Ativista destaca aumento nas denúncias de violência contra mulher e cobra mais ações dos governos
25 November 2025

Ativista destaca aumento nas denúncias de violência contra mulher e cobra mais ações dos governos

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Neste 25 de novembro, data que marca o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a presidente do grupo Femmes de la Résistance – Mulheres na Resistência, Nellma Barreto, faz uma reflexão sobre o tema e fala sobre a atuação do coletivo que coordena no apoio às vítimas de abuso na França.

Tatiana Ávila, da RFI em Paris

Com oito anos de atuação, o grupo Mulheres na Resistência foi criado em 2017 como um coletivo e se confirmou como uma associação em 2020. Nellma Barreto conta que já militava na luta contra a violência, mas que sentia a falta da participação de mulheres brasileiras.

“Assim surgiu a ideia de criar essa associação, para dar apoio e assistência a essas mulheres vítimas de violência doméstica e em situação de precariedade”, contou ela.

Nellma explica que o grupo atua em toda a França, atendendo a pedidos de socorro em todas as cidades, mas também em Portugal. A cada ano, a associação recebe entre 100 e 200 chamados. E para atendê-los, o Mulheres na Resistência tem várias parcerias com prefeituras de departamentos regionais.

“Este ano tivemos um aumento muito grande, do mês de fevereiro até junho, praticamente um pedido de ajuda por dia. É uma rede muito grande de apoio. E tentamos manter o contato direto com o consulado, pelas questões administrativas, já que muitas mulheres, quando pedem socorro, precisam de documentos para sair do país”, disse.

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Violência sempre presente

Perguntada se o aumento nas denúncias representaria mais casos de abusos ou uma maior conscientização por parte das mulheres, Nellma lembra que a violência doméstica sempre esteve presente na sociedade.

“Atualmente, com a mobilização de associações e de movimentos, essa mulher acaba tendo coragem de denunciar. Os números são alarmantes, aumentam a cada dia, não só aqui, como no Brasil. Na França, a cada três dias, uma mulher é vítima de feminicídio. No Brasil, são inúmeras mulheres por dia. No ano passado, foram quase 1500 mulheres vítimas de feminicídio (no Brasil). Quanto mais a mulher cria essa independência, essa autonomia, indo em busca de seus objetivos, ela acaba sendo vítima de mais violências”, observou.

Nellma destaca ainda que, na associação, a maior procura por ajuda é exatamente para apoio em casos de violência doméstica e ela faz um alerta: mesmo mulheres em situação irregular no país podem e devem procurar as autoridades, denunciar e pedir ajuda.

“Os números maiores (atendidos) são de violência, seja ela física, psicológica, financeira e estupro. Muitas pedem ajuda em questões de divórcio, de dependência financeira, o que as impede de saírem de casa, e o medo por não conhecerem os seus direitos. Independente da sua situação administrativa, ela pode ligar para a polícia, no número 17, pedindo socorro. Ou alguma pessoa, que vê essa mulher sofrendo violência, pode também chamar a polícia ou pedir a orientação no número oficial do combate à violência que é o 3919”, afirmou.

Ajuda pelas redes sociais

O trabalho de ajuda às mulheres lusófonas acontece também a partir das redes sociais. A presidente da associação explica que muitas das demandas chegam exatamente desta forma e é assim que começa o atendimento, que normalmente é psicológico, jurídico e de aconselhamento.

“Existe uma romantização da imigração, principalmente nas redes sociais. E nós lutamos muito contra isso. A romantização também do homem estrangeiro, que também agride, estupra e mata. Então isso complica ainda mais a situação dessa mulher que sai do seu país, vem para cá em busca de uma oportunidade, conhece uma pessoa aqui e acaba confundindo essa questão do cuidado e não vê que isso é controle. E essa mulher não consegue sair desse ciclo de violência doméstica porque não tem conhecimento dos seus direitos aqui no país e isso é muito grave”, detalhou ela, lembrando que na França não existe o crime de feminicídio no código penal, e sim homicídio com circunstâncias agravantes.

Um Dia Internacional para lutar contra a violência

O 25 de novembro foi escolhido pela Organização das Nações Unidas – ONU em 1999 para marcar, no mundo todo, a luta pela Eliminação da Violência contra as Mulheres por causa do assassinato das irmãs Patria, Minerva e María Teresa Mirabal na República Dominicana. Elas foram mortas em 1960, ao se oporem à ditadura de Rafael Trujillo, e transformadas em símbolo da resistência popular e do feminismo.

A data é também um momento para cobrar respostas dos governos. Nellma Barreto destaca que 85% das denúncias na França são engavetadas, porque falta apoio e investigação. No Brasil, ela destaca ainda a questão das mulheres negras, que, segundo a ativista, representam mais 63% dessas vítimas.

Mesa Redonda

No dia 26 de novembro, às 17h, a associação Mulheres na Resistência promove uma mesa-redonda para marcar a data. O encontro, que acontece na Embaixada do Brasil em Paris, terá a participação de advogadas, psicólogas, mediadoras da área da saúde e outras voluntárias para falar sobre o combate à violência contra a mulher e a atuação do grupo.