Bettina Bopp: Convivendo com o coma

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Escritora reuniu cartas para o irmão em livro sobre a vida, a morte e o dia a dia de uma família lidando com o luto

A professora e escritora Bettina Bopp viveu intensamente uma internet muito diferente da que conhecemos hoje. Quando começou um blog no qual imaginava conversas com o irmão que estava em coma, tudo o que ela encontrou foi apoio e amor na caixa de comentários. Como uma espécie de terapia, ela seguiu escrevendo e neste ano fez da empreitada um livro: “Pra Quando Você Acordar”. Com o lançamento, vieram alguns comentários agressivos mais condizentes com o estado atual das coisas nas redes sociais, mas a essa altura a luta de Bettina - juntamente com passagens lindas sobre o dia a dia de sua família - já estava registrada em palavras. “Quando comecei a escrever, a internet era ingênua e doce. Isso mudou: agora as pessoas julgam sem saber. Ninguém é obrigado a saber de tudo, mas se esquecem de que é possível perguntar.”
Em um papo com o Trip FM, a escritora conta mais a fundo a história do irmão Itamar, que entrou em coma após sofrer uma série de paradas cardíacas aos 41 anos: “O luto em vida é muito difícil porque você não se permite perder a esperança, pois parece que você está desistindo da pessoa”. Ela também fala de morte, de vida e de como e ser a mãe da Maria Bopp, a Bloguerinha do Fim do Mundo. Confira no play abaixo, leia um trecho a seguir ou procure o programa no Spotify.
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 Trip. O que aconteceu exatamente com o seu irmão Itamar, para que a gente entenda a gênese do livro?
Aos 41 anos ele teve um infarto. Ele teve dores de cabeça e no braço e foi dirigindo para o hospital. Lá ele teve uma parada cardíaca: foi e voltou durante quarenta minutos, o que causou danos neurológicos. Depois disso, entrou em coma e ficou em estado vegetativo por quinze anos. Foi uma pessoa muito especial. Eu aprendi o que era carisma com ele, pois em pouco tempo já ficava amigo de quem fosse. Ficou noivo sete vezes e nunca casou. Era um cara da vida - em quarenta anos anos ele viveu oitenta. Podia ser uma terça-feira que ele ficava acordado para ver o sol nascer. O que segurou muito a gente no começo foi a quantidade de gente que foi vê-lo.
Como ficou a sua relação com a medicina tendo vivido esses 15 anos com vários tipos de profissionais da saúde?
Nós tivemos um médico incrível, que em nenhum momento falava o que a gente queria ouvir, mas o que ele falava era de um jeito muito especial. Já os neurologistas foram muito frios: eles querem dar conta de algo desconhecido, que é o cérebro, e muitas vezes não conseguem explicar o que está acontecendo. É claro que eu acredito na ciência, mas existem maneiras de falar: ali não é mais um paciente, é o meu irmão.
Vocês viveram alguma situação de enganação?
Indicaram uma pessoa para ver o Itamar, um guru famoso que já teria levantado muitos pacientes e que cobrava uma fortuna. Uma amiga se ofereceu para pagar e ele foi, ficou andando em volta da cama como um ser supremo. De repente ele colocou um óleo na testa do Itamar e o meu irmão gritou: fazia muito tempo que ele não tinha nenhuma interação. Dez dias depois ele voltou e nós achamos muito bacana, pois tínhamos ficado muito impressionados. Nessa ocasião, o guru falou que eu veria luzes saindo da cabeça do Itamar, mas logo percebi que ele tirou um daqueles anéis de festa que piscam do bolso. Me deu tanta raiva que ele me perguntava se eu estava vendo alguma luz e eu falava que não. Eram tantas pessoas que visitavam que você começa achar que não é merecedora, que é você que não reza direito.