No país do futebol, ela escolheu o rugby, esporte que mudaria a sua vida. Nascida em Fortaleza, Taís Prioste é a primeira atleta brasileira na história a atuar na primeira divisão da liga francesa de rugby. A RFI conversou com a jogadora do Bobigny, time que treina nos arredores de Paris. Ela conta sobre a adaptação na França e o sonho de disputar a Copa do Mundo feminina pelo Brasil.
Taís Prioste vem de origem humilde, sendo a caçula de sete irmãos. Seu pai era mestre de obras, a mãe gerente de reciclagem e desde cedo ela já tinha a consciência da importância de trabalhar e ajudar a família.
Foi graças ao convite de uma amiga que Taís começou a treinar rugby, aos 22 anos. Através do esporte, ganhou bolsa de estudos integral na universidade e começou a competir no Campeonato Brasileiro Universitário. A partir dali, passou a se dedicar totalmente ao esporte.
Dois anos depois, foi contratada para defender o Montpellier, na cidade considerada a capital do rugby na França. Em 2024, defendeu o Western Force, da Austrália, outro país com tradição no esporte. E no segundo semestre do ano passado, foi contratada pelo Bobigny, nos arredores de Paris.
"A minha adaptação está sendo a melhor possível, de uma maneira leve", diz a atleta. "Estou conseguindo me comunicar com mais fluência, isso me ajuda a entender as coisas dentro e fora do campo, nas comunicações em geral. E está sendo incrível jogar rugby aqui. O nosso futebol, aqui para eles é o rugby", explica Taís sobre a paixão dos franceses pela modalidade. "Em 2023, eu joguei pelo Montpellier. Fica no sul da França, mais perto das praias. Mas aqui, a gente tem uma diversidade cultural muito grande. Então, está sendo muito incrível. A França em si me abraçou, mas esse clube tem algo diferente. A gente dá muito as mãos para se ajudar", afirma.
A rotina é puxada, com treinos físicos e de campo todos os dias. Ela conta que no tempo livre gosta de viajar e passear pela capital francesa. "Além do sonho de jogar rugby aqui na França, na Europa, todos os países estão pertinho. Dá para visitar tudo... Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, esses monumentos que a gente sonha em conhecer. Eu gosto de passear, de viajar para outros países, então é algo muito legal", disse em entrevista à RFI Brasil.
Um dos esportes preferidos dos francesesDe acordo com uma pesquisa, o rugby é o esporte preferido de 39% dos franceses, sendo o segundo mais popular do país, depois do futebol. "Então, é muito gratificante e, ao mesmo tempo, você tem mais responsabilidade, porque o campeonato francês tem um nível muito alto, um nível muito puxado para quem nunca pisou aqui, quem nunca viveu", observa.
Impulsionado pela medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, o rugby sevens está experimentando um crescimento excepcional na França. O rugby feminino também está atraindo interesse crescente, uma tendência encorajadora, à medida em que a Copa do Mundo Feminina de 2025 se aproxima.
Os franceses também se identificam com os valores transmitidos pelo rugby, como competição, desempenho, dinamismo, respeito, comprometimento e solidariedade. Esses seis valores representam o que o rugby busca promover: desempenho esportivo aliado ao comprometimento social.
"O rugby francês está sendo um divisor de águas", analisa Taís Prioste. "Em 2024, teve as Olimpíadas, em 2023 teve a Copa do Mundo masculina aqui. Então, eu pude pegar um pouco dessa energia da Copa do Mundo e foi algo surreal", conta. "Antes, eu era muito fã de futebol, agora eu sou muito fã de rugby. Então, imagina você ter uma admiração enorme pelo seu time: sou eu hoje em dia com o rugby", compara.
"Focada"A RFI também conversou com Renaud Torri, um dos técnicos do Bobigny. Ele fala sobre as qualidades da atleta brasileira. "A Taís é muito profissional. Ela chega antes do treino, faz o treino que precisa na academia, faz os aquecimentos sozinha, é muito focada", destaca. "Ela traz a cultura do alto rendimento, do alto nível para o clube. Ela é uma jogadora muito poderosa, muito forte. E fora do campo, é uma menina muito agradável, ela traz muita alegria para o grupo", continua.
