brasil para o mundo com essa história. Nós estamos lançando nos Estados Unidos no país inteiro. Esta, acredito, vai ser uma das histórias brasileiras mais vistas nos cinemas americanos. Fico muito orgulhoso de ser brasileiro, de contar essa história brasileira e levar o Brasil para o mundo com uma história muito bonita e com uma mensagem também sobre o meio ambiente, que eu acho que o Brasil tem esse papel tão forte e tão importante", contou o diretor David Schurmann à RFI.

A história de amor de Seu João Pereira de Souza e do pinguim teve início em 2011, quando a ave chegou na Ilha Grande (município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro). O animal muito debilitado e cheio de óleo foi encontrado na praia de Provetá, o pescador o levou para casa, deu banho, comida e muito amor e carinho. Mas, isso foi só o começo de uma amizade inusitada: o pinguim ganhou o nome de Dindim, e assim como todo amor incondicional que tem laços fortes, sobreviveu à liberdade e à distância.

Seguindo a premissa de que o bom filho à casa torna, Dindim, nas suas viagens de inverno - já que os pinguins migram durante essa época do ano do extremo sul da América do Sul para o Brasil em busca de águas menos gélidas - retornou durante oito anos seguidos para visitar o amigo em Angra dos Reis.

A amizade viralizou e chamou a atenção de produtores norte-americanos, que contrataram o brasileiro David Schurmann para dirigir o filme. Conhecido por "Pequeno Segredo", filme indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar de 2017, aos 13 anos Schurmann começou a demonstrar sua paixão pelo cinema ao filmar as aventuras a bordo do veleiro de seus pais, durante a primeira volta ao mundo da família Schurmann, o que o conecta ainda mais com essa história.

"Eles falaram, nós temos essa história, a gente quer fazer uma ficção, mas vai ser em inglês. Perguntei onde queriam filmar e disseram que seria na Espanha, um lugar completamente fora. Eu falei 'não, precisamos filmar no Brasil, essa história é brasileira'. Tudo bem filmar em inglês, porque eles tinham pesquisado e não havia atores mundialmente conhecidos na idade que precisavam, mas eu falei: vamos fazer no Brasil e acabamos filmando a maior parte em Ubatuba", relembra o diretor.

Estão no elenco os brasileiros Pedro Urizzi, Thalma de Freitas, a argentina Alexia Moyano, e nos papéis principais a atriz mexicana indicada ao Oscar, Adriana Barraza, e o francês Jean Reno, que contou que achou a história muito tocante.

"Eu gosto do fato de que um animal tem uma alma, de alguma forma, e pode me salvar da minha solidão, da minha dor. No filme falamos sobre preservar os animais, preservar o mar e não destruir o planeta. Nós temos muitos objetivos com esse filme e como humanos temos muitos objetivos, e queremos viver juntos, essa é a ideia", contou o ator francês.

Os pinguins

Para fazer o papel de Dindim vários pinguins de verdade se revezaram, mas alguns robôs e a tecnologia também entraram em cena.

"A gente usou todas as técnicas, a gente se resguardou. Quando eu encontrei o Fabian Gabelli, que foi o treinador de pinguins, um cara que se comunica com pinguins, ele me disse: o pinguim faz tudo. Eu não sei se acreditei imediatamente. A gente sempre sabe: 'não faça filme com crianças, animais e na água', que são os três perigos maiores. E a gente tinha os três nesse filme. Então eu falei, vamos garantir também ter animatronics, robôs, pinguins digitais para o que não for possível fazer com robôs, e foi isso que aconteceu", detalha.

"Mas a gente conseguiu utilizar em 80% do tempo pinguins reais e foi incrível. Por mais que tenha sido um desafio, foi absolutamente lindo filmar com pinguins reais porque eles são muito inteligentes. Para a nossa sorte, em Ubatuba, tem o Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha e o aquário que resgatam pinguins que vem parar na costa brasileira, nessa época do ano. Eles resgatam, alimentam esses pinguins e os devolvem para o mar. Há alguns pinguins que eles não conseguem devolver, que os que têm problemas na asa, por exemplo, e foram esses pinguins que a gente acabou usando no filme", conta Schurmann.

Algumas cidades brasileiras já tiveram pré-estreias e outras acontecerão nas próximas semanas. Mas, "Meu Amigo Pinguim" chega oficialmente aos cinemas do país em 12 de setembro com muito da história do Seu João, mas também liberdade cinematográfica.

