Matthew Lawrence e Denise Donelli estrearam-se nos Jogos Olímpicos de Paris

Matthew Lawrence e Denise Donelli estrearam-se nos Jogos Olímpicos de Paris

RFI Português
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Os nadadores moçambicanos Matthew Lawrence e Denise Donelli integram a missão olímpica de Moçambique e estrearam-se nos Jogos Olímpicos de Paris.

O atleta moçambicano Matthew Lawrence está a viver em Portugal desde 2022, no âmbito de uma bolsa atribuída pelo Comité Olímpico Internacional, o nadador olímpico participou na prova dos 100 metros bruços e não conseguiu seguir em frente, neste que foi o momento mais importante da carreira de Matthew Lawrence até ao momento.

RFI: Como é que correu a sua prova?

Matthew Lawrence: A sensação foi incrível. Esta é a primeira vez que estou nos jogos e é o palco maior do mundo, já participei em dois mundiais e nem se compara porque há tantas pessoas a gritar e a apoiar. A prova o ensino correu assim tão bem e estava à espera de nadar mais rápido, mas acontece e não posso estar muito zangado.

Sentiu que deu o melhor de si, os seus adversários foram mais rápidos?

Sim, eu acho que eu dei tudo que tinha. Cheguei no fim completamente cansado e não tinha mais para dar. Também estava muito nervoso antes da prova, o que é normal e acho que isso também influenciou o meu tempo.

Falando dos tempos, 1'04'95 é muito rápido?

É rápido, mas no nível mundial ainda não está onde eu quero estar. Ainda só tenho 20 anos e só saí de Moçambique há dois anos. E em Moçambique, como sabemos, não há as melhores condições. Claro que tentámos tudo, mas nos últimos dois anos consegui melhorar de três segundos, que já é muito. Por isso acho que nos próximos quatro anos tem possibilidade de chegar ao nível mundial.

Como é que são as águas da piscina olímpica de Paris, são mais lentas porque estavam previstos muitos recordes?

Não sei porque normalmente a piscina é um pouco mais funda. Esta piscina só tem 2 metros e 15 e o normal são três metros. Não sei se isso influencia, eu senti-me bem na piscina, mas os tempos que foram vistos até agora não foram assim tão especiais. Nos 100 bruços, na final estava à espera que fosse muito mais rápido e não foi.

Tem 20 anos, foi um dos porta-bandeiras de Moçambique na cerimónia de abertura destes Jogos Olímpicos de Paris. O que é que se sente quando está num barco a representar o seu país, Moçambique? 

Não estava nada à espera quando eles decidiram que ia ser eu. Fiquei sem palavras e a sensação também não consigo descrever. Foi mesmo incrível.

Apesar da chuva, foi uma cerimónia vivida intensamente?

Exactamente. A chuva no início não foi assim tão mau, mas para o fim já estava a ficar mais frio e eu não fiquei até o fim. Bastou o barco atracar e eu saí logo e voltei para a vila porque ia competir no dia seguinte. Aqui na vila olímpica estou com os meus amigos, basicamente a minha família, porque estamos todos juntos. Eles disseram-me que foi incrível, além da chuva, porque eles apanharam muito frio e não tinha onde se abrigar da chuva.

A delegação de Moçambique é composta por sete atletas. Essa entre ajuda, esse apoio é permanente entre vocês durante estes Jogos Olímpicos?

Sim, eu acho que sim. Estamos aqui uns para os outros. Quando alguém luta ou nada, estamos a apoiar, estamos a ver o que podemos ver. Há provas a que não podemos ir, mas estamos aqui na vila a ver na  televisão e mandamos mensagens. Há uma atleta que está fora, mas também comunicamos com ela todos os dias para ver como é que está a correr.

A Deizy está em Marselha nas provas de vela...

Exactamente e estamos sempre em contacto e se podemos ajudar com a ansiedade.

Como é que controla esta ansiedade de representar o seu país, de ser um dos melhores atletas do seu país e de estar aqui no certame, onde só estão os melhores dos melhores?

Isso é boa pergunta. Acho que ainda não cheguei a esse ponto para perceber como posso usar a ansiedade para nadar mais rápido. Não sei como explicar que eu faço isso e sinto que consigo.

Há quem fale de adrenalina dos atletas, isso impulsiona uma energia?

Sim, é verdade. A adrenalina faz muitas coisas. Tu podes achar que não és capaz, mas com adrenalina consegues fazer. Por exemplo, nos 100 bruços ninguém estava a espera que Nicolo Martinenghi, da Itália, ganhasse, mas com a adrenalina conseguiu.

E agora preparar-se para os jogos de 2028?

Não sei. Agora vou de férias, Vou descansar e depois das férias vou pensar nisso. É muito provável que sim. Ainda vou estar em Portugal alguns anos para acabar o meu curso.

Falando um pouco no seu percurso, está a viver há cerca de dois anos em Portugal. O que é que isso mudou? 

