A Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento (USAID, na sigla em inglês) está na mira da extrema direita americana e mergulhou em um mar de incertezas milhares de projetos ambientais espalhados pelo mundo, financiados pelo organismo. A cooperação com organizações brasileiras é histórica e ajudou a desenvolver o conhecimento sobre a Amazônia.
Coube ao bilionário Elon Musk, antigo crítico da agência, anunciar que ela iria “fechar”. Na segunda-feira, os empregados da USAID receberam ordens por e-mail para não comparecerem aos seus escritórios. Antes, o presidente Donald Trump havia declarado que a entidade era administrada "por um bando de lunáticos extremistas” e avisou que os funcionários seriam “demitidos”.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional é uma entidade independente criada por um ato do Congresso americano, no auge da Guerra Fria, em 1961. Por décadas, foi um importante instrumento de soft power americano na América Latina e acusado de influenciar diretamente a política interna dos países beneficiados.
Nas últimas décadas, entretanto, passou a priorizar parcerias com organizações internacionais e não diretamente com governos. Como os Estados Unidos são o maior provedor de ajuda humanitária e de desenvolvimento do mundo, a ideia de que a agência possa fechar traz consequências devastadoras para organizações e para os países mais pobres, em áreas diversas como educação, saúde, governança ou proteção de minorias.
Orçamento maior do que muitos PIBsO orçamento anual do organismo é maior do que o PIB de muitos destes países beneficiados: US$ 40 bilhões. A USAID emprega cerca de 10.000 pessoas, dois terços delas no exterior.
Cada vez mais, os projetos pelo mundo têm a preservação ambiental e a sustentabilidade como um pilar. “Existem programas diretamente dedicados às mudanças climáticas, ou seja, dinheiro que financia medidas de mitigação e adaptação em países em desenvolvimento. Mas além desses projetos específicos, quase todos os programas da USAID — por exemplo, aqueles dedicados à segurança alimentar ou à saúde global — têm um componente climático, simplesmente porque os efeitos do aquecimento global influenciam os resultados desses projetos”, salienta o diretor nos Estados Unidos do Instituto Ambiental de Estocolmo Ed Carr, ex-funcionário da USAID, em entrevista à redação de Meio Ambiente da RFI.
“Quando a USAID tenta melhorar a resiliência de agricultores africanos, diante das mudanças climáticas, essa também é uma forma de proteger o sistema alimentar global. Interromper este programa terá, portanto, um impacto indireto em cada um de nós”, afirma Carr. “O governo Trump deixou claro que está mirando programas de mudança climática em particular, porque acredita que o dinheiro não está sendo bem gasto. Portanto, o que fica claro é que os programas de mudança climática serão alvos específicos, independentemente do resultado da situação atual que vemos na USAID.”
Projetos no BrasilNo Brasil, a cooperação com a agência começou há 50 anos e, desde 2013, os projetos na Amazônia ganham destaque. A Parceria para Conservação da Biodiversidade na Amazônia é um exemplo, ao trazer uma abordagem holística, aliando proteção ambiental com capacitação das comunidades locais e inclusão social.
O site do projeto no Brasil agora está fora do ar, a exemplo de pelo menos 350 outros endereços ligados à USAID no mundo, conforme contagem da agência de notícias AFP. A agência ressalta que é “impossível” saber quando exatamente eles foram desativados e se foi por ordem expressa do presidente americano.
Outras organizações brasileiras que desenvolvem projetos financiados pela USAID são o Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), Instituto Ouro Verde (IOV), a WWF-Brasil e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
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