"Esta é uma história baseada em fatos. Como toda ficção baseada em fatos, a gente toma uma liberdade artística. O Seu João, por exemplo, tem uma história com o filho dele que é diferente um pouco da nossa, a gente comprimiu o tempo, a gente toma essas liberdades. Mas eu acredito que está muito fiel dentro da história, principalmente da amizade do Seu João e do Dindim. Se você procura na internet, você vai ver os vídeos de verdade e se assiste ao filme, a proximidade é muito grande das duas histórias", finaliza o diretor.

Conheça o trabalho da brasileira que é finalista do prêmio Medalha de Educação da América Latina
25 August 2024
Conheça o trabalho da brasileira que é finalista do prêmio Medalha de Educação da América Latina

Dois brasileiros, Tatiana Klix, diretora-executiva e fundadora do Instituto Porvir, e Jair Ribeiro, fundador e presidente da Parceiros da Educação, estão entre os finalistas da premiação criada pela T4 Education e pela HP, que realiza este ano sua primeira edição na América Latina. A medalha reconhece o trabalho de pessoas que impactam positivamente a educação na região. A RFI entrevistou a jornalista Tatiana Klix, que há 15 anos atua neste setor.

Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

As indicações para a Medalha de Educação da América Latina (Latin America Education Medal) foram abertas em fevereiro de 2024 para pessoas que trabalham para melhorar o ensino nas diferentes etapas da escolarização, desde o pré-escolar até o ensino superior. Podem ser educadores, gestores, líderes da sociedade civil, funcionários públicos, autoridades governamentais, empreendedores ou empresários.

A premiação é uma das três Medalhas da Educação Mundial, criadas pela T4 Education e pela HP, e se junta à Medalha de Educação da África, fundada em 2022, e à Medalha de Educação da Ásia, que também foi lançada este ano. 

"A Medalha de Educação da América Latina homenageia os agentes de mudança onde a mudança é mais necessária. Onde as lacunas de aprendizado persistem em realidades de profundas desigualdades. Se quisermos enfrentar esses desafios colossais e desbloquear o futuro do continente, precisamos construir uma comunidade de líderes de todas as esferas da sociedade comprometidos com a transformação educacional.", disse em um comunicado Vikas Pota, fundador e CEO da T4 Education.

Entre os finalistas da premiação na América Latina, estão profissionais de países como México, Colômbia, Equador, Uruguai e Chile, além dos brasileiros Tatiana Klix, diretora executiva e fundadora do Instituto Porvir, e Jair Ribeiro, fundador e presidente da Parceiros da Educação.

Comunicação em benefício da educação

Com mais de 15 anos de carreira dedicados à cobertura da educação no Brasil, Tatiana Klix foi uma das responsáveis por transformar, em 2019, a plataforma jornalística Porvir em uma organização independente que tem a missão de impulsionar transformações que garantam qualidade, equidade e contemporaneidade na educação brasileira.

“A gente acredita que isso acontece repensando o modelo de escola, as maneiras como as pessoas ensinam, como as pessoas aprendem, os tempos, os espaços, as abordagens, os diálogos, a organização da escola e também as relações dentro da escola. A gente acredita que precisa de uma transformação profunda que demanda criatividade e que demanda inovação.”, explica Tatiana.

A plataforma, que continua mapeando as tendências e políticas educacionais brasileiras, é livre e gratuita para professores, gestores e para todas as pessoas que se preocupam com educação. Além da produção de conteúdos especializados, o portal oferece atividades práticas e dicas para professores em sala de aula, sempre com o objetivo de promover a reflexão sobre a educação brasileira.

Outra vertente desse trabalho ocorre na Agência de Soluções do Instituto Porvir, que cria estratégias de comunicação, conteúdo, experiências e plataformas digitais para apoiar os educadores e empresas que desenvolvem projetos educacionais.

“Nós somos uma equipe de comunicadores, principalmente. Nós não somos educadores, a gente trabalha a comunicação a serviço da educação. Como que a comunicação contribui para essa transformação, fazendo essas mensagens e esses conteúdos chegarem mais longe e de uma forma mais atrativa, mais objetiva e mais mobilizadora.”, diz a jornalista.

Premiação forma rede de profissionais preocupados pela educação na América Latina

A Medalha da Educação da América Latina proporciona o intercâmbio de ideias entre os finalistas, que atuam em diferentes áreas relacionadas com o universo educacional.

