
Curioso por Ciência #96: Pesquisa revela que protocolo intensivo antes da cirurgia melhora controle do câncer colorretal
Curioso por Ciência - USP
O câncer colorretal é uma doença séria e, muitas vezes, o tratamento envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Mas nos últimos anos uma nova estratégia começou a ganhar destaque: tratar mais intensamente antes da cirurgia para tentar evitar que o câncer volte ou se espalhe pelo corpo. Esse é o tema do Curioso por Ciência desta semana.
Tradicionalmente, os pacientes com câncer colorretal passam primeiro por um tratamento chamado quimiorradioterapia neoadjuvante, que combina radioterapia com quimioterapia antes da cirurgia. Esse método funciona, mas ainda tem limitações: risco de o tumor voltar em outros locais, efeitos colaterais e, em alguns casos, a necessidade de uma colostomia definitiva, que é quando parte do intestino é desviada para uma bolsa coletora.
Uma estratégia mais recente, conhecida como neoadjuvância total, antecipa todas as etapas do tratamento e inclui mais quimioterapia antes da cirurgia. Um dos protocolos mais conhecidos é o TNT-RAPIDO, que já tinha mostrado bons resultados em estudos internacionais. A pergunta é: será que esses resultados se repetem também na prática, especialmente em pacientes de hospitais públicos brasileiros?
Para responder a isso, pesquisadores analisaram os prontuários de 202 pacientes com câncer colorretal tratados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ao longo de 14 anos. Eles compararam dois tratamentos: QRN convencional, com radioterapia de longa duração e quimioterapia; TNT-RAPIDO, com radioterapia mais curta e intensa, seguida de quimioterapia reforçada. Depois, avaliaram os principais resultados oncológicos desses pacientes, como mortalidade, metástases e necessidade de colostomia definitiva.
Os resultados chamaram atenção. O protocolo TNT-RAPIDO apresentou: menos metástases, menor mortalidade, mais pacientes em vigilância ativa, ou seja, acompanhando a doença sem necessidade imediata de cirurgia, e mais pacientes sem sinais de câncer durante o período de acompanhamento. Em outras palavras, o TNT-RAPIDO parece proteger melhor o corpo contra a disseminação da doença e manter mais pessoas vivas e livres de tumor.
Esses achados reforçam que o TNT-RAPIDO pode ser uma estratégia poderosa para tratar o câncer colorretal avançado, especialmente no Sistema Único de Saúde.
Ele reduz o risco de a doença se espalhar, diminui a mortalidade e ainda aumenta as chances de o paciente ser acompanhado sem cirurgia imediata, o que pode preservar a função intestinal e a qualidade de vida.
A pesquisa Comparação entre a quimiorradioterapia neoadjuvante convencional e a neoadjuvância total aos moldes do RAPIDO trial para o tratamento do adenocarcinoma de reto não metastático: experiência em hospital universitário do Sistema Único de Saúde é parte do doutorado de Viviane Oliveira Marcacine, orientada pela professora Fernanda Maris Peria, do Programa de Pós-Graduação em Oncologia Clínica, Células-Tronco e Terapia Celular, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, concluída em 2025.