Ele começou a tocar piano aos 13 anos como autodidata. Depois, ingressou no estudo de música no conservatório e participou dos maiores festivais do Brasil e do exterior, conquistando vários prêmios. Lançou quatro discos, ganhou o reconhecimento do público e da crítica. Fez concertos individuais e como solista ao lado de grandes orquestras internacionais. O capixaba Hercules Gomes esteve de passagem em Paris, onde fez a sua primeira apresentação na França e conversou com a RFI.
Maria Paula Carvalho, de Paris
O show no Clube do Choro de Paris, na Maison du Brésil, na cidade universitária, na segunda-feira (16), fez parte da Temporada França-Brasil 2025. No reportório, músicas de seu último álbum, Sarau Tupynambá (2022), além de choros, gênero musical ao qual o compositor vem dedicando parte de sua carreira. “Eu nunca tinha vindo à França, é muito especial tocar no Clube do Choro, um gênero de música brasileira que eu adoro e ao qual me dedico muito. Então, estou muito feliz”, disse.
Hercules Gomes é considerado um dos mais representativos pianistas brasileiros da atualidade não somente por suas habilidades técnicas, mas também pela escolha do seu repertório, em que demonstra fortes influências de ritmos brasileiros, de jazz e da música erudita. “A gente acaba se tornando músico em função de todas as coisas que a gente vive”, explica. “Eu comecei tocando de ouvido por influência do meu pai, tocava teclado em bandas e desde essa época eu já gostava de ouvir música brasileira", lembra. "Com 15 anos, eu entrei no conservatório e comecei a aprender sobre teoria musical, o repertório tradicional e depois, na universidade, aprendi sobre o jazz e a música clássica. Mas eu posso dizer que tanto como compositor e como arranjador, eu tenho cada vez mais me dedicado à música brasileira”, continua. “No meu disco Pianíssimo, eu gravei seis composições minhas e seis músicas de compositores brasileiros famosos, como choros de Ernesto Nazaré e Radamés Gnattali, gravei um baião do Edu Lobo, um samba do Hermeto Pascoal. Eu gosto muito de pegar essas músicas que são maravilhosas e criar em cima delas”, explica.
Homenagem à Chiquinha GonzagaEm 2018, Hercules Gomes lançou “No tempo da Chiquinha”, um disco em comemoração aos 170 anos da pianista e compositora Chiquinha Gonzaga, considerada uma das fundadoras da música popular brasileira. “Vários músicos do Brasil foram convidados para fazer arranjos em homenagem à Chiquinha Gonzaga para comemorar essa data. Eu fiz alguns arranjos e, quando eu vi, já tinha arranjos prontos para gravar um disco”, diz. “Eu tenho dois discos que foram trabalhos de resgate: esse da Chiquinha Gonzaga e um segundo que eu gravei em 2020, 'Tia Amélia para Sempre', em homenagem a uma compositora que é contemporânea da Chiquinha Gonzaga, só que muito menos conhecida hoje em dia”, observa. “A nossa identidade musical começou a ser criada na segunda metade do século XIX com esses compositores, como Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Henrique Alves de Mesquita, Ernesto Nazaré, que carregam uma essência do Brasil muito profunda”, contextualiza.
Hercules Gomes também fala sobre a influência da música europeia no desenvolvimento de uma identidade musical brasileira. “A música brasileira começa dessa influência de ritmos que vinham da Europa, como a polca, a valsa, a mazurca, além dos ritmos que vinham da África com os escravos e de coisas que vinham de Portugal, do colonizador”, afirma. “Então, essa miscelânea de ritmos dá origem à música brasileira que a gente conhece hoje”, diz.
O músico, que é frequentador de rodas de choro, diz ter ficado impressionado com o interesse por esse gênero na França. “Eu não esperava tantos músicos tocando choro bem aqui em Paris”, diz. “Eu não sabia que o movimento era tão grande assim”, se surpreende.
Além de beber na fonte de outros compositores, o trabalho de Hercules Gomes tem inspirado músicos do mundo inteiro a tocarem música brasileira. “Cada vez mais eu sinto esta responsabilidade”, diz. “Eu recebo depoimentos nas redes sociais de pessoas da França, da Austrália, da Alemanha e até do Japão que estão tocando músicas minhas e me enviam os vídeos”, diz. “Alguns aprendem a falar português por causa de música brasileira”, conta. “Então, realmente, a música é uma coisa que une, pois é uma linguagem sem palavras”, conclui.
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