O cardeal Robert Francis Prevost, natural dos Estados Unidos e naturalizado peruano, foi eleito Papa Leão XIV no segundo dia do conclave. A escolha rápida e simbólica marca uma nova fase para a Igreja Católica, com referências ao legado de Francisco e um olhar voltado ao diálogo e à justiça social, segundo análise do sociólogo de Religiões, Flávio Sofiati.
A fumaça branca surgiu mais cedo do que o esperado no céu do Vaticano, em apenas dois dias de conclave, surpreendendo muitos fiéis. Os 133 cardeais elegeram Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, como novo líder da Igreja Católica. A escolha do cardeal Robert considerada rápida foi interpretada como sinal de articulação prévia e consenso entre os religiosos reunidos na Capela Sistina.
“O que parece é que esse tempo a mais, com o Papa Francisco já adoentado, possibilitou as conversas e articulação dentro da Igreja para a escolha do novo pontífice”, sugere Flávio Sofiati
Leão XIV é o primeiro papa agostiniano e tem uma trajetória singular: nascido em Chicago, nos Estados Unidos, viveu por décadas no Peru, primeiramente como missionário e depois como bispo de Chiclayo, noroeste do país. Ele se naturalizou peruano em 2015. “É um papa verdadeiramente americano, porque nasceu nos Estados Unidos, mas foi naturalizado no Peru e conhece bem o que é esse continente. Mais importante do que isso, conhece o perfil da igreja latino-americana e tem conhecimento de uma lógica de Igreja que é muito diferente do padrão europeu, que acabou sendo difundido pelo mundo”, analisa o sociólogo das religiões e professor da Universidade Federal de Goiás, Flávio Soffiati, na entrevista à RFI.
A escolha do nome “Leão XIV” também carrega simbolismo, segundo o especialista, pois tem como referência Leão XIII, o papa que lançou a encíclica Rerum Novarum, marco da doutrina social da Igreja. Para Sofiatti, o novo papa sinaliza que pretende seguir uma linha semelhante à de Francisco, mas com estilo próprio.
“Não sei se será uma continuidade, mas é evidente que não será um rompimento. O legado de Francisco não será um parêntese de 12 anos na Igreja. A escolha de um papa fora da Europa, com experiência na América Latina, mostra uma Igreja que quer dialogar com o mundo”, frisou Sofiati.
“Pontes” e desafiosLogo após aparecer no balcão do Vaticano para uma multidão reunida na Praça de São Pedro, o novo papa fez o seu primeiro discurso, destacando a construção de “pontes”, a promoção do “diálogo” e pedindo que as pessoas “não tenham medo”. Para Sofiati, a mensagem de paz do Papa Leão XIV revela sua atenção com as crises globais e sua disposição de projetar a voz da Igreja na construção de uma sociedade mais justa.
Para além das questões relacionadas aos escândalos sexuais envolvendo a Igreja nas últimas décadas, um dos grandes desafios do novo papa, segundo sociólogo, será o de transformar a estrutura da Igreja em uma estrutura missionária.
“O primeiro desafio é de transformar toda essa estrutura da Igreja numa estrutura que sai em missão, para levar o projeto de Jesus Cristo para a sociedade. E num diálogo de pontes, como ele disse nesse primeiro discurso, de fazer pontes com as culturas, com as pessoas, e respeito com as diferenças”, conclui.