Nara Vidal lança na França romance “Puro”, sobre movimento eugenista no Brasil nos anos 1930
28 April 2025

Nara Vidal lança na França romance “Puro”, sobre movimento eugenista no Brasil nos anos 1930

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“Puro”, da escritora Nara Vidal, vencedor do prêmio de melhor romance da APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte em 2024, acaba de ser lançado em francês, pela editora La Place. A escritora brasileira, atualmente radicada em Londres, veio a Paris participar do lançamento do livro que aborda o eugenismo no Brasil dos anos 1930.

A mineira Nara Vidal começou a escrever em 2010. Suas primeiras publicações foram livros infanto-juvenis. O primeiro romance, “Sorte”, foi lançado em 2018 e conquistou o 3º lugar no Prêmio Oceanos. Os livros seguintes “Mapas para desaparecer” e “Eva” foram finalistas de importantes prêmios literários.

“Puro”, traduzido por Mathieu Dosse, é o seu primeiro livro traduzido para o francês. O livro chegou às livrarias em 23 de abril, mas o lançamento aconteceu durante o Festival do Livro de Paris, no início de abril, com a participação de Nara Vidal.

“Foi uma alegria imensa porque pela primeira vez eu tenho um livro traduzido para o francês. Foi muito bom poder estar em contato com leitores e potenciais leitores franceses do livro. É sempre muito bom ver o livro viajar dessa maneira”, festeja.

O premiado romance, editado no Brasil pela Todavia, é ambientado na década de 1930, na fictícia cidade mineira de Santa Graça. A narrativa polifônica explora o movimento eugenista no Brasil, na época do governo de Getúlio Vargas, que foi apagado dos manuais escolares e da memória, ressalta a escritora.

“O puro nasceu basicamente de uma lacuna na educação brasileira. Eu cresci durante a ditadura e quando já adulta, eu me deparei com esse artigo da Constituição brasileira, da década de 30”, lembra. O artigo em questão, que é citado na primeira página do romance, é o 138 da Constituição de 1934 que delibera “estimular a educação eugênica”.

Na sua pesquisa para escrever o livro, Nara Vidal encontrou outras camadas dessa busca por uma “pureza de raça”, como o racismo e o capacitismo. “É mesmo muito aterrador, muito chocante estar em contato com essa parte da nossa história, que foi sim um pouco deixada de lado, mas que é importante que a gente encare e traga de volta, mesmo que seja por uma proposta de ficção, uma proposta artística”, salienta.

“Teatro de horrores”

“Puro” retrata o desaparecimento de crianças negras na fictícia cidade mineira de Santa Graça. O livro mistura realismo, literatura fantástica e de horror. Nara Vidal ri da descrição de “teatro de horrores” feita por muitos críticos.

“Esse teatro de horrores é, na verdade, um super elogio para mim. Eu fico muito feliz porque eu gosto muito da arte e da literatura quando elas nos desnorteiam um pouco. Pode ser através de encantamento, pode ser por horror ou por incômodo. Eu gosto muito que o livro mexa com as pessoas”, diz.

Na opinião de Nara Vidal, vários fatores - o prêmio APCA, que deu a maior visibilidade para o livro no Brasil – teria contribuído para que “Puro” fosse seu primeiro romance traduzido e publicado no exterior. Mas a escritora acha principalmente importante ressaltar o “timing do tema”.

"Acho que é um tema que está vindo muito à tona porque coincide com esse novo avanço da extrema direita, uma direita extremista, com características mais fascistas. Toda essa onda, ela casa muito bem com a crítica ao passado, um passado que nos assusta pela possibilidade de volta. Existe essa ameaça da volta dos tempos sombrios que a gente precisa conhecer para poder combater”, acredita.

“Puro” também está sendo lançado este mês em inglês pela editora nova-iorquina Printim e será adaptado para o cinema pela produtora Buda Filmes, com previsão de lançamento em breve.​

“'Puro'" está tendo uma vida muito bonita, muito interessante. Para mim é inédito. Eu nunca experimentei isso. É ֤֤bonito ver como o livro vem chegando a outros leitores, outros caminhos”, conclui Nara Vidal, esperando que o sucesso do romance no exterior abra caminho para a tradução de outras de suas obras.