O livro “Rituels du Brési” (Rituais do Brasil), de Stéphane Herbert, apresenta ao público francês um panorama visual de três manifestações emblemáticas da cultura brasileira, e em particular de Salvador da Bahia: a capoeira, o candomblé e o carnaval. Apresentado como um “caderno de fotografia”, a obra é lançada pela editora Hemisphères como parte dos eventos da temporada cultural cruzada França-Brasil de 2025.
As fotografias coloridas e de muito contraste de “Rituais do Brasil” revelam a história dos três rituais, que segundo o fotógrafo “refletem a alma da civilização brasileira”. O trabalho também testemunha a relação de mais de 30 anos de Stéphane Herbert com o Brasil.
O livro é uma homenagem ao fotógrafo e etnólogo francês Pierre Fátúmbi Verger, que viveu e morreu em Salvador em 1996. Foi o trabalho de Verger, um dos primeiros a revelar ao mundo a força e a beleza dos rituais afro-brasileiros, que levou a então jovem Stéphane Herbert ao Brasil. O mestre, que também era babalaô, pai do segredo, no candomblé, o influenciou muito.
“Eu não tive a chance de frequentar ele muitas vezes porque cheguei na Bahia no fim da vida dele, mas eu tive a chance de mergulhar na biblioteca dele e (isso) abriu muitas portas para a minha compreensão desse mundo fascinante”, conta.
Stéphane Herbert continua em “Rituais do Brasil” um diálogo com Verger, “tentando mostrar o que está acontecendo hoje com a cultura afro-brasileira”. O título fala do Brasil, mas as fotografias foram feitas exclusivamente em Salvador e convidam o leitor para um passeio visual pela cidade, “centro do Brasil africano por excelência”.
O trabalho equilibra a abordagem documental e artística. As fotos foram tiradas entre 1995 e 2005 em Kodachrome. A técnica permitiu ao fotógrafo “atualizar também o contexto dessa cultura que hoje é uma cultura que se afirmou plenamente, depois de um longo período de resistência, no segredo”.
As fotos são acompanhadas de legendas, que vão muito além de uma simples descrição ou localização. Os textos são como pequenas resenhas etnográficas sobre a história desses rituais. “Fiz questão de colocar legendas, pequenos textos, para oferecer ao leitor uma coisa mais didática e também emoções (...) para introduzir o leitor a esse mundo”, explica.
Séculos de opressãoStéphane Herbert acompanhou nesses 30 anos que frequenta o Brasil a evolução desses três rituais. Ele observa que as três manifestações hoje ganharam o mundo. “Depois de tantos séculos de sofrimento, a capoeira se exporta, o candomblé tem a sua tradição, claro, e o carnaval é um convite forte a todo mundo.”
O fotógrafo constata a tensão dos últimos anos no Brasil e o crescimento de atos contra a cultura afro-brasileira, que ele chama de “quase uma guerra de religiões”, mas acredita que “o candomblé, que já passou por 500 anos de opressão, vai superar tudo isso”.
“Rituels du Brésil” chega às livrarias francesas em fevereiro, mas as fotos que compõe o livro podem ser vistas em uma exposição montada na sede da editora Hemisphères, em Paris. O fotógrafo convida a todos para visitar a mostra e como um bom baiano termina a entrevista com um caloroso “axé”.
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