Exigência actual de desempenho ao mais alto nível coloca "peso enorme" nos jogadores de futebol
03 October 2024

Exigência actual de desempenho ao mais alto nível coloca "peso enorme" nos jogadores de futebol

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Entre ligas e campeonatos nacionais e competições internacionais, um jogador de futebol profissional pode jogar entre 50 a 70 jogos por ano, uma média que compromete a longevidade da sua carreira. Mais atenção à saúde físical e mental dos desportistas pode prevenir abandonos precoces de carreiras.

Daqui a duas semanas, as ligas europeias e vários sindicatos de jogadores vão apresentar uma queixa em conjunto contra a FIFA junto da Comissão Europeia por considerarem que o calendário sobrecarregado de jogos de futebol nesta temporada, seguida de um Mundial de Clubes em 2025, põe em causa a saúde dos jogadores de futebol profissional que actuam ao mais alto nível.

Estas queixas surgem sobretudo depois de a Liga dos Campeões ter mudado o seu formato e ter adicionado dois jogos à competição.

Para Sérgio Teixeira, preparador físico do Moreirense Futebol Clube, clube português que actua na Primeira Liga, mais do que o número dos jogos, é a actual exigência do futebol nacional e internacional que determina o desgaste físico dos jogadores.

"Quanto mais importante é a competição, quanto mais visibilidade, quanto mais exposição, mais stress e ansiedade gera. Mas, essencialmente, a evolução do futebol relativamente àquilo que se pede a cada jogador, a inteligência de movimento, a capacidade de tomar decisões rápidas, executar movimentos complexos, mas também memorizar vários tipos de movimento, que são esforços repetitivos, acabam por afectar o sistema nervoso central e podemos dizer que podemos estar numa fase do futebol moderno, em que cada jogo acaba por, em termos neurofisiológicos, ser mais exigentes do que há dez anos", disse Sérgio Teixeira em entrevista à RFI.

Para contrariar este desgaste há hoje técnicas que permitem recuperar o corpo, sem esquecer a saúde mental dos jogadores. Desde logo a avaliação correcta da idade biológica dos jogadores pode ajudar na sua recuperação, mas também novas tecnologias que permitem, por exemplo, diminuir a inflamação muscular. No entanto, sem o devido espaço de tempo entre as altas performances no campo, estas tecnicas podem não ser eficazes.

"Os esforços são repetitivos e os jogadores acabam por estar muitas vezes em competição e o tempo de recuperação acaba por não ser o ideal, até porque quando existe um calendário congestionado, é difícil melhorar a condição física e acabamos por entrar num ciclo de monotonia de treino em que apenas a recuperação-jogo-recuperação-jogo e acabamos por não ter aquela exposição a uma melhoria física, um desenvolvimento físico e muitas vezes acabamos por dar prioridade à recuperação, obviamente. Mas a longo prazo perpetua-se um ciclo de desgaste e exposição maior as lesões", indicou

Mais lesões, mais cansaço físico e maior cansaço mental podem levar também a um abandono precoce da carreira, algo cada vez mais comum entre grandes estrelas do futebol.

"A mente e o corpo estão ligados e acabamos por dizer que a pressão constante para manter um desempenho ao mais alto nível, aliada à exposição mediática, às expectativas dos atletas, coloca um enorme peso sobre os ombros dos jogadores. Esse stress psicológico contínuo não só afecta o bem-estar mental do atleta, mas também tem um impacto directo na sua capacidade de recuperação e na resposta do corpo a lesões. Vários estudos mostram que o stress prolongado pode enfraquecer o sistema imunitário, pode atrasar a cicatrização de lesões, contribui para o risco de eles decidirem terminar a carreira mais cedo", destacou Sérgio Teixeira.

Em termos de longevidade nos relvados, há o exemplo de Cristiano Ronaldo que com 39 anos continua a jogar e a marcar. Neste caso, Sérgio Teixeira considera que o craque português conseguiu ter uma equipa à sua volta desde nutrição até à fisioterapia que alia todas as novas tecnicas para manter a sua boa forma física e mental. Mas ele próprio também tem um papel determinante na sua saúde.

"Eu penso que o Cristiano Ronaldo acabou por, em termos de nutrição, ser bastante preocupado com isso. Teve ajuda, claro, mas ao nível daquilo que é o treino, tenho a certeza absoluta que ele é dos maiores conhecedores sobre aquilo que precisa fazer para ter esta longevidade", concluiu.