O treinador ainda analisa o que significa para uma estrangeira jogar no rugby francês. "Para mim, significa que se você é boa e se você se dedica, você consegue as coisas. Porém, acho que é mais difícil se você nasce no Brasil do que se nasce na França. E até na França, se você nasce no Sul vai ser mais fácil, porque é uma terra de rugby, do que onde estamos, em Bobigny", explica.
Enfrentar a FrançaOutra curiosidade na carreira de Taís é que, no Brasil, é comum que as principais atletas de rugby se dediquem à modalidade sevens, que integra o programa dos Jogos Olímpicos. Porém, Taís preferiu competir exclusivamente na modalidade XV, considerada a mais tradicional do esporte.
Pelo currículo internacional, Taís Prioste é considerada uma das principais jogadoras da Seleção Brasileira de rugby XV e foi peça fundamental na classificação inédita das Yaras, como são conhecidas, para a Copa do Mundo Feminina deste ano, na Inglaterra. O evento acontecerá de 22 de agosto a 27 de setembro e pela primeira vez na história terá a participação de uma seleção da América do Sul. O Brasil conquistou a vaga após vencer a Colômbia nas eliminatórias.
O Brasil está no grupo D, ao lado de África do Sul, Itália e França. "As minhas expectativas estão lá em cima", diz a jogadora. "Apesar do Brasil estar debutando no Mundial, vai ser o maior desafio de todos os tempos", acrescenta. "Mas eu acredito muito no trabalho duro que o grupo está fazendo como equipe. Nós tivemos muitos amistosos até agora e ainda tem mais alguns por vir antes da Copa. Dá um pouquinho de nervoso, mas a gente acredita no trabalho de todos os envolvidos e do nosso treinador Emiliano. Mas a trajetória até aqui não foi fácil", aponta.
Perguntada sobre o fato de competir contra a França, país que a acolheu, ela garante que o coração é verde e amarelo. "Nessa hora, você é muito brasileira, porque a gente sabe que o Brasil tem muito a evoluir. Ele não tem uma tradição do rugby como a França. Então é um gostinho mais especial. Dizer que eu estive na Copa do Mundo pelo Brasil, é o sonho mais alto", revela.
O clube de Taís ficou orgulhoso com a convocação. "A gente está muito feliz, a gente tem muito orgulho disso", afirma o técnico Renaud Torri. "Nós temos meninas de vários países no clube, tem argentina, tem a Taís que é brasileira, tem italiana, tem holandesa, tem espanhola e a gente tenta fazer o melhor para elas conseguirem a seleção nacional", completa.
Porém, Torri sabe que vencer da França será difícil. "O rugby não é como o futebol, em que todo mundo pode ganhar de todo mundo, e num jogo tudo pode acontecer. No rugby é mais difícil", explica. "Acho que o Brasil pode dar trabalho para a França, mas ganhar eu acho muito complicado. As meninas da Seleção Francesa são todas profissionais e a competição é desequilibrada com as condições de treino", continua.
Mensagem a outros atletasSatisfeita de suas conquistas na França, será que Taís tem saudades de casa? "Desde o momento que eu saí de Fortaleza, em todos os cantos do mundo, eu tenho saudade", confessa. "Tem recordações de momentos bons. Mas, ao mesmo tempo, eu penso que é uma causa maior. É por mim. É uma visão de vida, porque o esporte mudou a minha vida. Ele abriu as portas, literalmente", comemora.
A cearense deixa uma mensagem para as meninas que sonham com uma carreira de sucesso no esporte. "Eu diria que acreditem no seu trabalho, que o trabalho duro compensa o talento", afirma. "Ele abre portas. Foi assim que eu cheguei aqui, trabalhando duro, mostrando o que eu queria todos os dias e nunca parei", finaliza.