França proíbe supermercados de darem descontos superiores a 34% em produtos de higiene e limpeza

França proíbe supermercados de darem descontos superiores a 34% em produtos de higiene e limpeza

RFI Brasil
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Apesar da inflação alta, que corroeu o poder de compra dos franceses nos últimos três anos, uma nova lei acaba de limitar o direito dos supermercados de promoverem grandes promoções nos produtos de higiene e limpeza. A partir de 1º de março, o varejo não pode mais oferecer produtos com mais de 34% de desconto nestas categorias – uma medida que levou os consumidores a fazerem estoques preventivos, antes da entrada em vigor da polêmica legislação.

O objetivo é proteger os fabricantes franceses da pressão por preços cada vez mais baixos, exercida por grandes varejistas como Carrefour e Leclerc. No contexto inflacionário, para poderem vender mais barato, os hipermercados têm exigido cortes nos valores praticados pelos produtores – uma das razões que motivaram os recentes protestos de agricultores na França.

Entretanto, a alimentação ficou de fora da nova norma. A lei visou apenas os produtos industriais de higiene e limpeza – prateleiras onde são comuns grandes promoções para compras em volume, do tipo “pague um e leve três”.

Na imprensa, a limitação dos descontos a no máximo 34% de redução foi criticada. Na emissora francesa TF1, a principal do país, o economista e editorialista François Lenglet denunciou o “exagero” de novas leis para regulamentar a economia do país – com efeitos nem sempre bem-vindos, segundo ele.

“Para que um golpe como este no poder aquisitivo dos franceses? Os deputados querem proteger os lucros dos pequenos industriais franceses, mas o problema é que este mercado é dominado pelas multinacionais americanas ou britânicas, como a Unilever”, alegou. “São os acionistas delas que vão agradecer aos nossos parlamentares. Essa lei protege, na realidade, os lucros das grandes empresas.”

Competição pelos maiores descontos

Dias antes da entrada em vigor da nova regulamentação, as grandes redes do país se lançaram numa corrida de qual faria a maior promoção, chegando a descontos de 80%. Mensagens como “compre antes que a promoção seja proibida” acompanharam os cartazes em letras garrafais.

No sul da França, a consumidora Sylvie P. decidiu fazer estoque quando soube da mudança iminente. “Estou com quantidades industriais agora. Ouvi dizer que os preços iriam subir, já que não teremos mais direito a promoções, então comprei pasta de dentes, sabão para a roupa, produtos de limpeza, tudo que eu pude. Encontrei coisas realmente interessantes, a -70%”, disse.

Sylvie conta que sequer tem o hábito de buscar o melhor desconto, mas vai procurar ficar mais atenta a partir de agora. “Vamos ter que olhar melhor nas lojas e procurar onde está mais barato, porque 30% é pouco”, lamenta.

Negociações de preços

A lei “para reforçar o equilíbrio entre os fornecedores e os distribuidores” é um projeto do deputado centrista Frédéric Descozaille, do partido do presidente Emmanuel Macron. Ao defender o texto, o deputado afirmou que a limitação das promoções “protege empregos” e argumentou que a corrida por preços baixos ameaça a sobrevivência de indústrias locais, inclusive as filiais francesas de marcas internacionais.

A nova lei também favorece os fabricantes no momento das negociações anuais de preços com o varejo: se ambos não chegam a um acordo, os supermercados não poderão mais continuar aplicando as tarifas anteriores e os produtores poderão decidir suspender as entregas.