Marcelo Macedo apresenta em Lisboa "Cross Roads", com reflexões sobre formas e sustentabilidade
27 October 2024

Marcelo Macedo apresenta em Lisboa "Cross Roads", com reflexões sobre formas e sustentabilidade

Brasil-Mundo
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Marcelo Macedo, artista carioca, apresenta sua nova exposição intitulada "Cross Roads" na Galeria Eritage, em Lisboa. Conhecido por seu estilo que combina formas geométricas e reutilização de materiais, especificamente madeiras e objetos descartados, Macedo traz à tona questões relevantes sobre a interseção de culturas e a responsabilidade ambiental na arte contemporânea, além de uma nova ótica sobre o autoconhecimento.

Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal

“Dentro do meu trabalho existe este lugar “de estar perdido”, como uma encruzilhada. Estar perdido e ter caminhos para trilhar. É como se estivéssemos em um mato fechado e sem caminho. Temos que encontrar uma trilha através da intuição e da ação. Vou desbravando, é como se fosse um mergulho para dentro de mim mesmo. Aprendi que você só encontra a trilha quando olha para trás e descobre que já percorreu tudo isso, descobre o caminho que fez até ali”, diz.

A exposição "Cross Roads”, a primeira mostra individual do artista na Europa, reúne uma coleção de obras que refletem a identidade urbana e a diversidade cultural, características marcantes da trajetória artística de Macedo. Usando formas geométricas, ele cria padrões que transmitem uma sensação de ordem e reflexão, ao mesmo tempo que dialogam com a estrutura das cidades e de rituais.

Segundo ele, a geometria tem muito a ver com a vertigem que “engana o olho”. “Eu fiquei com uma espécie de obsessão em querer mostrar que o tempo de observação do trabalho não é o mesmo tempo de observação da vida corrida do dia a dia. Eu gosto de um outro tempo. A padronagem que escolho está cumprindo esta função de fazer o olho circular pelo trabalho, de compreender a imagem”, explica o artista.

Além do uso estético das formas, Macedo se destaca pela prática de dar nova vida a materiais descartados, incorporando madeiras e outros objetos em suas criações. Esta abordagem transforma o que seria considerado lixo em peças de valor artístico e funcional, inserindo uma narrativa profunda sobre consumo e ressignificação.

“Faço uma análise sobre uma sociedade de consumo excessivo. Eu me vejo produzindo muito lixo e isso me incomodava. Foi então que comecei a mudar meu comportamento ao fazer compras no supermercado, por exemplo. Compro um vidrinho que sei que depois vou reutilizar. Ou seja, ja não é um sentimento só de consumo pois vou consumir, mas depois vai virar outra coisa. Isso pra mim já é uma revolução e já se tornou uma revolução na minha vida”, afirma.

Valorizar artistas emergentes

O carioca João Cavalcanti, dono da galeria Eritage e curador da mostra tem desempenhado um papel fundamental na valorização de artistas emergentes e na promoção de diálogos culturais. Em “Cross roads”, Cavalcanti trabalhou lado a lado com Macedo.

Segundo ele, essa experiência em Lisboa foi diferente de todas as outras. “ O que estou vivenciando qui eu ainda não tinha tido na minha trajetória, pois não foi apenas uma residência e sim o preparo de uma exposição individual em Lisboa. O convite do João veio em julho e desde então começamos a montar uma estratégia de utilização do espaço da galeria. Foi uma troca muito grande com o João”, explica o artista.

 

 

Segundo Macedo, esse foi um trabalho a quatro mãos. “O João começou a catar coisas pela rua. Ele já tinha este espírito, sempre gostou de móveis antigos e acho que isso até o aproximou do meu trabalho. Foi tudo a quatro mãos. Eu precisei muito do João para formular o que dava para fazer”, afirma o artista.

Para o galerista carioca, João Cavalcanti, “Cross Roads”, foi um genuíno encontro de caminhos.“ Me dá muito prazer participar deste processo. As residências artísticas são um pilar muito importante dentro da galeria.  O que mais me marcou neste projeto é a beleza dos caminho cruzados. Não conseguimos ter o controle da vida. Temos que usar e confiar nos nossos instintos e acreditar que quando os caminhos se cruzam existe algo muito mais poderoso, permitindo que ele se cruze e se materialize. O que marca para mim no “Cross Roads” é esta simbologia representada através do trabalho do Marcelo em forma de exposição”, explica Cavalcanti.

A jornada artística de Marcelo Macedo é marcada por uma evolução contínua e um compromisso com a inovação. Desde suas primeiras exposições no Brasil, ele se firmou como uma voz importante na cena artística contemporânea. “Cross Roads” não é apenas uma manifestação da singularidade de Marcelo Macedo, mas também uma plataforma para diálogo sobre a arte e as questões sociais que a cercam. 

A exposição promete não apenas encantar os visitantes, mas também instigá-los a refletir sobre suas próprias experiências e a complexidade das interações humanas. A mostra é uma oportunidade de se conectar com a arte contemporânea e os desafios do mundo atual.

“Tem pinturas minhas que quando olhamos mais profundamente começam a vibrar. Podemos achar que estamos vendo um túnel mas se continuarmos observando, poucos minutos depois, iremos ver uma pirâmide. Esse lugar, que é o meio do caminho, é o que me interessa pois é como se fosse uma janela para a imaginação. Esse trabalho não cansa, ele permanece e fornece muitas informações ao longo do tempo”, conclui Macedo.

“Cross Roads”, de Marcelo Macedo, fica em exibição da galeria Eritage (Rua das Janelas Verdes 128,B), em Lisboa, ate 31 de Janeiro de 2025.