Começa nesta terça-feira (29) o 27° Festival do cinema Brasileiro de Paris. Até 6 de maio, o evento apresenta oito longas-metragens de ficção em competição, nove em sessões especiais e documentários. Na noite de abertura, a atriz e diretora paraense Dira Paes receberá o Troféu Jangada, a sua primeira premiação na Europa. A RFI conversou com Katia Adler, diretora do festival, para saber os destaques deste ano.
O tradicional festival do cinema brasileiro em Paris acontece no cinema L'Arlequin, no bairro turístico de Saint-Germain-des-Près. A organização selecionou 31 filmes, de vários gêneros. Katia Adler fala sobre o bom momento do cinema nacional. "É uma diversidade do cinema brasileiro, que esse ano está bombando. A gente tem um primeiro Oscar, a gente teve um prêmio em Berlim e tem um filme do Kleber Mendonça em Cannes. Eu sinto que os franceses estão muito curiosos para ver o festival", afirma. "Eu diria que 80% dos filmes são inéditos e muitos deles só vão passar no festival, que serve de vitrine para outros festivais na Europa", completa.
A sessão de abertura terá a exibição do drama "Vitória", de Andrucha Waddington, com Fernanda Montenegro no elenco. O filme conta a história de Nina, uma mulher de 80 anos que, sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de droga em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Na mesma noite, a atriz Dira Paes, um dos grandes nomes do audiovisual brasileiro, receberá o Troféu Jangada. A sua carreira cinematográfica será celebrada no festival parisiense com a exibição de cinco longas-metragens que marcaram sua trajetória como atriz e diretora. Natural de Abaetetuba, no Pará, a artista comemora 40 anos de trabalho, em que participou em mais de 40 filmes e 20 produções para a televisão.
"A Dira é uma representante não somente do Pará, mas ela defende as mulheres, defende várias causas. Ela não tem medo de nada, de colocar o seu rosto. E, além disso, ela começou pelo cinema e não pela televisão, o que é muito interessante", explica a diretora do festival.
Dira Paes receberá o prêmio das mãos de Marina Foïs, atriz franco-italiana escolhida como madrinha desta edição do festival. Ela ganhou fama na década de 1990 como membro da trupe Robins des Bois e é uma apaixonada pela cultura e pelo cinema brasileiro. "Ela é francesa e tem uma carreira parecida com a da Dira. Ela começou a trabalhar na televisão e agora está indo para o cinema. Mas ela é super engajada e a gente precisa, no mundo atual, desses engajamentos sem medo", observa Adler.
Na dia 6 de maio, às 14h, Dira Paes ministrará uma Master Class, no anfiteatro Richelieu, na Sorbonne. Na ocasião, ela falará sobre seu trabalho como atriz e diretora, função na qual estreou com o filme Pasárgada, lançado em 2024. Outros filmes da atriz serão apresentados no festival: "Anahy das Missões" (1997), de Sérgio Silva; “Órfãos do Eldorado” (2015), de Guilherme Cezar Coelho; “A Floresta Esmeralda” (1985), de John Boorman e “Manas” (2024), de Mariana Brennand Fortes.
Na quarta-feira (30), será exibido o longa-metragem brasileiro "Ainda Estou Aqui", ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025. Entre os 40 convidados especiais do evento estará Ana Lúcia Paiva, também conhecida como Nalu, filha de Rubens Paiva e Eunice Paiva, cuja história é retratada no filme de Walter Salles. Ela mora em Paris há vários anos e estará no Festival do Cinema Brasileiro para apresentar o filme que conta a história de sua família.
"Como o filme já foi lançado, a gente quis trazer o público para debater esse filme. Isso nos interessa muito. E convidamos a Ana Lúcia Paiva, a Bárbara Luz, a atriz que vive ela, e também a Martina Clermont Toner, que é a produtora do filme e que trabalha com Walter desde Central do Brasil", destaca.
Outros nomes convidados são o diretor Karim Aïnouz, a atriz Sílvia Buarque, o ator Roberto Bomtempo, a diretora Liliane Mutti, a atriz Maria Fernanda Cândido, o diretor Marcos Schetman e o bailarino Thiago Soares, entre outros.
Os dois últimos realizam o filme "Um Lobo entre e os Cisnes", em competição no festival. O longa-metragem conta a história de um jovem garoto da periferia do Rio de Janeiro que decide deixar o hip hop para se dedicar ao balé clássico. A história toma rumos inesperados depois que ele conhece um dançarino cubano, que acaba se tornando seu mentor. Este último desenvolveu o talento de Thiago, até ele se tornar primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.
"Eu estou muito feliz que este filme faça a sua estreia internacional no festival e estamos fazendo de tudo para que ele seja vendido, para que algum distribuidor francês compre o filme", diz Katia Adler. " Eu acho que o festival serve para passar os filmes, mas também o debate na sala é muito importante. Por isso que temos muitos convidados, que vão responder ao público e vai haver essa interação", acrescenta.
Outros filmes em competição
"Malu" (2024), de Pedro Freire, conta a história de uma senhora idosa, com um passado glorioso e que se vê presa no caos existencial, com uma relação complexa com a mãe conservadora e a filha adulta.
"Mais Pesado é o Céu" (2023), de Petrus Cariry; "Aumenta que é Rock'n' Roll" (2024), de Tomás Portella; "90 Decibéis" (2025), de Fellipe Barbosa; "A Mulher que Chora (2024), de George Walker Torres; "Sobreviventes" (2024), de José Barahona e "A Vilã das Nove" (2024), de Teodoro Poppovic, completam a lista dos concorrentes.
Nove documentários completam a programação. Entre eles, Kopenawa: sonhar a Terra-Floresta (2024), de Marco Altberg e Tainá De Luccas, além da estreia mundial de "Cazuza: Boas Novas" (2025), de Nilo Romero.
"É a première mundial desse filme, um documentário feito com imagens totalmente inéditas do último show do Cazuza, que tem o Ney Matogrosso na direção artística. E obviamente, a gente não pode deixar de falar do encerramento, que é justamente com a exibição de um filme sobre o Ney Matogrosso", conclui.
"Homem com H (2025), de Esmir Filho é um filme biográfico sobre a vida de Ney Matogrosso desde a infância em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, marcada por conflitos familiares e preconceitos, a sua mudança para São Paulo, onde iniciou a carreira artística, até conquistar o público com seus inúmeros sucessos, tornando-se um símbolo de liberdade e de resistência.
O Festival do cinema Brasileiro de Paris faz parte da temporada cruzada França/Brasil 2025, do projeto de pesquisa "Processos de criação artística em espaços hispano-lusófonos" liderado pelo eixo de artes visuais do "Centro de Pesquisa Interdisciplinar sobre Mundos Ibero-Americanos Contemporâneos" (CRIMIC) da Faculdade de Letras da Universidade Sorbonne, em parceria com a Mostra de Cinema Brasileiro organizada pela Associação Jangada.
O cinema L'Arlequin fica no número 76, Rue de Rennes.