O segundo filme brasileiro na seleção oficial estreou na segunda-feira (19) no Festival de Cannes. O documentário “Para Vigo Me Voy”, sobre a vida e obra de Cacá Diegues, integra a mostra Cannes Classics.
Adriana Brandão, enviada especial da RFI a Cannes
A estreia aconteceu no dia em que o cineasta brasileiro, um dos mestres do Cinema Novo, completaria 85 anos. A seleção do filme, codirigido por Lirio Ferreira e Karen Harley, é uma homenagem do festival a Cacá Diegues, morto em fevereiro. Como salientou o diretor-geral do festival, Thierry Fremaux, o diretor brasileiro tinha uma relação histórica com Cannes.
Cacá Diegues participou de 12 vezes do festival de cinema francês, sendo oito delas como diretor, tendo concorrido três vezes à Palma de Ouro, três vezes como jurado e uma vez como produtor. O diretor participou das filmagens de “Para Vigo Me Voy”, concedendo entrevistas e abrindo o set de seu último filme “Deus é Brasileiro 2” para a equipe do documentário. Ele deveria estar em Cannes para esta estreia mundial, mas morreu antes de ver o filme concluído.
“Infelizmente, o Cacá não assistiu ao filme. Mas é uma alegria imensa, é muito emocionante toda essa trajetória e o filme ser lançado aqui no dia do aniversário dele”, festeja Karen Harley. “Onde ele estiver, eu acho que ele está muito feliz com essa estreia, com esse movimento todo de lançamento desse filme aqui”, completa Lirio Ferrreira.
60 anos de história do cinema brasileiroO documentário tem imagens e depoimentos recentes do cineasta, mas é composto por trechos cronológicos de filmes e entrevistas de Cacá Diegues durante os 60 anos de sua carreira. Nesse percurso, também revela as últimas seis décadas do cinema nacional.
O título faz referência a um dos filmes cults do diretor, Bye Bye Brasil, que estreou justamente em Cannes, em 1980. “É uma espécie de abracadabra que o personagem do José Wilker diz quando vai fazer um truque”, lembra Lirio Ferreira. Para Karen Harley, essa referência sintetiza “todo o universo mágico do Cacá, extremamente lúdico, livre e alegre”.
Cinema políticoMas a obra do cineasta do Cinema Novo também era essencialmente política. “Ele é um dos grandes pensadores do Brasil, além de cineasta e cronista. Ele lutava muito pela democracia no Brasil, por um cinema popular, por uma política de audiovisual e por um cinema no Brasil consistentes, (para) que o Brasil deixasse de viver de ciclos de cinema”, salienta a codiretora de “Para Vigo Me Voy”.
Generosidade, intensidade e capacidade de renovação são também grandes legados do cineasta. “A gente está realmente vivendo momentos em que os inimigos ainda são os mesmos de uma outra maneira. A gente tem que sempre estar alerta. E eu acho que o exemplo de Cacá é significante para tudo isso”, ressalta Lirio Ferreira.
“Para Vigo Me Voy” concorre ao Olho de Ouro, prêmio de melhor documentário do Festival de Cannes, que termina no dia 24 de maio. O outro longa brasileiro da seleção, "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, concorre à Palma de Ouro.