DOUTOR.
[Toni Garrido / Bino / Da Gama / Lazão, Cidade Negra, Sobre Todas As Forças, 1994]
Ó doutor, tem que me ajudar
Eu tô com dor,
Não sei doutor
No que vai dar.
Desci pro asfalto
Subi na vida, e depois vi
Que a intenção da autoridade
Não resume nada aqui.
Aqui estou,
Sua licença para aproxegar
“Cê” me desculpe mas eu vou falar
Sou nordestino honesto, trabalhador
Com oito bocas para sustentar
E a nêga diz que tem mais um
pra chegar
Subindo o morro onde sou morador
Mão na cabeça encosta prá lá
Félix Pacheco não adiantou
Não tenho culpa
Se por lá rolou
De madrugada rolou ban-ban-ban.
Eu vou, vou voltar pro meu sertão
Pois aqui não fico não
Quero mais que água
Pra viver.
Descobri
Um caminho de ilusão
Conterrâneo coração
Nesta terra não quer mais
Sofrer
Oh, doutor! Tem que me ajudar!
Eu tô com dor, não sei doutor, no que vai dar!
Oh, doutor! Tem que me ajudar!
Eu tô com dor, não sei doutor, no que vai dar! (bam-bam!)
Lá vem promessa do planalto central! (bam-bam!)
Tanta conversa e a gente sem comer! (bam-bam!)
Currais Novos, Talo Seco, Manguezal (bam-bam!)
Balbuciar de economês pra te envolver!
Ó Doutor...
Ban, ban.
PROBLEMATIZANDO!!!
1) – Quais tipos de dores são retratadas nesta letra da música? Justifique sua resposta.
2) – Quem são os “doutores” com os quais a letra da música procura estabelecer uma interlocução? Justifique sua resposta.
3) – Por que, se for nordestino, negro, pobre, índio...é preciso explicar que é “honesto e trabalhador”? Justifique sua resposta.
4) – Quem são as pessoas consideradas responsáveis pela violência, pelo “ban-ban-ban”? Justifique sua resposta.
5) – Como você analisa a questão do sofrimento, da dor? É predestinação? Quais as soluções para este problema que assola milhões de brasileiros?
6) – Se temos dinheiro para importar carros luxuosos, por que não teríamos para comprar comida? Justifique sua resposta.
7) – Se temos bilhões para cobrir o rombo provocado por meia dúzia de banqueiros, não vamos ter dinheiro para comida, saúde e educação? Justifique sua resposta.
8) – Nosso salário mínimo dá para “oito bocas”? Se não, por que motivos os governos insistem em mantê-lo em patamares tão baixos?
9) – Por que nas camadas mais pobres da população o número de filhos tende a ser maior, como retrata a letra desta canção “(...) Com oito bocas para sustentar, E a nêga diz que tem mais um pra chegar (...)”? O que explica esse fenômeno?
10) – Compare o “(...) Quero mais que água Pra viver. (...)” desta canção com o (...) Bebida é água (...) Você tem sede de quê? da música Comida dos Titãs que já trabalhamos num Podcast anterior.
11) – De quê fenômeno retrata o autor da letra desta canção quando afirma: “Eu vou, vou voltar pro meu sertão, Pois aqui não fico não (...) Descobri, Um caminho de ilusão, Conterrâneo coração, Nesta terra não quer mais Sofrer (...)”