A Fórmula 1 iniciou oficialmente a temporada 2025 na quarta-feira (26) com os testes de inverno no Bahrein. As 10 equipes e os 20 pilotos estiveram reunidos no circuito de Sakhir para uma bateria de ensaios cruciais antes do primeiro Grande Prêmio do ano, na Austrália. Mas a temporada marca, também, a volta do Brasil ao circuito mundial das corridas, após uma ausência de sete anos, com Gabriel Bortoleto, jovem piloto brasileiro de 20 anos, prestes a estrear na Fórmula 1 pela equipe Sauber.
Para Eric Mendes, jornalista especializado em Fórmula 1, o brasileiro Gabriel Bortoleto "é um piloto que percebe rapidamente a estratégia e o que ele precisa fazer para dar o seu máximo durante uma corrida".
E é visível que ele sabe aproveitar [a corrida] e marcar muitos pontos para ser o mais regular, e justamente por isso se tornou campeão há dois anos [na Fórmula 2]. "No ano passado, enfrentou o francês, e não estava exatamente em sua melhor forma. Mas ele se adaptou rapidamente e conseguiu mostrar consistência. Ele tinha regularidade e capacidade de estar presente nos momentos decisivos para marcar os pontos necessários, o que deu a ele a vantagem que permitiu a vitória", lembra o comentarista.
"Eu acredito que é uma questão de tentar manter essa mesma lógica [agora no circuito principal]. Ele precisa entender o que deve fazer para ter o carro mais rápido possível, o que vai permitir que ele dê o seu melhor ao volante. Mas será difícil, e ele precisará de um tempo de adaptação", sublinha Mendes. "Mesmo assim, ele já mostrou que é capaz, e vai acelerar o suficiente para se destacar. Ele precisa continuar com a mesma vontade de ter sucesso, independentemente do que acontecer", acredita.
Comparação com SennaSobre possiveis comparações com o estilo de Ayrton Senna, Eric Mendes contemporiza e analisa a performance de Bortoleto sob um outro prisma. "Eu acho que ele tem mais a atitude do piloto moderno, que precisa se impor. Ele não é aquele piloto agressivo ou que tenta ser o mais rápido a todo custo, porque todos os pilotos agressivos acabam se destacando por um tempo, mas muitos se queimam", destaca o especialista.
"A questão é sempre a consistência. Quando ele chegou, por exemplo, tinha um estilo muito agressivo, o que causou uma boa impressão. Ele continua com essa imagem de piloto agressivo, mas, ao mesmo tempo, tem mostrado que é capaz de se adaptar e ser mais trabalhador. Ele não precisa ser aquele piloto agressivo do tipo 'fazer tudo na força bruta'. Ele precisa mostrar seu valor ao longo da temporada, e é isso que vai determinar seu sucesso", analisa Mendes.
"Claro, todos falam de Senna, das suas habilidades, especialmente sob condições adversas, como quando estava chovendo. Ele soube lidar com situações complicadas", lembra. "Mas agora, o carro é muito mais importante. A comparação também será feita com seu colega de equipe, [Nico] Hulkenberg, e veremos se Bortoleto consegue estar presente nos momentos de marcar pontos e aproveitar as oportunidades. Ele tem que aproveitar essas chances. As pessoas estão olhando para o Bortoleto com outros olhos agora, e eu tenho certeza de que ele vai aproveitar ao máximo essa oportunidade", acredita o comentarista franco-português.
O "business" da Fórmula 1Perguntando sobre as possíveis razões da ausência prolongada do Brasil no circuito, Eric Mendes faz uma avaliação do contexto atual da Fórmula 1. "Estamos em uma fase onde o dinheiro e os negócios falam mais alto. É difícil para um piloto sem o suporte financeiro necessário conseguir uma vaga. Conseguir um lugar na Fórmula 1, atualmente, é um jogo de dinheiro", pontua.
"Foi isso que dificultou a vida dos pilotos brasileiros, como o Felipe Massa, por exemplo, que foi campeão e ainda espera por uma nova oportunidade. Para mim, quando um piloto é campeão da Fórmula 2, ele já deveria ter a chance de ir para a Fórmula 1 imediatamente. Antigamente, isso era mais natural. Mas hoje, quem não tem o suporte financeiro ou uma figura por trás, como um pai, fica para trás", sublinha o especialista.
