Escritor Jean-Paul Delfino romanceia em francês a vida e obra de grandes nomes da MPB
24 April 2025

Escritor Jean-Paul Delfino romanceia em francês a vida e obra de grandes nomes da MPB

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Jean-Paul Delfino é o mais brasileiro de todos os escritores franceses. Ele tem mais de 30 livros, entre romances e ensaios, divulgando na França a história e a cultura brasileiras. Seu projeto editorial mais recente é a série “Música Popular Brasileira”. Os dois primeiros volumes sobre Chiquinha Gonzaga e João Gilberto acabam se ser lançados. 

Jean-Paul Delfino começou sua carreira escrevendo sobre o Brasil, e mais precisamente sobre a música brasileira. Seu primeiro livro, “Brasil Bossa Nova” foi lançado em 1988. De lá para cá, foram mais de 30 publicações e hoje ele é reconhecido como um dos grandes especialistas da MPB na França. O primeiro romance sobre o Brasil, “Corcovado”, de 2005, foi um sucesso de público, que deu origem a uma “suite brasileira” composta por vários livros. 

Quase quarenta anos depois da primeira publicação sobre o Brasil, o escritor francês volta à música brasileira, mas desta vez com um formato híbrido, entre documentário e ficção. Na série “Musique Populaire Brésilienne”, Jean-Paul Delfino assina os romances inspirados na vida e obra de grandes nomes da MBP, e a documentarista Helena Crudeli as resenhas históricas que permeiam o livro. 

A coleção, que terá cerca de 25 títulos, é lançada na França pela Istya & Cie neste momento em que a Unesco homenageia a língua portuguesa ao indicar o Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro. Os dois primeiros volumes, “Chiquinha” e “João Gilberto” - acabam de chegar às livrarias. 

Jean-Paul Delfino decidiu romancear a vida dos grandes nomes da MPB porque “queria dar uma visão do João e da Chiquinha bem diferente. O que me interessa agora não é tanto a musicologia dos artistas, mas é a vida dos artistas”. O escritor acredita que não se pode compreender a música de um artista sem conhecer a trajetória dele. Ele diz, por exemplo, que “a trajetória da Chiquinha Gonzaga é uma coisa completamente incrível, e quando você conhece a história dela, você conhece também a história do Rio de Janeiro e a história do Brasil”. 

O escritor quis que a série começasse com o livro dedicado a compositora e chefe de orquestra brasileira, cujo título é “Chiquinha, la dame en noir de la musique brésilienne” (a dama vestida de preto da música brasileira). “Eu acho que a mulher no mundo musical brasileiro foi muito esquecida. Começar uma coleção sobre a MPB com Chiquinha Gonzaga, a mulher vestida de preto que era filha de uma empregada africana, para mim era uma evidência”, revela. 

“A Bossa Nova não existe” 

O título do volume dedicado a João Gilberto, “a Bossa Nova não existe”, pode parecer uma provocação, mas Delfino relembra que a frase é do próprio músico baiano. “Eu não poderia escrever uma coisa assim, mas ele (João Gilberto) sempre falou assim: ‘a bossa nova não existe, a bossa nova é uma coisa de jornalistas’”, cita. O estilo, segundo ele, tem até data de nascimento e morte. “O nascimento é 1958, com ‘Chega de Saudade’. A morte é o 1° de abril, com a ditadura chegando no Brasil”, detalha, lamentando a homogeneização e americanização atual da música no Brasil e no mundo inteiro. 

Para o escritor francês, João Gilberto inventou “uma maneira diferente de cantar” e é um gênio. “No mundo inteiro, ninguém inventou um estilo musical sozinho, como João Gilberto”, sentencia. 

Brasil como fonte de inspiração 

A produção literária de Jean-Paul Delfino, que é inclusive traduzida e publicada no Brasil, é fecunda. Os dois primeiros volumes da coleção MPB não são os únicos livros que ele está lançando este ano. Também acaba de chegar às livrarias o romance “L’homme qui rêvait d’aimer” (O homem que sonhava amar), pela editora Hervé Chopin, que também fala do Brasil.  

O país parece ser para o francês uma fonte de inspiração inesgotável. “É um presente. Eu não sei se eu mereço isso. Eu comecei com o 'Brasil Bossa Nova' e cada vez que eu tentei de me separar um pouquinho do Brasil, foi impossível”, afirma. 

Além dos novos volumes da coleção MPB, ele prepara a segunda parte do romance “Guiana”, que teve um grande sucesso na França. “Vou escrever Cunani. É o contestado brasileiro que ninguém conhece aqui, mas que é uma história completamente incrível”, antecipa.  

Ele lembra que em nenhum lugar do mundo foi tão bem recebido quanto no Brasil e enfatiza que nunca vai esquecer que "o pouco que eu sou hoje, é graças a Brasil”.