A primeira edição do novo Mundial de Clubes da Fifa, disputado no mesmo formato da Copa do Mundo de seleções com 32 equipes, tem proporcionado algumas surpresas. Clubes europeus — tradicionalmente os mais ricos e com os elencos mais estrelados — vêm enfrentando dificuldades diante de adversários de outros continentes, especialmente os sul-americanos, que têm se mostrado competitivos e determinados a desafiar a hegemonia europeia.
Tiago Leme, correspondente da RFI em Nova York
Até agora, em seis duelos nos Estados Unidos, houve duas vitórias de equipes da América do Sul, uma vitória da Europa e três empates. Ainda faltam mais dois encontros para acontecer nesta fase de grupos: Atlético de Madri x Botafogo e Inter de Milão x River Plate.
O resultado mais surpreendente foi a vitória do Botafogo, campeão da Libertadores de 2024, contra o Paris Saint-Germain, que conquistou o inédito título da Champions League mês passado. O time carioca marcou 1 a 0 nos franceses, na Califórnia.
O atacante botafoguense Arthur, que veste a camisa sete da equipe, exaltou o feito diante do PSG. “Eu acho que o Brasil é o país do futebol, sempre vai ser. Chegamos aqui, fizemos história, pretendemos fazer mais história, isso é Botafogo”, entusiasmou-se.
O outro triunfo foi do Flamengo sobre o Chelsea, por 3 a 1, na Filadélfia. Nos empates, Palmeiras, Fluminense e Boca Juniors tiveram boas chances de vencer Porto, Borussia Dortmund e Benfica, respectivamente. A única vitória europeia foi do Bayern de Munique sobre os argentinos do Boca.
A diferença entre as equipes dos dois continentesEsses confrontos têm colocado em xeque a suposta disparidade técnica entre clubes europeus e sul-americanos. Jogadores e treinadores envolvidos na competição apontam possíveis explicações para o desempenho abaixo do esperado dos europeus. Entre os fatores mais citados estão o desgaste físico e as condições climáticas, já que no continente americano faz mais calor.
Pela primeira vez, o Mundial está sendo disputado no meio do ano — justamente ao fim da temporada europeia, quando os atletas chegam mais cansados. Em contraste, os campeonatos no Brasil e na maioria dos países sul-americanos estão em andamento, com os jogadores em melhor ritmo físico e competitivos. Nos antigos Mundiais e Intercontinentais, realizados no fim do ano, a situação era inversa.
O experiente zagueiro Danilo, do Flamengo, que jogou 13 temporadas na Europa, tendo atuado nas equipes do Porto, Real Madrid, Manchester City e Juventus, analisou a questão psicológica dos atletas.
“Certamente, mentalmente, é um agravante os clubes europeus chegarem no final de temporada. Nem falo da parte física, mas sim da parte mental, o desgaste mental de toda a temporada. Entretanto, eu acredito também que quando se entra em campo, ninguém quer economizar em nada, todo mundo quer sair vitorioso”, avalia.
Evolução do futebol brasileiroDanilo, de 33 anos, acredita que os resultados no Mundial de Clubes sejam "um grande mérito das equipes brasileiras e sul-americanas". Para ele, o futebol brasileiro vem demonstrando uma grande “evolução” nos últimos anos, “mas isso não tira um mérito claro dos clubes europeus que tiveram temporadas incríveis”, pondera o atleta.
“Eu acredito que não existe uma diferença tão grande. Eu creio que o futebol brasileiro está evoluindo muito em um ponto importante de concentração, de organização tática e de organização fora de campo também, que é muito importante para poder diminuir essa pequena diferença que ainda existe”, compara Danilo.
“Eu creio que a volta de jogadores importantes, como o Jorginho, o Alexandro, aqui no Flamengo, e os jogadores também de outras equipes que estão voltando para o futebol brasileiro, traz uma mentalidade importante e que é algo que soma muito para o futebol brasileiro”, analisa o zagueiro.
A importância que os europeus dão para o Mundial de Clubes também é sempre questionada. Assim como aconteceu nas edições anteriores, nos Estados Unidos o público nos estádios é de maioria de torcida dos times sul-americanos.
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