A história de Julio e Andrey começa no meio do caos. Uma vida que parecia prestes a se desfazer encontrou um novo sentido com a chegada de um menino com síndrome de Down, que, sem saber, salvou quem o salvaria.
Julio saiu de casa aos 18 anos após conflitos familiares, mergulhou em uma depressão profunda e pensou em desistir.
Até que um telefonema da mãe interrompeu esse ciclo. Ela estava namorando e o novo companheiro tinha um filho com síndrome de Down.
A convivência com Andrey começou aos poucos. O garoto tinha comportamentos autolesivos e não conseguia se comunicar. Julio, então, se colocou no papel de cuidador, babá, irmão, tutor. Tudo ao mesmo tempo.
Começou a ensinar pequenas coisas: comer sozinho, se vestir, se limpar. Passo a passo, foi mostrando ao Andrey o que era ser amado.
A conexão entre os dois foi crescendo e se tornou ainda mais forte quando Andrey precisou passar por uma cirurgia. Foram 5 dias no hospital, e Julio ficou lá o tempo inteiro com ele.
Foi só depois da alta que o pai biológico do Andrey apareceu, embriagado. Aquilo foi o ponto de virada: Julio decidiu entrar com o pedido de guarda.
O pai cedeu, assinou os papéis, e a história deles, que já era forte, virou laço de fato.
Julio ainda enfrentaria outra perda: a morte da mãe. Quem o acolheu foi Andrey.
Com suas palavras simples e seu toque de carinho, Andrey segurou Julio no momento mais difícil. E foi ali que Julio entendeu: quem foi salvo, na verdade, foi ele.
Hoje, 9 anos depois, Julio olha para Andrey, agora com 20 anos, e diz com orgulho que ele é seu filho e vem evoluindo todo dia.
No fim das contas, o que incomoda muita gente não é a história de amor entre um pai e seu filho. É que essa história seja protagonizada por uma família que foge do padrão. Julio é um homem trans.
Essa informação só aparece aqui, no fim, porque ela não muda em nada a beleza, a coragem e a potência do que foi vivido. Mas, para muita gente, ela mudaria tudo. E é justamente aí que mora o preconceito.