Marina Correia: "Sou uma ponte entre Cabo Verde e França"

Marina Correia: "Sou uma ponte entre Cabo Verde e França"

RFI Português
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Marina Correia é a embaixadora da equipa olímpica de Cabo Verde em França. Campeã mundial de longboard dancing e figura de destaque entre os jovens atletas em França, Marina disse em entrevista à RFI que se sente uma ponte entre os dois países.

Marina Correia é uma figura incontornável do desporto em França Em 2020, esta cabo-verdiana de 26 anos instalada em Nice, no Sul do país, desde os 14, foi consagrada campeã mundial de long board dancing freestyle. Poucos anos depois, Marina é actualmente embaixadora da equipa olímpica de Cabo Verde em França, um grande motivo de orgulho e uma forma especial de viver estes Jogos Olímpicos de Paris como explicou em entrevista à RFI.

"É uma honra para mim ser embaixadora da equipa de Cabo Verde em França. Quando soube, fiquei muito contente porque nasci em Cabo Verde, mas vivo cá em França, por isso tenho uma dupla cultura e penso que foi uma escolha natural da parte deles. Estou muito contente"

Marina acompanhou os atletas olímpicos num estágio em Parthenay, no Oeste de França, antes dos Jogos Olímpicos. Foram momentos emotivos, de tranquilidade e de paz antes da confusão de Paris.

"Vivemos muitas emoções. Estivemos juntos realmente como uma pequena família, brincávamos uns com os outros e era muito descontraído. Não havia muita pressão, ao contrário do que se poderia esperar. Estávamos muito relaxados, brincávamos uns com os outros e, ao mesmo tempo, continuámos a treinar muito. Acordávamos cedo e tínhamos uma rotina de treino. Portanto, a preparação física é muito importante. Depois disso, havia os treinos e muito descanso. Eles têm cuidado com o que comem, mas na verdade é mais o importante era passar tempo juntos. Mais com a família, mais descontração do que pressão. Porque acho que a pressão está, de facto, nos próprios Jogos. E entre nós, vamos dar-nos a força. Dissemos a nós próprios que tudo ia correr bem e que, apesar de sermos um país pequeno que o mundo não conhece, somos um grande país porque somos muito pequenos no mundo, mas brilhamos e essa é a beleza de Cabo Verde"

Para Marina Correia viver estes Jogos Olímpicos ao lado da equipa cabo-verdiana tem sido um privilégio.

"Sou actualmente a ponte entre os dois países, através da minha forma de comunicar com a diáspora, com os cabo-verdianos que vivem no país. Sinto que é diferente de alguém que nasceu aqui. Eu nasci em Cabo Verde, por isso sei como é a vida lá. Cresci lá até aos catorze anos. E depois cresci aqui em França, desde os catorze anos até aos 26. Por isso, de facto, sou metade-metade dos dois países e sinto-me tanto francesa como cabo-verdiana. Com a minha idade, 26 anos não é algo que acontece a todos serem escolhidos como embaixadores num evento como os Jogos Olímpicos. Para mim é um privilégio. Portanto, há muito trabalho por detrás disto. É também um privilégio conviver com grandes desportistas, ter várias oportunidades. São experiências que levarei para o resto da minha vida, e só tenho boas recordações"

Chegada a França aos 14 anos, foi no desporto, nomeadamente no longboard, um skate mais comprido que permite outro tipo de movimentos, que Marina encontrou um ponto de contacto com os outros jovens da sua idade, já que para além da mudança de país teve também de se adaptar  a uma nova língua.

"Cheguei a França, a Nice, com a minha mãe, a minha irmã mais nova e o meu padrasto, que é francês já cá estava. Eles casaram-se, viemos para cá por razões familiares, e, quando cheguei, tentei integrar-me um pouco. Eu jogava futebol, mas tive de me adaptar a esta nova cultura, a este novo país, e fazer novos amigos. Havia também a questão da língua. Tinha de aprender francês. No início foi um pouco difícil, especialmente na escola. Mas com o tempo, através do desporto, do longboard, consegui encontrar a minha identidade, afirmar-me, gostar de mim tal como sou e, gradualmente, construir uma carreira através da dança no longboard. Tudo aconteceu por acaso. Tinha uns amigos na escola quejá praticava, o que despertou a minha curiosidade e faço-o desde 2016, ou seja, há quase dez anos"

O longboard pode ser considerado com um primo do skate, sendo menos praticado e não sendo ainda modalidade olímpica.

"Não é a mesma modalidade do skate, somos da mesma família, mas é muito diferente. Ainda não está nos Jogos Olímpicos. O longboard é uma prancha mais longa que se pratica em terrenos planos O skate, por outro lado, é mais praticado em skateparks, embora também se possa fazer em terreno plano. Mas não é de todo a mesma disciplina, mesmo que sejam parecidos. Gostaria que o longboard se tornasse uma disciplina olímpica. Penso que o longboard tem um lugar nos Jogos Olímpicos, tal como o skate, o breakdance e o BMX. Mas, neste momento, acho que ainda não estamos em condições de estar nos Jogos Olímpicos, porque ainda há problemas com o júri. Ou seja, ainda não está pronto para os Jogos Olímpicos. Penso que ainda vai demorar algum tempo até estarmos realmente prontos"

Quanto ai seu futuro, Marina gostava de vir a representar a França ou Cabo Verde nos Jogos Olímpicos quando o longboard integrar as modalidades olímpicas, mas também quer dedicar-se à sua carreira de modelo e continuar a contar a sua história em livro ou documentário.

"Espero que evoluir no bom sentido e espero que um dia o longboard esteja nos Jogos Olímpicos e que eu passa representar Cabo Verde ou a França. Vai ser um dos dois países, a gente vai ver. E eu gostaria muito de escrever um livro também e fazer um filme, participar em algum filme ou mesmo realizar o meu próprio filme da minha carreira. Eu vivo o dia a dia evejo como as coisas correm, porque também tenho uma carreira como modelo e estou, a brincar com estas duas carreiras", concluiu.