María Victoria Varela, do Uruguai, é professora e vice-diretora de uma escola localizada em Montevidéu. Ela acompanha cerca de 200 alunos com deficiência e dificuldades de aprendizagem severas em suas jornadas educacionais, garantindo a inclusão no ensino regular.

Já o mexicano Leo Schlesinger é ex-CEO da Aliat Universidades, um grupo de sete instituições de ensino superior que atua em 13 estados do México. Schlesinger foi pioneiro em abordagens de aprendizado personalizado, com melhorias significativas no desempenho, retenção e taxas de graduação dos alunos.

Os vencedores das Medalhas da Educação Mundial serão anunciados no dia 17 de outubro. Eles serão convidados a participar Cúpula Mundial das Escolas, em Dubai, nos dias 23 e 24 de novembro. No entanto, além do reconhecimento internacional, a premiação possibilita a criação de uma rede de líderes comprometidos com a transformação da educação em toda a região.

“É uma oportunidade ótima a gente se conectar com esses líderes. A gente vai poder trocar e prestar mais atenção nas soluções que estão sendo criadas nesses países. Tudo é aprendizado e tem soluções que podem ser observadas, modificadas e podem surgir inspirações muito interessantes a partir de contextos onde temos desafios comuns”, finaliza Tatiana Klix.

Conheça os outros finalistas da Medalha de Educação da América Latina 2024:

● Arturo Condo, presidente, Earth University, Costa Rica

● Darío Álvarez Klar, fundador e CEO, Itínere Education Network, Argentina

● Freddy Vega, CEO e fundador, Platzi, Colômbia

● Jair Ribeiro, presidente, Parceiros da Educação, Brasil

● Juan Pablo Mena, CEO, uPlanner, Chile

● Leo Schlesinger, ex-CEO da Aliat Universidades, México

● Marcela Suárez, diretora de Projetos, Escola Johannes Kepler, Equador

● María Victoria Varela, professora e diretora adjunta, Escola 240 Paul Harris, Uruguai

● Tatiana Klix, diretora executiva, Porvir, Brasil

● Verónica Cabezas, diretora executiva, Elige Educar, Chile

Escritoras brasileiras lançam livros em Los Angeles e compartilham experiências como imigrantes
24 August 2024
Escritoras brasileiras lançam livros em Los Angeles e compartilham experiências como imigrantes

Neste sábado (24), escritoras brasileiras, cada uma com a própria jornada e vivência como imigrante, unem suas vozes, em Los Angeles, para celebrar o Dia Nacional da Latina. Além de ser um evento dedicado à troca de experiências fora do país natal, cinco mulheres brasileiras lançam seus livros em uma das mais conhecidas livrarias da cidade, a Barnes & Noble, do shopping The Grove. As publicações abordam temas como autoconhecimento, superação, saúde, busca por identidade e há até ficção de terror, inspirada em uma experiência de ser babá nos Estados Unidos.

Este é o terceiro ano que a editora WeBook Publishing, criada pela catarinense Ana Silvani, promove este evento com lançamentos durante as comemorações do Dia Nacional da Latina. Ana, por encontrar dificuldades para lançar seus próprios manuscritos, criou um selo editorial para apoiar seus sonhos e de outras escritoras imigrantes.

"Há três anos, a Webook é a ponte que conecta autores e leitores a esse novo espaço, agora ocupado por outras mulheres que se uniram a mim e estão contando as histórias delas para o mundo e isso é lindo, isso não tem preço", contou Ana à RFI.

Um dos lançamentos desta edição é "Change", escrito pela atriz Daniela Escobar, que mora há quase duas décadas nos Estados Unidos. Conhecida por fazer novelas como "O Clone", "América" e a minissérie "A Casa das Sete Mulheres", Daniela relata na publicação a experiência de mudar de país e se reinventar.

"Eu narro minha vida, como cheguei aqui, por que escrevi este livro, por que eu meio que mudei de profissão, mudei de país. Eu não larguei minha carreira, mas se você sai do seu país, da sua língua e vai para outro, e fica anos aprendendo só a língua e não trabalha naquilo, os rótulos vêm, as cobranças vêm e tudo faz parte das mudanças", diz Daniela. O livro "Change", segundo ela, abre a cabeça das pessoas para a possibilidade de viver algo novo e melhor.

A mudança de Daniela foi além, pois ela também se tornou terapeuta de saúde, nos Estados Unidos, depois de receber um diagnóstico de câncer em estágio 4, há sete anos. Ela transformou o modo de vida e agora compartilha o que a curou.