Eu fui para Portugal estudar na faculdade e também para melhorar o treino. Consegui a bolsa de World Aquatic, era suposto ir para os Estados Unidos, mas se eu fosse não ia estudar. Também tinha uma atleta que era suposto sair do país para treinar, ir para a Ucrânia, mas depois começou a guerra e não teve como sair do país. Então eu ofereci a bolsa.. não foi bem oferecer, mas eu pus o nome dele para bolsa. Este ano foi oferecido novo, mas calhou aqui em França, não ia conseguir ter porque não quero prejudicar os meus estudos. Por isso vou ficar em Portugal e decidir onde vou treinar.

O que é que está a estudar?

Estou a estudar gestão na Universidade Nova.

É difícil ser um atleta olímpico que está a tirar um curso superior?

Sim, não posso mentir, está a ser muito difícil. Estou como part time student, tem alguns apoios, mas sinto que não é um apoio suficiente. Ainda há coisas que faltam. Por exemplo, nos Estados Unidos, é possível ser atleta e estudar. Acho que em Portugal estão a tentar mudar, mas ainda não têm esse pensamento norte-americano.

Imagino que nos últimos meses e anos se tenha preparado todos os dias a pensar nos Jogos Olímpicos e nestas provas. Existe agora um vazio?

Eu acho que ainda não cheguei a esse ponto. Acho que quando eu sair de Paris me vou sentir um pouco assim. Não vai ser assim tão pesado porque eu sei que ainda tenho coisas pela frente e eu ainda sou jovem. A minha colega Denise, que já tem mais idade, vai parar depois dos jogos, pelo menos é que ela diz. Não sei se ela vai conseguir parar totalmente, mas ela quer. Acho que quando eu chego a esse ponto, também vou sentir isso. Mas como eu sei que ainda tenho a fazer pela frente, acho que ainda não vou sentir esse peso.

O desporto é um vício?

Exactamente. Exactamente. É um vício e  acho que não consigo viver sem desporto. Se eu decidir parar de competir, vou nadar na mesma. Não há como me tirar da piscina.

A atleta olímpica, Denise Donelli, nadou os 100 metros costas na arena de Paris, em La Defense, conseguiu melhorar a marca pessoal. A nadadora moçambicana conta-nos como se preparou nos últimos sete anos para participar nos Jogos Olímpicos.

RFI: Como correu a prova dos 100 metros costas?

Denise Donelli: Fiz aquilo que eu queria fazer e foi muito bom. Consegui baixar o meu tempo, há quatro anos que não conseguia. Fiz 1:08.73 minutos, melhorei a minha marca na prova e esse era o meu objectivo.

Como é que se prepara para ser mais rápida dentro de água?

Este ano trabalhei mais na força, troquei de treinador e foi muito treino na força e na quantidade. Trabalhamos muito no ginásio e na água. 

O Matthew, que também representa a delegação moçambicana nos Jogos Olímpicos de Paris, falou-nos do facto de a piscina ser menos profunda desta vez. Sentiu uma diferença?

Como eu nado costas, não senti a diferença. Acho que ele sentiu porque nada bruços, especialmente no salto porque vais mais para baixo. Para mim não mudou nada.

O que é que se sente quando se entra numa arena olímpica? Imagino que seja emocionante.

Muito, muito emocionante. O público estava bem presente mais do que nos mundiais. Antes de fazer a prova, a adrenalina estava muito alta.

Esta é a sua estreia em Jogos Olímpicos, correu bem?

Sim, foi a minha primeira vez. Eu queria fazer os Jogos Olímpicos do 2021, mas não consegui. Não me aceitaram para fazer os Jogos e queria parar, mas o meu sonho era estar nos jogos, então continuei a nadar até agora.

Depois de Paris pensa em 2028?

Acho que não, porque já tenho 28 anos, pode ser que faça uma outra época. Eu queria parar, mas como ocorreu bem esta prova, não sei se eu vou parar, mas não vou nadar até 2028.

Como é que se sabe e quando é que se sente que é tempo de parar?

Não sei porque eu também agora não sei para mim se continuarei a nadar. O problema é também trabalhar e nadar porque a vida começa a ser complicada. Tenho que fazer uma escolha.

Até o momento, qual foi o momento mais intenso que viveu aqui em Paris?

Quando saí da minha prova, estavam aqui os meus pais e minhas amigas. Estavam fora da água a gritar e a chorar. Foi muito emocionante.

Foram quatro anos de preparação para estar aqui?

Foram mais porque antes preparei-me para os Jogos de 2021. Foram sete anos para vir aqui e foi incrível.

É difícil a vida de uma atleta olímpica?

Sim, principalmente, se temos de trabalhar também. Os meus dias são grandes; acordo às oito, trabalho, nado, depois volto a trabalhar, eu volto para casa às 23 horas. É muito trabalho.

Estamos aqui na Vila Olímpica, em Paris. Há uma energia positiva entre atletas?

Sim muito e estou a conhecer muita gente de todos os cantos do mundo. Todos estão felizes e concentrados nos próprios treinos, mas há uma energia muito positiva.

Em natação existem problemas de financiamento. É difícil financiar atletas de natação, continua a ser o caso hoje?

Se é, acho que é um caso que é mais ou menos em todo o mundo. Enquanto moçambicana e italiana também porque é um desporto que não é muito seguido, então ainda não há muito dinheiro investido nesta modalidade.