Combate às drogas tem de focar nas pessoas e nas condições de vulnerabilidade, diz especialista
26 June 2025

Combate às drogas tem de focar nas pessoas e nas condições de vulnerabilidade, diz especialista

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A ONU estabeleceu que 26 de junho é o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas. A data foi criada em 1987 para conscientizar a população mundial sobre os problemas desencadeados pela venda e consumo de entorpecentes. Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, especialista reconhecida sobre o uso e dependência de drogas no Brasil, afirma que “a principal droga que nos causa problema é o álcool”. Ela preconiza que o combate às drogas tem de focar “na pessoa e nas condições de vulnerabilidade psicossociais”.

O fenômeno do consumo e venda de drogas cresce anualmente com o surgimento de novas substâncias, rotas de tráfico e infiltração do crime organizado na política de vários países. Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, coordenadora da Unidade de Dependência de Drogas do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destacou a importância do Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico de Drogas a como um "momento de reflexão".

Formigoni, que também é presidente do Instituto de Estudos Avançados e Convergentes (IEAC) da Unifesp, explicou que o foco das políticas de combate às drogas deve estar na pessoa e nas condições psicossociais e biológicas que levam ao uso de drogas.

Ela mencionou, por exemplo, que "a falta de lazer, principalmente em comunidades mais vulneráveis, acaba sendo associada ao uso de drogas, principalmente o álcool, que é o maior problema, não só no Brasil, mas no mundo”.  

Como o consumo do produto é legalizado, ele não é considerado uma droga por muitas pessoas, mas o álcool “é uma das drogas psicotrópicas que mais causa dependência”, reitera. 

Falta de dados epidemiológicos recentes 

Formigoni lamentou a falta de dados atualizados sobre o consumo de drogas no Brasil. Segundo ela, o último levantamento nacional é de 2017. A pesquisadora criticou a paralisação de “políticas progressivas” iniciadas nos governos petistas durante o governo Bolsonaro e elogiou os esforços do governo atual para retomar essas ações, apesar das limitações de recursos.  

A especialista destacou que os dados disponíveis indicam que o álcool é a principal droga, seguido pela maconha, cocaína, crack e anfetaminas. Ela também expressou preocupação com o uso de esteroides anabolizantes e a mistura de álcool com bebidas energéticas, especialmente entre jovens. 

Quanto às políticas atuais de combate às drogas, Formigoni considera que "são adequadas”, apesar de algumas limitações práticas. Ela elogiou a criação de Centros de Atenção Psicossocial (Caps AD) dentro do SUS, que propõem tratamento especializado aos dependentes. Existem, ainda, várias ferramentas digitais, como o www.bebermenos.org.br dentro do qual a pessoa pode se cadastrar para fazer uma intervenção virtual para reduzir problemas associados ao uso de álcool. 

Legalização da maconha 

Maria Lucia Formigoni reconhece a complexidade das questões relacionadas ao tráfico e à segurança. Em relação ao debate sobre a legalização e descriminalização de algumas drogas, sugeriu que "a legalização da maconha pode reduzir alguns problemas", como registrado em países que autorizam o uso medicinal do canabidiol, mas que a discussão ainda é complexa. 

Na opinião da especialista, uma resposta mais eficaz para o problema das drogas passa pela questão da saúde mental.

"O foco mais importante tem de ser na pessoa e nas condições de vulnerabilidade psicossociais que elas têm".

Paralelamente, tem a criminalidade, que envolve questões como o tráfico de drogas e de influência. A professora titular da Unifesp diz que as duas questões se interligam, mas conclui que “a repressão de uma maneira violenta não é o que vai resolver o problema das pessoas que usam álcool e drogas”. 

Clique na foto principal para ouvir a entrevista completa.