"O [piloto brasileiro Felipe] Drugovitch, por exemplo, está na equipe reserva e tem essa sorte, pois seu pai está ajudando a garantir seu lugar. Muitos pilotos acabam dependendo desses apoios, e foi o que faltou aos brasileiros. Não se trata de falta de talento, mas de oportunidade. Drugovitch tem demonstrado que pode estar no nível necessário, e agora, com sorte, ele pode finalmente ter a sua chance", afirma Mendes.
Brasil também entre as promessas do circuitoO paranaense Felipe Drugovich, de 24 anos, ganhou nas categorias de base do automobilismo, especialmente na Fórmula 2, onde conquistou o título da temporada 2022 pela equipe MP Motorsport. Após seu sucesso na F2, Drugovich passou a integrar o programa de jovens pilotos da Aston Martin na Fórmula 1, atuando como piloto reserva e de testes. Ele participou de algumas sessões de treinos livres e testes de pré-temporada com a equipe, sendo considerado uma promessa para um futuro lugar na F1. Atualmente, ele continua como piloto reserva da Aston Martin e segue buscando uma oportunidade para estrear como titular no circuito.
Vindo de longa tradição familiar e neto do icônico piloto Emerson Fittipaldi, Pietro Fittipaldi é piloto de testes e reserva da Haas. Ele fez sua estreia na categoria em 2020, substituindo Romain Grosjean no GP de Sakhir e no GP de Abu Dhabi, após o grave acidente do piloto francês no Bahrein. Atualmente, Pietro continua ligado à escuderia Haas como piloto reserva no circuito de 2025.
Para Eric Mendes, no entanto, ainda deve levar tempo para os brasileiros darem um "susto" em grandes favoritos como Lewis Hamilton. "Ainda é muito cedo para imaginar isso. Acredito que ainda é cedo para dizer que Gabriel Bortoleto esteja na luta pelo título, pois ele ainda está se adaptando, e o carro não é um dos mais competitivos", contextualiza.
Favoritos"Os grandes favoritos, por enquanto, são Max Verstappen e Red Bull, com a McLaren também mostrando boa forma. A Mercedes, com Hamilton, tem se destacado, e é claro que ele continua sendo um grande nome da F1. A McLaren também pode ser uma surpresa, mas no momento a Red Bull parece estar na frente. Max Verstappen é o atual campeão e, sem dúvida, continuará a ser um dos maiores candidatos. Claro, a Ferrari também pode ser uma surpresa, mas o Bortoleto tem um longo caminho pela frente. Quem sabe, com o tempo, ele consiga mostrar seu verdadeiro potencial e surpreender", diz Mendes.
A Sauber, que se tornará a equipe de fábrica da Audi em 2026, enxerga na contratação de Bortoleto uma oportunidade de incorporar jovens talentos em sua futura formação de pilotos. A chegada do jovem talento marca o retorno de um piloto brasileiro à Fórmula 1 em tempo integral desde 2017, e promete reacender o entusiasmo dos fãs brasileiros pelo esporte.
Além disso, Bortoleto garantiu o título da Fórmula 2 após terminar em segundo lugar na corrida final em Abu Dhabi, acumulando um total de 214,5 pontos na temporada. Ele se junta a nomes como Oscar Piastri, George Russell e Charles Leclerc ao conquistar títulos consecutivos nas categorias de base.
MaratonaAs equipes tiveram recentemente um grande desafio pela frente: ajustar seus carros em apenas três dias de testes antes da maratona de 24 corridas ao longo do ano. Embora os layouts dos carros já tenham sido revelados e algumas imagens das novas máquinas em pista tenham circulado, os testes no Bahrein foram essenciais para entender melhor a força de cada equipe em uma temporada que promete ser bastante equilibrada.
"Acredito que veremos uma continuação do que aconteceu no ano passado, com quatro equipes (McLaren, Ferrari, Red Bull e Mercedes) capazes de vencer corridas e disputar o título. Teremos uma grande batalha pela frente", projetou Frédéric Vasseur, chefe da Ferrari.
Com 2025 marcando o último ano antes das grandes mudanças regulatórias de 2026, a tendência é que as diferenças entre as equipes sigam diminuindo. As atualizações feitas são importantes, mas muitas escuderias já começam a desviar atenção para o desenvolvimento dos carros do novo regulamento.
Até lá, o foco se concentrou nos três dias de testes em Sakhir, fundamentais para ajustes antes do GP da Austrália, marcado para o dia 16 de março, em Melbourne.
A contagem regressiva para a temporada 2025 já começou, resta saber como será o retorno do Brasil de Ayrton Senna às pistas, depois de sete anos de ausência no circuito mundial.