097 - Ivo Meirelles
22 December 2020

097 - Ivo Meirelles

Credo Provocare
About

Nosso convidado é cantor, compositor, guitarrista, ritmista e já foi presidente de Escola de Samba. Taxado como excêntrico, megalômano, autoritário, egocêntrico e com fama de “estourado”, podemos dizer que nosso entrevistado é também contraditório. Vejamos! “Não quero mudar daqui jamais. Minha identidade está no morro da Mangueira!” Aos 52 anos de idade, o carioca Ivo Meirelles vive atualmente em São Paulo e explica o porque contradisse a sua afirmação, que tem relação com uma de suas expulsões da diretoria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira pelos traficantes : “Na última [expulsão] agora em 2013, eu cheguei a dar uma declaração para várias TV’s, porque eu fui para a Mangueira, havia sido expulso no dia anterior e fui para casa, pensei bem e falei chega. Voltei lá, contratei seguranças, abri a quadra da Mangueira, troquei todas as fechaduras e disse que quem manda na escola de samba é o presidente da escola, não é traficante nenhum. E passei um ano de cão, foi meu pior ano de toda a vida, ir para a Mangueira, comandar a Mangueira cercado de seguranças, porque os traficantes queriam me matar”. Ivo Meirelles conta que foi um conselho de sua filha de 19 anos que fez com que saísse do Rio de Janeiro. O sambista ainda fala porque escolheu São Paulo para morar: “Eu tenho uma mãe que me abandonou aos 3 anos de idade e veio para São Paulo. Eu nunca tive relações afetivas com a minha mãe. Eu sei que ela é a minha mãe, do amor que ela tem por mim, mas pela falta de convivência eu não tenho a lembrança do carinho materno. Então escolhi São Paulo para me reaproximar da minha mãe”. Na década de 1980, quando entrou na escola de samba, Ivo Meirelles foi autor do samba-enredo campeão do ano de 1986, ainda que a contragosto da diretoria da época: “quando eu ganhei um samba da Mangueira em 1985, para o desfile de 1986, era outubro de 85, três vozes da velha guarda da Mangueira diziam que aquele samba daquele moleque, era um samba de bloco, e que a escola iria cair para o segundo grupo, e a escola ganhou o carnaval, aquele samba é um dos mais conhecidos hoje na história da Mangueira”. Sobre a vida no morro da Mangueira e a rotina na escola de samba homônima, o sambista conta: “eu morei na Mangueira até meus 48 anos de idade e fui obrigado a sair, fui expulso do morro da Mangueira, e antes de ser expulso do morro da Mangueira, eu sempre brigava muito pelo poder da escola de samba. Eu achava, e acho, que é tipo casa grande e senzala... A casa grande a quadra da escola de samba, onde as pessoas chegam lá e dominam toda situação; e a senzala o morro com 30/40 mil habitantes fazendo o serviço braçal. Eu, enquanto estive lá, briguei o tempo inteiro para isso não acontecer”. Tráfico, morro, jogo do bicho e Carnaval! Provocador, Ivo Meirelles fala também sobre a música no país: “no Brasil, se alguém se sentir realizado musicalmente, é um egoísta”. Antônio Abujamra lê Fernando Aguiar