
‘Gringa’: Bianca Costa lança álbum conectado às origens brasileiras, bossa nova e ritmos latinos
RFI Convida
A cantora e compositora brasileira Bianca Costa já está na estrada há alguns anos, mas só agora, aos 26, lança seu primeiro álbum completo pela Warner Music France na próxima sexta-feira, 28 de novembro. Musicalmente, “Gringa” é uma mescla de idiomas e ritmos que enfatiza as raízes multiculturais da artista nascida em Florianópolis, com família em Goiânia e Rio de Janeiro, além da vivência internacional de quem passou parte da infância em Portugal e chama Paris de lar há mais de 15 anos.
Luiza Ramos, da RFI em Paris
Criado ao longo dos últimos três anos, o álbum “Gringa” combina melodias da bossa nova, trap, pop e ritmos latinos como a bachata, o reggaeton e o funk brasileiro — como no single de divulgação do projeto, “Bye Bye”, em parceria com a jovem rapper francesa de origem congolesa Merveille.
“Eu amei poder fazer essa colaboração com a Merveille, que eu acho uma cantora incrível. O álbum 'Gringa' traz esse conceito de colaborar com outras gringas, outros gringos. Ela vem do Congo e traz muito essa dupla cultura. É uma música com ritmo funk que mistura também várias referências pop. Estou muito feliz de poder começar a falar do álbum com essa música”, comemora Bianca, que já ultrapassa 50 milhões de streams em plataformas de música.
Além de Merveille, Bianca gravou com vários artistas de origens diversas neste novo trabalho: Danyl, rapper e cantor franco-argelino; Omar Rudberg, cantor e ator venezuelano-sueco; o cubano Erick Brian, agora em carreira solo; e o francês de origem congolesa Aupinard, um admirador assumido da bossa nova.
Identidade latina e europeia
Chegando à Europa aos 5 anos, Bianca sempre carregou conceitos contraditórios sobre sua identidade e lutava “contra o sentimento de se sentir estrangeira”, como diz. Hoje, mais madura pessoal e musicalmente, enxerga sua pluralidade como parte de si.
“Eu sempre quis me adaptar em Portugal e na França. Quando eu volto para o Brasil, mesmo sendo 100% brasileira, a gente quer provar que pertence àquele lugar. Muitas vezes, quando eu errava uma palavrinha ou não conhecia uma música, o pessoal dizia: ‘Ah, é porque ela é da gringa, agora ela virou gringa’. E eu ficava muito nervosa, eu não queria ser gringa, eu queria ser brasileira”, explica. “Mas nesses últimos anos, quando eu estava criando o álbum, pensei: ‘Chegou o momento de eu ficar em paz com esse termo’ e assumir que vou sempre ser um pouco estrangeira, seja na França, no Brasil ou em Portugal. É quem eu sou”, completa.
Bianca foi uma das poucas personalidades brasileiras a participar do revezamento da tocha olímpica nos Jogos de Paris 2024. Apesar da identidade franco-brasileira, a jovem contou à RFI qual nacionalidade representou no dia histórico: “Tudo o que eu faço aqui na França, eu sempre me sinto muito brasileira porque penso: ‘Nossa, eu vim de tão longe com a minha mãe, a gente veio do interior de Goiânia e chegar em lugares assim é um orgulho ainda maior por ser brasileira’. Então, pelo menos no coração, eu estou muito conectada com o Brasil nesses momentos”, revela.
Entre línguas e influências
A artista transita entre francês e português de forma natural em suas músicas, e alterna com facilidade para cantar em espanhol ou inglês. Mas sua brasilidade aflora na hora de compor: “Português vem primeiro!”, confessa.
“Eu acho o português uma língua muito poética. A língua da música para mim é o português. Mas agora o francês está vindo mais naturalmente também. Estou bem feliz, mas às vezes eu tenho que parar e traduzir na minha cabeça, pensar em fonética, ver o que funciona mais”, explica, citando a faixa “Belle Âme” do novo álbum, cuja letra e melodia surgiram em português, em parceria com o guitarrista brasileiro Breno, e somente depois a música foi adaptada para o francês.
Identidade musical, turnê e sonhoBianca Costa afirma que conseguiu encontrar sua identidade musical ao se permitir experimentar muitos estilos.
“Na música ‘Bebezinho’ tem bachata, ‘Belle Âme’ foi mais para a bossa, sambinha. Hoje eu acho que tenho identidade nessa mistura. Poder misturar também as línguas e colaborar com cantores hispanófonos. Eu acho que música, às vezes, toca não pela letra, mas pela melodia, pelo ritmo. Então, estou muito feliz por ter essa mistura e espero que as pessoas dancem mesmo sem entender a parte em português ou a parte em francês, e que recebam o carinho e as emoções que eu quis compartilhar no álbum”
Em entrevistas anteriores, Bianca Costa sempre destaca suas influências da música brasileira, como Rita Lee, Nara Leão, Gal Costa e outras vozes, principalmente de mulheres. Mas, neste momento, a prioridade é focar seu trabalho na França e países francófonos. Bianca adiantou que, a partir de abril de 2026, deve lançar uma turnê em várias cidades da França, Suíça, Bélgica e festivais europeus – apesar de sonhar em um dia tocar no Brasil.
“Meu sonho! Eu tenho muito esse desejo de chegar ao público do Brasil, penso em poder comunicar com esse público, pois é de onde eu venho. Quero me comunicar com o público brasileiro aqui na França e mostrar que tem uma brasileira aqui. Quero muito poder ter mais oportunidades para me conectar com o Brasil”, afirma a jovem artista.