Apaixonado pela música brasileira e pelo Brasil, o músico francês Arthur Albaz se prepara para lançar em junho seu primeiro álbum, “Arthur Albaz chante Jorge Aragão”, uma homenagem a um dos maiores nomes do samba.
O projeto surgiu por meio de um convite de Fernanda Aragão, neta do músico brasileiro, que com a mãe, Tânia Aragão, gerencia o selo Aragão Music. No Instagram ela descobriu vídeos que Arthur Albaz, 29 anos, publica com versões de músicas brasileiras. Coincidentemente, o músico francês é casado com uma carioca fã de Jorge Aragão, com quem trabalhou para adaptar as faixas.
Ao todo, dez músicas foram selecionadas para serem adaptadas com um critério específico: “escolhi as canções de Jorge Aragão sobre o amor”. Albaz explica que com a imensidão da obra do ídolo carioca, ele decidiu se conectar com a energia e a emoção que sente ao ouvi-lo. “O trabalho foi feito junto com o amor da minha vida, falando do nosso amor e do que a gente sente também”, explica.
O processo foi tão romântico quanto eficiente. Em poucos meses, o casal reescreveu e gravou as dez faixas, todas elas cuidadosamente trabalhadas para respeitar a obra original. No entanto, as letras não puderam ser diretamente traduzidas para o francês. Por isso, em alguns versos, apenas o sentido foi adaptado; em outros, a similaridade da sonoridade entre as duas línguas foi o que guiou o trabalho. A faixa “Já é”, virou “J’irais” (irei, em português), mas “Doce Amizade” foi traduzida para “Sucré d’amour” (açucarado de amor).
“As letras [das músicas de Jorge Aragão] são maravilhosas, não dá para traduzir diretamente, não dá para adaptar a palavra original que cabe com a emoção das músicas”, afirma. “A gente não podia traduzir ao pé da letra porque em francês não ia corresponder a nada do que ele canta”, reitera Albaz.
Encarando esse desafio, o músico francês também se deu conta das nuances de cada idioma. “O jeito do brasileiro de comunicar é muito mais direto. O jeito francês vai para um lugar e depois para outro para falar sobre algo determinado”, observa. Para Albaz, não há dúvidas: quando o objetivo é expressar a emoção, o idioma português é mais eficiente.
Encontro com Jorge AragãoO músico francês relembra, emocionado, o encontro com Jorge Aragão, em março deste ano, após um show do sambista na sala Circo Voador, no Rio de Janeiro. Albaz se surpreendeu com a humildade e a generosidade do ídolo, que além dos elogios ao projeto de seu álbum, também o convidou para se encontrarem no futuro.
“Um momento de sorte”, resume. “Eu não vejo a hora de sentar e conversar com ele novamente sobre esse trabalho e tocar ao vivo. Eu sei que ele gostou, mas eu quero saber mais”, reitera.
O lançamento do álbum antecede outro momento importante da vida de Albaz: a mudança para o Rio de Janeiro, no final deste ano. “Eu sou muito apaixonado pelo Brasil, muito mesmo. Realmente, eu queria ter nascido brasileiro. Eu falo isso para a minha mãe e o meu pai e eles também acham isso”, conta, aos risos.
Não por acaso, Albaz se inspira em um movimento de artistas franceses apaixonados pelo Brasil e que se transformam em uma espécie de transmissores da cultura brasileira na França. Um dos grandes representantes deste grupo é Pierre Barrouh, que participou do movimento da bossa nova, chegando a adaptar grandes clássicos da MPB para o francês.
“O Brasil, para quem conseguiu enxergar, é uma emoção que nunca sai. E a paixão que eu tenho pelo Brasil realmente construiu essa vontade de transmitir”, diz.