Filme brasileiro 'Jacaré' ganha menção especial em maior festival de curtas do mundo
11 February 2025

Filme brasileiro 'Jacaré' ganha menção especial em maior festival de curtas do mundo

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Eles acabaram de chegar de Clermont-Ferrand, mais especificamente do maior festival de curtas-metragens do mundo, onde levaram o prêmio de Menção Especial do Júri Internacional. Victor Quintanilha e Helena Dias, respectivamente diretor e roteirista, e produtora e roteirista do curta-metragem "Jacaré" falaram à RFI sobre a história do filme, além de suas inspirações e desafios.

 

Jacaré conta a história de Pedro, um adolescente que mora perto de uma estrada e, durante as férias de verão, trabalha vendendo bebidas para os motoristas presos no trânsito a caminho da praia. "Apesar de estar sempre nesse contexto, ironicamente, ele nunca conheceu o mar. Até que, um dia, decide subir escondido na caçamba de um carro para finalmente ver o oceano. O filme fala sobre esse encontro, mas também tem uma abordagem poética e abstrata", conta o diretor Victor Quintanilha.

Inspiração

Quintanilha conta que se inspirou em imagens de um lugar que frequenta desde criança, próximo à casa de um parente. "Sempre tive um contato muito próximo com essa região e minhas ideias acabam surgindo do cotidiano ao meu redor. O roteiro nasceu em um momento de ócio, quando eu estava preso no trânsito tentando voltar para casa. Comecei a observar os jovens que trabalhavam ali e pensei: 'Por que não criar uma história sobre isso?' Assim surgiu Jacaré", relata.

Essa não é a primeira vez que um curta de Quintanilha ganha menção especial do Júri. Portugal Pequeno, filmado em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, produzido em 2020 e exibido em Clermont-Ferrand no ano seguinte, também levou o prêmio. "Em 2021, quando aconteceu pela primeira vez, eu não pude estar lá presencialmente por conta da pandemia. Agora, foi muito especial poder vivenciar essa experiência ao vivo", conta.

"Jacaré é meu primeiro curta dessa dimensão como produtora, e participar do maior festival de curtas-metragens do mundo abriu muitas portas", diz Helena Dias, roteirista e produtora pela Sapucaia Filmes. "O evento não é apenas uma vitrine para as obras, mas também um ponto de encontro com cineastas de várias nacionalidades. No nosso programa, havia representantes da Irlanda, Irã, Coreia do Sul. Essa troca cultural é riquíssima! Além disso, há oportunidades de networking com distribuidores, festivais e laboratórios de desenvolvimento. Para um produtor, é um ambiente incrível. No momento, Jacaré está sendo avaliado por outros festivais. Depois de Clermont-Ferrand, recebemos convites e estamos analisando onde será exibido em seguida", afirma.

"Temos uma estratégia de distribuição estruturada junto à nossa distribuidora, Cajuína. O plano é focar nos festivais internacionais nos primeiros seis meses do ano, especialmente na Europa, América do Norte e Ásia. No segundo semestre, voltamos nossa atenção ao Brasil e América Latina. Ainda não temos uma data exata, pois dependemos dos festivais, mas será no segundo semestre, com certeza", antecipa Dias.

Desafios

"Produzir um curta tem todas as etapas e desafios de um longa-metragem. A diferença é a duração. A narrativa precisa ser mais concentrada, e cada detalhe importa. Além disso, temos desafios financeiros e de acesso a profissionais, pois muitos preferem trabalhar apenas em longas", lembra Victor Quintanilha. 

"Existe também uma diferença na recepção do mercado", diz Quintanilha. "O curta nem sempre recebe o mesmo destaque que um longa. Mas eventos como Clermont-Ferrand mostram que existe, sim, um mercado valioso para curtas-metragens. Tivemos sessões com 1.400 espectadores! Isso demonstra que, quando existe uma cultura de formação de público, o curta pode ser rentável e relevante. Essa experiência abriu muito meus olhos para as possibilidades futuras", conclui o diretor.