"Nem tudo que é brasileiro tem que ser rústico, colorido e com plumas", diz curadora em Paris

"Nem tudo que é brasileiro tem que ser rústico, colorido e com plumas", diz curadora em Paris

RFI Brasil
00:06:02
Link

About this episode

Cada vez mais, a arte e o design brasileiros ganham espaço no exterior. Porém, para muitos artistas ter uma obra exposta na França não é um objetivo fácil de ser alcançado. Foi para ajudar novos nomes a conquistarem a cena internacional que a brasileira Patrícia Monteiro Leclercq criou a Bref Design e Arte. A RFI Brasil conversou com ela sobre o projeto de curadoria efêmera que tem dado oportunidade a novos talentos. 

"Eu sou um projeto nômade. Eu não tenho um lugar fixo em que eu apresento artistas e designers brasileiros. As minhas exposições são em lugares efêmeros", explica. "Eu sempre foco na arte e no design contemporâneo, no design colecionável. O formato principal do meu projeto é a casa de um colecionador. Então você entra como se realmente alguém morasse ali", completa. 

Patrícia fala sobre o interesse pelo design brasileiro na Europa. "Hoje em dia, as pessoas conhecem pelo menos alguns nomes, talvez no design mais vintage, como Sérgio Rodrigues, alguns arquitetos como Oscar Niemeyer e designers que têm uma influência na arquitetura francesa. Mas também da cena contemporânea, como Vik Muniz. Porém,  já surgem outros nomes", afirma.

Quebrar clichês

"Algumas pessoas ficam muito surpresas com o que eu apresento no design ou na arte contemporânea, com o refinamento das coisas que podem ser feitas. Uma das missões do meu projeto é quebrar o clichê de que tudo que é brasileiro tem que ser rústico, colorido ou com plumas. A gente também tem um acabamento maravilhoso, sofisticado", diz.

Mesmo que artistas brasileiros consigam expor numa galeria francesa, ainda é difícil entrar num museu ou em uma exposição permanente. "Isso era uma coisa que me preocupava. Eu não gostaria que fosse só uma exposição e depois eu digo adeus para esse artista. A gente faz um trabalho contínuo, de longo prazo, como uma consultoria", diz. "Eu sempre vou buscar oportunidades para esse artista para que ele esteja em uma galeria, para que ele entre em grandes coleções francesas".

Nos últimos anos, Patrícia já facilitou a entrada de artista brasileiros em coleções de países como Marrocos, Itália e França, país que, de acordo com ela, voltou a ser o epicentro das artes após a saída da Inglaterra da União Europeia. "Eu acho que para os nossos artistas abriu um leque muito grande. É um sonho de todo artista estar num grande museu, fazer parte da cultura de algum país e, principalmente, aqui na França. Por isso que até o nome do meu projeto é Bref, que em francês é como se fosse o nosso 'enfim'. E eu achei perfeito porque as minhas exposições são resumidas, eu exponho e desapareço. Mas, ao mesmo tempo, tem o BR de Brasil e França. Então, eu acho que dá a bossa", comenta.  

E como a curadora escolhe os artistas? "Hoje eu tenho as duas situações: o Instagram é uma grande vitrine. Eu tenho uma lista de pessoas interessadas em expor, mas eu faço essa curadoria e eu busco com um critério exigente", explica. "Eu acho que tem que ser diferenciado justamente para a gente sair do clichê, né?". 

As exposições podem acontecer em lugares inusitados. "Geralmente são apartamentos que existem em Paris, que você aluga por um período de cinco a dez dias. Eu gosto de você estar entrando na casa de um colecionador, que vai ter a arte visual, vai ter quadros nas paredes, vai ter a poltrona que ele senta, tem uma história. Eu acho que o storytelling é o que modifica e traz uma compreensão", diz. "Já teve algumas ocasiões de eu expor em embaixadas e agora tem uma próxima na UNESCO. Então, são lugares realmente inusitados", conclui.