"Foram vários fatores, eu fui separando nas caixinhas à medida que eu fui aprendendo sobre isso, estudando. O desejo hoje é levar esse conhecimento para as pessoas. A gente altera quimicamente o nosso organismo, isso causa inflamação. No meu caso era a comida, eram os doces, o açúcar, o excesso, o emocional, tudo junto, tudo misturado. Eu conto algumas coisas. É voltar para a avó, pensar que tudo que é natural e fresco, é o que nos nutre, nos protege. Tudo que não é fresco, que é congelado, industrializado, encaixotado, engarrafado é bom só para o bolso de quem vende", fala a escritora.

Patricia East, que trabalha como executiva de recursos humanos e com formação de líderes, compartilha a experiência como imigrante com o título "Passport to Growth". O livro traz dicas para expatriados se inspirarem e buscarem seus próprios caminhos para o sucesso.

Já a jornalista Larissa Rinaldi, autora de "City Echoes", traz uma coleção de textos sobre as lições vividas e aprendidas em cinco anos de moradia em Nova York.

"São textos curtos, alguns são muito intensos, alguns são de humor. É sobre como é que a gente lida com essas emoções, com as questões que a gente também não tem muito controle. A vida do imigrante é não ter muito controle. Esse limbo pois não sou nem americana, nem estou mais tão integrada na nossa sociedade, na nossa cultura", diz Larissa.

Ficção e autoestima

Foi em uma noite cuidando de um bebê que veio a inspiração para "The Baby Seeker", uma ficção de terror, que já se transformou em um curta-metragem e agora vira livro, escrito pela atriz Deborah Liss. Ela trabalha como babá para pavimentar seus sonhos na terra do Tio Sam e foi daí que veio também a inspiração para o enredo.

"Eu estava trabalhando como babysitter de noite, e o bebê já estava dormindo. Eu estava no meu celular na sala e de repente, sabe quando a bateria de um brinquedo está acabando? O brinquedo começa a tocar, eu demorei para encontrá-lo, mas desliguei e voltei para o sofá. Mas logo antes de eu sentar no sofá, o brinquedo tocou de novo. Aí eu pensei, 'imagina se eu estou aqui e tem alguma presença aqui comigo? Ao invés de eu ficar com medo da situação, comecei a criar uma história e escrever", relembra Deborah.

Viviane Williams, autora de "Dress Yourself", faz uma ponte entre estilo, bem-estar e autoconhecimento. Ela usa a psicanálise e a consultoria de imagem para melhorar a autoestima e buscar a essência de cada um.

"Ao escrever o meu livro, eu quis trazer essa visão, mostrando como vestir-se pode ser um processo de dentro para fora que envolve não só nossa mente mas o nosso corpo e principalmente o nosso coração, onde estão ali os nossos valores e os nossos princípios", destacou Viviane. É dessa forma que ela encara a jornada como imigrante, o que lhe permitiu compreender de uma forma muito única as complexidades de viver entre culturas e como isso pode influenciar a maneira como nos vemos e como nós nos apresentamos ao mundo, afirma a consultora de estilo.

Além de Los Angeles, os lançamentos também vão acontecer em São Francisco, no próximo dia 30, e em Nova York, nos dias 20 e 21 de setembro.

Brasileira de Duque de Caxias é candidata no concurso Miss Universo Suíça
17 August 2024
Brasileira de Duque de Caxias é candidata no concurso Miss Universo Suíça

A brasileira Bárbara Suter, de 33 anos, de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, é uma das candidatas do concurso Miss Universo Suíça 2024. A modelo de olhos verdes, cabelos castanhos e 1,75 m de altura não só atende as exigências da competição, como vai além, quebrando estereótipos: Bárbara é formada em medicina veterinária no Brasil, está fazendo mestrado na área na Suíça, fala cinco idiomas e trabalha numa clínica veterinária.

Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

Bárbara é filha de uma brasileira e de um suíço, nascida e criada em Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro. Sua mãe era passista da Vila Isabel e da Grande Rio. Ela mora atualmente com o pai no cantão de Schwyz, na Suíça, para onde se mudou em 2017 para fazer mestrado.

“Eu me formei em medicina veterinária, fiz bacharelado no Brasil, e decidi vir para cá para poder finalizar um dos meus grandes sonhos na área da medicina veterinária: fazer um mestrado. Decidi juntar o útil ao agradável”, conta à RFI.

