O Luto em Gotas - A velhice dos Pais.Chega um momento em que o tempo nos vira do avesso.Aqueles passos firmes do pai chegando do trabalho… hoje soam como o arrastar lento do chinelo pelos corredores.Aquele colo acolhedor da mãe, onde corríamos nos dias difíceis… agora é o braço frágil que seguramos para ajudá-la a se levantar.O tempo não avisa. Apenas chega.Primeiro, eles esquecem o nome de uma rua. Depois, o do vizinho. E, aos poucos… até aquilo que acabaram de dizer.A gente finge que não percebe. Finge que é só cansaço. Mas o coração sente: é diferente.A casa antes cheia de vozes se transforma em silêncio.A cozinha, antes tomada por aromas, se resume a chá morno e pão cortado em pedaços.E a gente, sem perceber, se transforma em cuidado.De repente, os papéis se invertem: damos banho, cortamos unhas, preparamos a sopa sem sal, ouvimos — com paciência — a mesma história repetida. Só que, agora, somos nós que escutamos.É difícil. É exaustivo. É um luto que acontece aos poucos, gota a gota.Mas também é uma oportunidade: de retribuir, de amar, de se despedir aos poucos, enquanto ainda há tempo.Porque não há dor maior do que olhar uma fotografia e pensar:“Eu devia ter ficado mais um pouco.”Se você ainda tem seus pais, toque-os com carinho. Olhe com atenção.Eles não estão ficando teimosos… estão ficando frágeis.No fim, tudo o que um pai ou uma mãe quer é ter a certeza de que não serão deixados para trás, esquecidos, como um velho móvel encostado.Eles só precisam ouvir, de coração:“Pode descansar. Eu estou aqui.”Cuidar de quem cuidou de nós é, talvez, o maior ato de amor que existe.Envelhecer ao lado dos pais é como fechar um livro, segurando a mão de quem escreveu os primeiros capítulos.Não adie os gestos simples. O tempo passa, a saúde falha, e a presença vira saudade.A vida cobra caro de quem não amou enquanto podia.