Brasil vive “momento único” em Cannes, diz ministra da Cultura Margareth Menezes
16 May 2025

Brasil vive “momento único” em Cannes, diz ministra da Cultura Margareth Menezes

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O Brasil é o convidado de honra do Mercado do Filme, o maior evento da indústria cinematográfica mundial, que acontece paralelamente ao badalado Festival de Cinema de Cannes. A delegação brasileira, composta por cerca de 60 profissionais, é liderada pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, que falou à RFI no pavilhão do Brasil em Cannes. 

Margareth Menezes participa em Cannes de várias mesas redondas e outras atividades sobre a política do governo para o cinema brasileiro. Ela está acompanhada da secretária do Audiovisual do MinC, Joelma Gonzaga, que foi quem articulou, desde 2023, essa participação do Brasil como convidado de honra do Marché du Film (Mercado do Filme). 

“Um momento único”, resume Margareth Menezes. O MinC investiu R$ 3 milhões nessa participação.

A ministra fica em Cannes até a próxima segunda-feira (19) para poder assistir à estreia de “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, no domingo (18). O longa brasileiro está na disputa pela Palma de Ouro.

RFI: Como foi a articulação para essa participação do Brasil aqui no mercado do filme de Cannes? 

Margareth Menezes: Foi realmente um momento único. Essa é a primeira vez que o Brasil é homenageado, é o convidado de honra, tendo a oportunidade de fazer negócios. É a presença do cinema brasileiro internacionalmente. Essa construção começou em 2023, pela secretária do Audiovisual do ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, que conhece bem o setor. É uma construção bem estruturada.  

O Brasil sempre teve representação através do seu setor audiovisual, mas com a chegada de uma articulação também por parte do governo, isso se ampliou muito mais agora, podendo materializar uma oportunidade única para o Brasil, no momento em que o audiovisual brasileiro se recupera, há 3 anos, da desconstrução e atrasos para todo o setor cultural. 

RFI: Qual foi o volume do investimento para essa participação recorde do Brasil aqui em Cannes? 

M.M.: Por parte do Ministério da Cultura, do governo brasileiro, foram R$ 3 milhões. Nós fizemos uma chamada de edital para selecionar 30 produtores. Mas a própria iniciativa (dos produtores) e a expectativa positiva dobrou o número. São 65 pessoas (na delegação). Também pela informação do próprio diretor do mercado, estamos aqui com quase 400 brasileiros, pessoas, produtores, empresas. Enfim, foi muito além da expectativa do próprio Mercado. Isso é uma sinalização muito positiva para o momento do Brasil no mercado exterior em relação ao audiovisual. 

RFIO Brasil tem investido muito mais em cinema e na internacionalização do cinema. Já dá para ter uma ideia do retorno desse investimento no setor? 

M.M.: Com o retorno dos filmes brasileiros às telas, cresceu o percentual do público brasileiro (assistindo) os filmes, as obras nacionais. Estamos abrindo também novas salas de cinema. Estamos no recorde histórico, agora já com mais de 3.000, quase 3.500. Vamos abrir esse ano mais 40, e em 2026 mais 60 salas. A nossa próxima meta é fazer uma articulação também com as portas de divulgação dos filmes, ou seja, os festivais. 

RFIUm dos dinamismos do cinema brasileiro atual é a regionalização, uma regionalização que se vê aqui nas telas, em Cannes. Como tem sido essa parceria do governo federal com os estados? 

M.M.: Estamos retomando os arranjos regionais, que é uma política que promoveu justamente a abertura de outros polos produtores de cinema. Claro que numa escala menor do que no Rio e São Paulo, devido à tradição e a questão (de já serem) polos industriais. Nós estamos nesse momento fomentando a possibilidade e apoiando a abertura dessas outras células de produção cinematográficas nos outros estados. Tem a Ceará filmes, a Bahia filmes, Pernambuco também chegando. É importante porque você potencializa a oportunidade de melhorar também a qualidade da produção. Eu acho que a gente está fortalecendo o cinema nacional com essas novas portas abertas para os produtores e para as temáticas. 

RFIEste ano, uma associação de cineastas independentes criticou o ministério, dizendo que eles estavam se sentindo preteridos em relação à grandes empresas. Houve uma negociação para trazer esses cineastas independentes também para Cannes ou então para incluí-los mais em todos esses programas nacionais? 

M.M.: A gente precisa entender de onde nós chegamos. Quando nós assumimos o ministério, não tinha o Conselho Superior de Cinema, não tinha o Comitê Gestor. Nós retomamos isso. Colocamos um Conselho Superior de Cinema, com representatividade de todas as cadeias, inclusive do setor independente. Agora, é uma reconstrução, né? Existe uma urgência também nessa questão comercial, porque é o que mantém vivo o setor. A gente ouve a crítica, e vai se reorganizando em função das necessidades. Eu acho muito importante e natural também dentro da democracia, que o setor se posicione e fale, mesmo, porque é a maneira que a gente tem de enxergar e de melhorar a política que está sendo implementada. 

RFIMinistra Margareth Menezes, a senhora é cantora. A música foi, durante muitos anos, a grande embaixadora do Brasil no exterior. O cinema brasileiro vem crescendo muito esse ano, um ano excepcional, com o Oscar histórico para “Ainda Estou Aqui” e essa participação em Cannes. O cinema está ocupando esse lugar? 

M.M.: É muito difícil um filme sem trilha sonora, né? O cinema tem essa capacidade de ser aglutinador de todas as ações das artes cênicas e a música está dentro dele. Eu espero que futuramente a gente possa ter também um Oscar de Trilha Sonora (para o Brasil), consagrando essa maravilha que é a música popular brasileira. A gente não pode deixar de reconhecer o cinema como esse grande catalisador, esse soft power maravilhoso, assim usado por tantos países. A gente só está na verdade, seguindo o roteiro natural de oportunidades que existem através do cinema, de divulgar a nossa cultura e artes.  

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