O concurso Miss Universo Suíça será realizado em setembro. Se ganhar, Bárbara representará o país na edição global, que será no México.

“Eu me inscrevi. Você recebe a resposta, falando que em tal dia, tal hora tem que aparecer para uma um casting, que é uma pré-seleção, como se fosse uma peneira. Lá, você é entrevistada, faz fotos, conversa com a diretora (Lina Poffet)", explica à RFI.

"Passei, graças a Deus, na primeira fase. Depois você participa de um desfile de biquíni, vestido de gala, e é reavaliada. Dois ou três dias depois você recebe um retorno, dizendo se realmente é finalista ou não. Eu fui escolhida. No total, somos em torno de 20 meninas da Suíça, todas selecionadas para essa grande final”, diz.

Voz e atitude

Bárbara acha que uma miss ou candidata à coroa deve “ter uma voz, uma atitude”.

“Eu acho que nós, concorrentes e futuras misses, temos que mostrar esse nosso lado intelectual, através das nossas opiniões, tentar mudar um pouquinho o pensamento da sociedade em relação a tudo o que esse mundo miss abrange, porque acho que vai além da beleza", defende.

"A gente também é profissional. Eu, por exemplo, já estou atuando na minha área da veterinária. Então, consigo conciliar o concurso com a minha vida profissional”, explica.

Se depender dela, a inveja, o estresse e a competição acirrada que já viu em outros concursos devem ficar de lado.

“Acho que a gente precisa deixar tudo isso para trás. Tem aquela questão da sororidade entre as mulheres. Eu queria muito que continuasse, independentemente de ser uma competição. Minha maior rival sou eu mesma, não é a menina que vem da parte francesa ou da parte italiana da Suíça. Tenho que ser melhor do que ontem, melhor do que hoje, para amanhã eu conseguir dar a minha melhor versão. Espero que seja um concurso tranquilo”, diz.

Ela admite que está ansiosa e “claro que espera ganhar”. Mas se não der, paciência. “Não vai ser o fim do mundo, óbvio. Acho que isso não resume quem eu sou, se eu perder, e quem eu irei ser”, afirma ela, que espera que a família toda esteja lá, incluindo a mãe, Dona Lecy, que mora no Brasil, os amigos e o namorado.

“A ansiedade e o coração estão batendo forte”, reconhece. 

Entre a passarela e a clínica veterinária

O dia a dia da Bárbara é intenso, que divide a vida de modelo em eventos, com o trabalho na clínica veterinária. “Eu não vou dizer que é estressante, porque foi um caminho que escolhi. São coisas que eu amo fazer", afirma.

Ela também arranja tempo para encontrar os amigos, tentar ir a algumas festas brasileiras – para ela, a cultura tem que estar presente, independentemente de onde esteja.

Bárbara gosta de estar rodeada dos amigos, da irmã, do pai, que estão na Suíça, “esses pequenos grandes detalhes”, diz. Também sente muita falta da mãe, que mora no Brasil.

Ela diz que ama comida brasileira, “uma das minhas maiores saudades”. “Eu não me privo de experimentar coisas ou de me alimentar bem com as coisas que eu gosto, porque acho que se você pensar só em emagrecer, te privar de tanta coisa, vai te trazer algum malefício. Se não for físico, vai ser mental”, diz ela, que treina em academia.

Quando olha para o futuro, Bárbara afirma que, daqui a alguns anos, gostaria de ter a própria clínica veterinária e ter a formação de cirurgiã, “quem sabe cirurgiã cardiologista”.

“Eu sei que é muita coisa, mas a vida é uma só, então, eu quero dar o máximo para conquistar os meus sonhos. Ah, e que também eu ganhe o Miss Universo Suíça 2024, que eu vá para o México, em novembro, e quem sabe ganhar o Miss Universo 2024”, diz otimista.

Saudades da terrinha

Quando o assunto é Brasil, ela diz que sente muita falta da espontaneidade dos brasileiros, do calor humano, que é “inigualável”.

“Aqui, se eu tiver que ligar e marcar alguma coisa com um amigo, vamos ver na agenda para daqui a um mês. No Brasil é: vamos? Vamos! Também dos amigos, das praias, principalmente no Rio", diz. "O Brasil faz parte da minha personalidade. Então, não tem como apagar isso, nem quero mudar nada disso, pelo contrário, vou carregar para sempre”.