"Saúde mental é caminho para o alto desempenho", avalia psicóloga de atletas do Time Brasil em Paris
13 August 2024

"Saúde mental é caminho para o alto desempenho", avalia psicóloga de atletas do Time Brasil em Paris

Saúde em dia
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O Brasil encerrou a sua participação nos Jogos de Paris com 20 medalhas. Por trás de muitas delas, há o trabalho de psicólogas e psicólogos que ajudam a cuidar da saúde mental dos atletas. Como Aline Arias Wolff, que atua junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) há mais de uma década, e esteve na capital francesa dando suporte a alguns esportistas do Brasil, como Rebeca Andrade.

Renan Tolentino, da RFI

Em entrevista à RFI, Aline explicou como é o trabalho com os atletas, que tiveram acompanhamento psicológico durante os jogos. Ela avalia que é importante manter este trabalho contínuo junto a eles, não só ao longo das competições, mas também antes e depois, independentemente do resultado. 

“Na minha visão, a saúde mental é o caminho para o alto desempenho. Quando a gente tem um atleta que está inteiro, que está feliz, que se cuida e se observa, ele tem muito mais chances de alcançar um altíssimo nível. Então, não é uma coisa ou outra, essas duas coisas precisam andar juntas. Saúde mental precisa andar junta com o alto desempenho. Porque aí a gente realmente consegue ter um desempenho ainda melhor”.

Aline acredita que estas foram as “Olimpíadas da saúde mental”, por conta da relevância que o assunto tomou nos últimos anos também no âmbito desportivo, com alguns atletas “reforçando e reconhecendo o quanto isso é importante”. Como as próprias Rebeca Andrade e Lorrane Oliveira, entre as ginastas brasileiras. 

Ainda na ginástica artística, outra que reforça esse discurso é a norte-americana Simone Biles, estrela da modalidade, que em 2021 desistiu de disputar os Jogos de Tóquio justamente para tratar do seu bem-estar psicológico.

“Esse é um ponto muito importante (...) cuidar da saúde mental não é ‘mimimi’. Essa pessoa (atleta) tem que estar bem cuidada, tem que estar inteira e não tem como fazer isso sem cuidar da saúde mental”, reforça a psicóloga.

Não existe receita pronta

Uma das atletas do Time Brasil acompanhadas por Aline Arias Wolff é Rebeca Andrade, que em Paris se tornou a atleta brasileira com mais medalhas em Olimpíadas e não esconde o quanto o acompanhamento psicológico ajuda na sua vida.

Durante uma entrevista, por exemplo, questionada sobre o que pensa antes de competir, a ginasta surpreendeu e disse que às vezes pensa nas “receitas que vou fazer quando voltar para o Brasil”. Aline explica que Rebeca tem essa capacidade de “ligar e desligar o foco” quando necessário, sendo uma maneira natural que a atleta encontra de aliviar uma eventual pressão antes das provas.

“É uma resposta inusitada e muito autêntica. Ela é bem assim. Todo mundo fica muito curioso sobre isso. É uma estratégia? É intencional? Na verdade, não. É algo natural dela. Porque as pessoas tendem a achar que para fazer algo tão difícil, como um salto que ela executa, o atleta precisa estar ali focado o tempo inteiro, mas, na verdade, ele precisa estar focado no momento da execução da tarefa. Antes, aquela espera, que é longa, é supersaudável inclusive que o atleta vá e pense em outras coisas, desde que ele consiga focar na hora que realmente importa", explica.

"E aí, naquele momento, a mente dela (Rebeca) foi para coisas que ela estava querendo experimentar nas receitas quando ela voltasse para o Brasil. Ela funciona assim, ela tem uma facilidade de desligar o foco e voltar o foco”, detalha Aline.

Mas a psicóloga esclarece que não existe uma fórmula ou receita pronta para todo mundo. Cada atleta pode se comportar de maneira diferente para lidar com a ansiedade antes de competir. O importante nessas horas é conhecer bem a si mesmo.

“As pessoas são diferentes. Gosto sempre de dizer que não existe uma fórmula. É muito importante que o atleta consiga se entender, entender o que funciona para ele. O que o ajuda e o que não o ajuda. Varia de atleta para atleta”, conclui.

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