Em Paris, coordenadora do MST cobra de governo Lula orçamento para reforma agrária

Em Paris, coordenadora do MST cobra de governo Lula orçamento para reforma agrária

RFI Brasil
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Neidinha Lopes, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) do núcleo do Ceará, está na capital francesa onde debate as pautas da reforma agrária e da agricologia. Ela constatou a popularização do símbolo do movimento entre os mais jovens também no exterior e saudou as boas relações com o atual governo brasileiro, apesar de pedir ações concretas para a reforma agrária. 

Luiza Ramos para a RFI

A ativista e outros membros de uma comitiva do MST vieram à França por meio de um convite do ex-jogador de futebol Raí, para acompanharem a inauguração da Rue du Dr. Sócrates, na Vila Olímpica de Paris 2024, no último dia 30 de março, em Saint-Ouen-sur-Seine, região metropolitana de Paris. Neidinha recorda à RFI a importância do futebolista ídolo brasileiro da seleção e do Corinthians, que também já foi homenageado pelo MST dando nome ao campo de futebol Dr. Sócrates, da Escola Nacional Florestan Fernandes - espaço de formação política do movimento - em Guararema, cidade do interior de São Paulo, no ano de 2017.

"Não era qualquer jogador, Sócrates era um grande defensor da democracia. A relação do Movimento com o Raí e a família de Sócrates já vem bem de antes. O Movimento também discute futebol e política entendendo que as duas coisas tem a ver (...) Fazemos futebol e política na Escola Nacional Florestan Fernandes", relata.

Na sua primeira visita a Paris, Neidinha Lopes conta que tem realizado articulações políticas com prefeitos e deputados franceses, para apresentar não somente a conjuntura política atual do Brasil, mas também para mostrar a pauta da reforma agrária e o debate da agricologia. Ela constatou que o Movimento dos Sem-Terra é muito conhecido e chegou a ser abordada nas ruas da capital francesa por pessoas que reconhecem o símbolo bordado no seu boné.

Diálogo aberto com o governo Lula

A dirigente compara o governo anterior, do presidente Jair Bolsonaro, a atual conjuntura política do Brasil: "O diálogo com o governo Lula tem sido muito positivo, principalmente por que nós, dos movimentos sociais, do MST, viemos de um momento anterior difícil, de um governo que criminalizada a luta. Hoje, mesmo sendo um desafio permanente, o governo senta com o movimento para discutir sobre a pauta", aponta.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse em entrevista ao canal CNN esta semana que o relacionamento entre o governo e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vive um momento positivo. Entretanto, Neidinha Lopes cobra que o governo precisa "colocar orçamento para a reforma agrária, pois ainda temos 70 mil famílias que vivem em acampamentos, então o governo precisa sinalizar".

Para ela, é preciso deixar claro o papel do Estado e o papel do movimento social. "Nosso papel enquanto movimento social é de pautar, é de cobrar e de reivindicar. E agora, na jornada de abril, nós vamos realizar ocupações de terras no país". A coordenadora acrescenta que o MST compreende toda a "onda fascista" que o país e o mundo passam, mas que o MST "espera que o governo sinalize para a reforma agrária".

Neidinha destaca ações importantes que o governo Lula ter retomado com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e ministérios de peso para a pauta. "Temos a perspectiva de que o governo possa apresentar algo estrutural para a reforma agrária que é estruturar os nossos assentamentos", ao mesmo tempo em que destaca a produção dos camponeses no uso da terra, principalmente na produção de grãos e leite, aponta a ativista.

"Moda MST" e os 40 anos em 2024

O logo do MST tem sido usado por jovens de todo o país e fora do Brasil em bonés e camisetas como um símbolo da esquerda e de apoio à luta, algo que Neidinha avalia como positivo.

"Isso nos surpreendeu, pois em vários espaços a gente se depara com a juventude e várias pessoas com o nosso símbolo, são pessoas que se identificam com alguma pauta; seja a educação, a agricologia, então a gente vê isso como positivo", confirma ela, que acredita que a "moda MST" seja uma forma de aproximar o diálogo com a sociedade.

"O nosso país não fez a reforma agrária. É necessária a distribuição de terras para que se tenha produção para que os camponeses possam produzir e as terras estarem nas mãos de quem verdadeiramente produz. As pessoas podem apoiar o movimento na defesa da reforma agrária e na defesa da democracia", acrescenta.

Um congresso acontecerá em julho no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para marcar os 40 anos do MST. "O movimento tem 40 anos porque a sociedade apoio e apoia o MST", afirma Neidinha Lopes.