Nicolaï Pinheiro nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, filho de pai brasileiro e mãe francesa. Ele se mudou para a França aos 18 anos e iniciou uma carreira, hoje consolidada, como autor e ilustrador de Histórias em Quadrinhos. O desenhista franco-brasileiros tem várias HQs publicadas em francês, mas nenhum de seus livros foi até agora lançado no Brasil. Nicolaï Pinheiro, cuja obra traz “elementos profundamente brasileiros”, tem "esperança" de um dia ser publicado em português.
Nicolaï Pinheiro sonhava em ser autor de histórias em quadrinhos desde criança, mas foi na França que pôde concretizar essa ideia “um pouco estranha, um pouco maluca”, lembra. No início dos anos 2000, ele deixou o Rio de Janeiro para estudar Belas Artes em Montpellier, no sul da França.
Os primeiros trabalhos profissionais e as primeiras histórias autorais não abordavam temas brasileiros. “Naquele momento, acho que eu queria ganhar alguma legitimidade, como autor, antes de ser visto, talvez um dia, como um autor brasileiro”, lembra. Dessa primeira fase, se destacam a trilogia “Venise” ou “La drôle de vie de Bibow Bradley" (A vida engraçada de Bibow Bradlley).
Os temas ainda não era brasileiros, mas o traço, o estilo, as cores e as formas tinham "elementos profundamente brasileiros", ressalta Nicolaï. “Eu acho que a minha relação tanto com o traço, quanto com as cores, vem da minha infância, da minha cultura, das primeiras coisas que me marcaram, que me emocionaram e que me deram vontade de continuar desenhando. E isso tudo ocorreu no Brasil”, destaca.
Virada brasileira
A virada 100% brasileira aconteceu em 2018, quando publicou “Lapa la nuit” (Lapa à noite), pela editora Sarbacane. O romance gráfico se passa no Brasil, mais precisamente no bairro boêmio carioca da Lapa.
“Tudo começou com uma ideia, uma vontade. de desenhar o bairro da Lapa, com uma mistura de pessoas diferentes, aquela arquitetura, aquelas luzes, aquele movimento. Para mim era importante mostrar outra coisa do Brasil ou do Rio, digamos, que não fosse o eterno clichê praia, Carnaval, futebol”, conta.
Adaptação do romance do paiCom o livro “Ivo a mis les voiles” (em português Ivo içou as velas, no sentido de pegar a estrada), de 2023, o autor e ilustrador mergulhou ainda mais nas raízes brasileiras. A história é um “road movie” pelo nordeste do Brasil, na virada dos anos 1990, e reflete sobre temas como memória e família. “Ivo” é uma adaptação do romance "Cemitério dos navios", de Mauro Pinheiro, pai de Nicolaï.
“Foi talvez o meu projeto mais peculiar, mais emocionante e mais bonito também. Adaptar uma obra já é um exercício complexo. Adaptar uma obra do meu pai foi algo que surgiu assim quase como uma revelação”, relembra. Ele acha a história boa, mas confessa que “tinha alguma dúvida, não quanto ao projeto em si, mas quanto ao fato que ele pudesse interessar muita gente na França”. Mas os leitores gostaram dessa “dimensão pessoal” e de ver “um outro Brasil, que não é o Brasil que sempre se mostra aqui na França”, informa.
Apesar da carreira consolidada na França, o ilustrador decorou inclusive uma estação de metrô da região metropolitana de Paris, nenhum livro de Nicolaï Pinheiro foi até agora publicado no Brasil. O ilustrador franco-brasileiro assume que isso “é uma frustração, mas é algo que infelizmente não faz parte das coisas que cabem a mim decidir”. Ele continua tendo “esperança” e espera que um dia seus livros sejam traduzidos para o português.