Exposição digital contempla registros da luta democrática brasileira na França entre 2016 e 2023
03 July 2025

Exposição digital contempla registros da luta democrática brasileira na França entre 2016 e 2023

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A partir desta quinta-feira (3) vai ao ar a mostra online “Memória dos Movimentos de Resistência na França 2016–2023”, uma exposição que reúne um acervo inédito de registros das manifestações protagonizadas pela diáspora brasileira pela defesa da democracia no exterior. Segundo a jornalista e escritora Márcia Camargos, idealizadora da Associação Memória da Resistência Brasileira na França, a mostra digital apresenta imagens captadas em Paris durante momentos-chave da história política brasileira.

Lançada no ano Brasil-França, porém sem a chancela oficial da temporada, a exposição virtual tem a intenção de valorizar as memórias democráticas e laços entre movimentos militantes dos dois países, disponibilizada em formato bilíngue português-francês.

“Para nós é extremamente gratificante porque temos consciência de que, embora o nosso projeto não tenha recebido o selo oficial do ano Brasil-França, se não fossemos nós na luta durante os sétimo últimos anos, não haveria o ano França-Brasil, porque a democracia teria sido derrotada. Então, de alguma forma, graças a nós esse ano da Temporada Brasil-França foi possível”, diz Márcia Camargos nos estúdios da RFI.

 

De um projeto coletivo a uma exposição digital

A jornalista natural de Belo Horizonte, que vive na França há quase dez anos, analisa que o compartilhamento de experiências da Resistência das duas nações possui muitos pontos positivos.

“Nós aprendemos muito com os nossos companheiros franceses e eu creio que o contrário também é verdadeiro. Eles foram essenciais na nossa luta e eles já tinham um know how, porque muitos de nós não tínhamos um histórico de militância, muitos não tinham essa vivência. Então, essa relação com os sindicatos, os partidos de esquerda, foi de extrema importância para nos mostrar o caminho das pedras e nos dar algumas dicas essenciais”, descreve ela, que se considera uma militante progressista desde a adolescência.

“Para dar vida a esse projeto, nós estivemos nas ruas desde 2016, aos primeiros rumores de golpe contra a Dilma. Foi quando surgiu MD 18 (Movimento Democrático 18 de março), que tomou as ruas de Paris e a partir daí nós não paramos mais”. Ela explica que acompanhou, no exterior, o surgimento de “vários grupos apartidários de forma espontânea e funcionamento horizontal, que realmente reivindicavam e denunciavam os ataques ao estado de direito no Brasil”.

Ela cita o Coletivo Paulo Freire, Mulheres da Resistência (Femmes de la Résistance), o núcleo do PT de Paris, os amigos do MST, a Rede Europeia para a Democracia no Brasil (RED-Br), associação Autres Brésils, entre outros movimentos, sindicatos e partidos políticos que apoiaram e contribuíram com fotos e informações.

Segundo Márcia, graças ao agrupamento de materiais doados por cada voluntário em Paris foi possível realizar a pesquisa que originou a criação da mostra online.

“A partir daí, veio a questão de organizar e datar essas fotos, pois não adianta você jogar um monte de material sem dizer, sem descrever o seu porquê, quando aconteceu... Foi um trabalho de formiguinha e detetive ao mesmo tempo”, descreve a jornalista Márcia Camargos.

Política do Brasil através dos movimentos democráticos em Paris

Márcia Camargos cita momentos da exposição que a marcaram, como os protestos performáticos ‘Genocídio’, na frente da Torre Eiffel, em 2020, contra a má gestão da pandemia da Covid-19 no Brasil, além de um manifesto realizado na fachada da Embaixada do Brasil, em Paris, com o objetivo de chamar a atenção da comunidade internacional para o veto do ex-presidente brasileiro Bolsonaro, em outubro de 2021, sobre a criação de um programa de fornecimento de absorventes para mulheres em situação precária.

 

 

“Memória dos Movimentos de Resistência na França” foi dividida em seis partes em ordem cronológica: primeiro a questão do golpe com o movimento "Não vai ter golpe"; depois o "Fora Temer"; seguido do"'Ele não"; a quarta parte trata do Lawfare, quando o presidente Lula foi preso; depois o "Fora Bolsonaro"; e, por fim o "Democracia em perigo", período que compreende o primeiro e segundo turno das eleições presidenciais de 2022, que evidenciou um temor popular sobre uma tentativa de novo golpe de Estado no Brasil. 

Márcia Camargos conta que, na reta final, o projeto ganhou o apoio do Memorial da Resistência de São Paulo, por isso, a exposição virtual é acessível através do site oficial do Memorial no link: “Memória dos Movimentos de Resistência na França 2016-2023”.

São 800 documentos selecionados a partir de mais de mil iniciais, que podem ser consultados como um registro histórico e permanente, com acesso público e download gratuito.

A programação não é apenas digital e não se concentra só entre Paris e São Paulo. Os interessados podem visitar ainda uma exposição na Aliança Francesa de Salvador do dia 3 de julho a 3 de agosto de 2025, além de uma projeção de vídeos na Casa Rosa, também em Salvador, no dia 29 de julho.

Para assistir ao vídeo da entrevista completa clique na imagem principal da matéria.

O áudio com o resumo da entrevista também está disponível no alto desta página.