No Caminho É Assim... O pneu da prática vai estourar. E como faz?
21 October 2025

No Caminho É Assim... O pneu da prática vai estourar. E como faz?

Roberto Sampaio | RODACast

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A gente tem essa sensação de que a gente gostaria de ser amparado pelas pessoas. Ainda que, no fundo, a gente tenha um orgulho de se definir como sendo alguém que conquistou algo sozinho. É paradoxal, mas é assim que funciona.


Então, quando a pessoa chega, ela se sente sozinha, porque ela olha ao redor e, de alguma forma, ela gerou algum mérito, sabe? Então, o mérito vai proteger a pessoa dela ser arrastada, de modo automático, pelo samsara. Como vocês vão ver, as pessoas dizendo fórmulas de felicidade, decretando as fórmulas de felicidade, e vocês vão olhar para o lado e vão dizer

Espera aí, não é bem assim, não. Não é bem assim que as coisas funcionam.


Então, esse é o mérito. O mérito permite você olhar para a situação e você não ser arrastado pela situação. Quando você está olhando para isso, você agora vai buscar o caminho, porque você quer, então, fazer algo que esteja de acordo com para onde esse mérito está apontando.


Então, por exemplo, a pessoa dá uma olhada ao redor e ela diz As pessoas estão me dizendo algo que nem elas mesmas fazem e elas não conseguem sair desse movimento. Elas buscam a felicidade e desejam evitar o sofrimento, e nessa busca da felicidade e desejo de evitar o sofrimento, elas caem de novo em mais sofrimento. Então, ela agora se dá conta de que ela tem um caminho.


Quando ela começa o caminho, ela agora vai dizer assim Tem uma coisa que é o samsara e tem uma coisa muito especial que é o caminho. E as pessoas ao redor estão no samsara, menos eu. E aí, ela agora vai se sentir sozinha de novo, porque ela vai querer estar perto de pessoas que estão querendo a mesma busca que ela.


Deu pra sacar? Aí ela vai em busca dessas mesmas pessoas que estão fazendo a mesma busca que ela, só que ela tem expectativas muito elevadas sobre essas pessoas, expectativas que nem ela mesma é capaz de produzir, mas ela projeta isso nos outros. Uma espécie de perfeição. Aí, logo em seguida, o que vem? A pessoa se dá conta de que ela precisa praticar.


Quando ela pratica, ela tem uma sensação agora de que ela está fazendo tudo certo. Ela começa a melhorar a vida dela, ela começa a fazer as práticas, ela começa a entender as emoções dela, ela começa a entender meditação, ela começa a fazer as coisas andarem. Aí, ela vai se sentir sozinha de novo, porque quando ela começa a andar, justamente porque ela está fazendo as coisas certas, ela vai ter a sensação de que as coisas pioraram.


Isso não é paradoxal? Não é interessante isso? Justamente porque ela está fazendo tudo certo, ela tem a sensação de que as coisas pioraram.


Porque ela começa a se dar conta de regiões internas, de regiões sutis que ela não estava percebendo antes.


E aquilo, ela começa a dragar o samsara pelo avesso.


O refúgio, ele começa como externo, Buda, Dharma e Sanga.


Depois, ele começa a culminar para o Lama ou seu professor, um professor autêntico, Prajnaparamita, e a questão da motivação, que é a Boritita. E, por fim, esse refúgio, ele vem pela natureza da mente. Ela está plena, ela está confiante que é a natureza da mente que é o verdadeiro refúgio.


Aí, naturalmente, isso leva tempo para perceber isso. Então, é importante isso, pessoal, que a pessoa entenda que ela começa sozinha, meio que com uma desconfiança de que o mundo ao redor não é bem como disseram para ela, e depois ela começa a avançar, ela vai se sentir sozinha de novo. Então, é importante ela ter as pessoas que ela vai poder contar, sabe? Porque, como se fosse assim, você vai...



É isso, você vai andar com o carro e, em algum momento, o pneu vai estourar. Aí, é melhor você aprender a trocar o pneu antes, ou melhor, é melhor você ter alguém para contar, para chamar o reboque, ou você descobrir na hora do aperto o que precisa de um reboque. Entende? Então, é bom a gente começar a pensar nisso.


O mundo, ele é surpreendente.