“Festim da alma” é a primeira exposição individual de Antonio Obá em Paris. Todos os quadros e desenhos que compõem a mostra, inaugurada nesta quinta-feira (6), são inéditos. Em entrevista à RFI, o artista brasileiro define a narrativa do conjunto das obras “como uma pequena celebração” sobre os ciclos da vida.
Antonio Obá, nasceu em 1983 em Ceilândia, e atualmente mora e trabalha em Brasília. Sua obra tem reconhecimento internacional, já foi exposta em muitas cidades do mundo e vários de seus quadros integram a coleção de arte contemporânea do bilionário francês Pinault, uma das mais prestigiosas do planeta. Em Paris, seu trabalho já havia sido exposto em mostras coletivas ou feiras de arte.
“Festim da alma”, apresentada na galeria Mendes Wood DM, é a primeira individual na capital francesa. “Essa exposição é muito feliz. São trabalhos inéditos que pontuam um momento muito especial, de pesquisa. E o fato de ser em Paris é para mim uma honra e é muito rico”, diz.
Os 21 quadros a óleo e alguns desenhos que compõem a exposição foram feitos em 2024. A mostra propõe uma narrativa sobre os ciclos da vida.
Segundo o artista, “a proposta é uma pequena celebração. O conjunto das obras que estão expostas demarcam uma certa ideia de um ciclo que inicia e termina. As imagens, os símbolos usados propõem muito a pontuação de um rito que tem a ver com a nossa existência”.
Ele ressalta as imagens de crianças, como no quadro “Alegoria para uma nascida”, ou a tela “Memento Mori: Baile de debutantes”. Para ele, a palavra debutante por si só “designa algo que morre para iniciar num outro estágio. E aí, a gente pode jogar essa construção narrativa para tudo na vida que começa, termina, reinicia. Tudo pontuado por rituais, um festim, uma pequena celebração da alma”, completa.
Ancestralidade africana e discriminação racialO trabalho poético de Antonio Obá dialoga com a tradição iconográfica ocidental, resgata a ancestralidade africana e questiona a discriminação racial no Brasil. “Certamente, tem esse caráter de problematizar isso tudo. Por que num dado momento passa a ser tão surpreendente você entrar numa galeria, numa exposição onde a maioria das figuras, ao invés de serem caucasianas, são negras? Qual a surpresa disso eu tendo essa pele?”, questiona, lembrando que seu trabalho é “quase autorreferente”.
No entanto, ele salienta que sua obra não se “resume a isso”. Antonio Obá afirma que tem “tido um certo cuidado de não transformar a obra num conteúdo moralizante. Ela não está aqui para dar lição de moral”.
“Festim da Alma” fica em cartaz até 27 de março na galeria Mendes Wood DM, na Praça de Vosges, no 4° distrito de Paris.
Clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa de Antonio Obá.