Jogos Olímpicos abrem "novos caminhos para os atletas"
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A pugilista moçambicana, Alcinda Panguana, perdeu no combate frente a chinesa Yang Liu, campeã mundial na categoria dos 66 kg, e não conseguiu o apuramento para os oitavos-de-final do torneio de boxe feminino nos Jogos Olímpicos de Paris. "Não foi tão gratificante quanto eu queria, mas dei o melhor de mim", afirmou a atleta olímpica moçambicana.
RFI: Está satisfeita do seu desempenho nos Jogos Olímpicos de Paris?
Alcinda Panguana: As provas aqui nos Jogos Olímpicos de Paris correram bem, mas não positivamente porque não consegui nem chegar aos quartos-de-final. Então para mim não foi tão gratificante quanto eu queria, mas deu para estar e acho que dei o melhor de mim.
Teve uma vitória por 5-0 contra a eslovaca Diane, Depois foi afastada pela chinesa Yang Liu. Como é que viveu esse combate?
Primeiro quando fui ao combate nem sabia que a Yang Liu já estava à espera. Eu não vi no sorteio o nome dela e achava que ia competir com as outras, que seria a China Taipé. Eu também ouvi dizer que ela já não estava a competir, mas então quando vi ali foi uma surpresa, já sabia daquele momento que eu não ia conseguir passar para a próxima fase. Acho que o país aqui nos Jogos Olímpicos fala mais alto que a própria competição. Moçambique contra a China não havia chance de passar. Ainda assim, fui tranquila e tentei aceitar o que ia lá encontrar e joguei tranquilamente.
O que é que se sente antes de uma competição como esta em que já se sabe que vai ser uma prova difícil?
Eu acho que tenho um Deus grande porque sempre me tranquiliza perante este tipo de situação. Acordei muito calma, não fiquei tão nervosa porque acho que se tivesse ficado muito nervosa, nem um golpe eu não teria conseguido tirar e nem ia terminar os três assaltos. Acordei muito calma e disposta a aceitar qualquer decisão que tivesse lá no ringue.
Esta é sua segunda participação em Jogos Olímpicos. Existem muitas diferenças entre Tóquio e Paris, nomeadamente, volta a haver presença do público?
Existem muitas diferenças. Em Tóquio eram mais acolhedores, eram mais verdadeiros, mais abertos do que estamos a notar aqui porque não são abertos, não são verdadeiros. Cada país tem as suas leis, tem suas regras, tem o seu modo de preparar um campeonato. Não podemos condenar a cultura de cada um. Temos de apoiar e agradecer. Quando falo da abertura, falo das pessoas em si. Em Tóquio, todos os trabalhadores demonstravam a abertura com o rosto. Tu vês que se está disposto a ajudar. Agora, não sei se é por causa da língua, mas de Tóquio também não falam português, aqui também não falam muito em inglês. Mas tu vês pela abertura, pela recepção que em Tóquio eles estavam dispostos a ajudar em qualquer coisa. Eles estavam dispostos a acolher todo mundo, aqui algumas pessoas parecem obrigadas.
Que emoções sentiu durante as competições?
Eu tive aqui muitas emoções, diferentes das de Tóquio talvez porque estávamos naquela situação de pandemia Nós não circulávamos muito, aqui estou a circular muito, estou a ter intercâmbio com vários atletas. Então isso é uma emoção e tanto. Acho que é por isso que eu me qualifiquei, para vir ter esse intercâmbio com vários atletas.
O que é que se ganha nessa troca com outros atletas?
Eu estou a descobrir que o atleta, não por ser bom ou atleta do mundo, ele deixar de ser humilde. Ele é atleta do mundo, mas ainda continua a ser humilde. Eu acho que é isso que faz dele um atleta olímpico, um verdadeiro atleta com humildade e respeito que carrega dentro de si.
É difícil ser atleta olímpica?
É difícil, sim, porque para a nossa preparação exige muito esforço. Tu tens de abdicar de muitas coisas, de várias pessoas, famílias, amigos, convivências. Tens de abdicar disso e dedicar-te aos treinos. Se tu trabalha tens que trabalhar e treinar, focar nessas duas coisas. Se tu estudas tens que estudar e treinar, focar nessas duas coisas. Ser atleta olímpico exige muita disciplina, porque um atleta olímpico não se pode expor. Um atleta olímpico tem que saber estar e não se pode envolver em brigas na rua, por exemplo. Um atleta olímpico tem que ter respeito, humildade e, acima de tudo, trabalho e persistência.
Já pensa nos próximos Jogos Olímpicos?
O futuro pertence a Deus porque estamos a ouvir por aí que a modalidade de boxe não fará mais parte dos Jogos Olímpicos nos próximos anos. Vamos participar nos outros torneios porque o boxe vai parar, não. O boxe vai continuar, mas noutros torneios. Só para os Jogos Olímpicos é que parece que vai ser banido.
Como é que reage a esta decisão?
Ainda não pensei muito a fundo no assunto, não procurei saber os reais motivos. Só ouvimos zunzuns por aí. Ainda vamos ficar à espera enquanto treinamos e fazemos outras competições.
Estar aqui, ser atleta olímpica é também um salto para abrir novos caminhos na sua carreira?
É sempre um salto que abre novos caminhos numa carreira, principalmente para atletas que querem fazer boxe profissional. A partir deste momento é que alguns patrocinadores conseguem ver o talento de cada um e decidem apostar nos verdadeiros atletas profissionais.
Por que motivo ainda há poucas mulheres pugilistas em Moçambique ?
Porque no nosso país é difícil as mulheres engrenarem-se no boxe porque é visto como uma modalidade muito difícil e agressiva. É considerada como sendo uma modalidade só para homens. Então, às vezes é muito difícil conquistar algumas mulheres. porque elas têm receio, mas acabam aderir por ver que há outras mulheres que não têm machucadas na cara.
O que é que ganha aqui em Paris, nos Jogos Olímpicos?
Ganho ter conhecido o país, ter convivido com vários atletas e ter adquirido muita experiência.