Canadianos vivem guerra comercial entre "preocupação" e "patriotismo"
12 March 2025

Canadianos vivem guerra comercial entre "preocupação" e "patriotismo"

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O aumento das taxas aduaneiras impostas por Donald Trump está a dominar a vida dos canadianos, tendo já impactos importantes nos preços dos produtos e matérias-primas. Ao mesmo tempo, o país está mais unido que nunca para lutar contra a hegemonia dos Estados Unidos.

Desde a tomada de posse de Donald Trump que as relações entre os Estados Unidos e o Canadá são dominadas por uma guerra comercial levada a cabo pelo Presidente norte-americano, primeiro para que os canadianos reforçassem o combate à imigração ilegal e entrada de fentanyl no país e, mais recentemente, para que o Canadá se torne o 51º estado norte-americano.

Esta guerra de aumentos constantes de taxas aduaneiras está a deixar os canadianos muito preocupados, mas também unidos – algo inédito num país com 10 províncias muito diferentes entre si. Carina Paradela, portuguesa que vive no Canadá há quase duas décadas e directora de operações da associação First Portuguese Canadian Cultural Center, em Toronto, dá conta da preocupação da população, mas também do aumento dos preços que já está a afectar o quotidiano de todos os canadianos.

"Estamos a olhar para este momento como sendo algo bastante preocupante, especialmente com a subida de preços de material, principalmente tudo o que é importado de lá e também de uma maneira até bastante patriótica. As pessoas estão-se a juntar muito para tentar comprar apenas produtos canadianos e tentar apoiar empresas canadianas. Não vou dizer que há um boicote, mas as pessoas tentam mesmo comprar apenas os produtos canadianos. Aliás, uma das medidas do governo na nossa província [Ontário], foi retirar todo o álcool americano em venda", explicou Carina Paradela.

O governo de Ontário é liderado por Doug Ford que para além da retirada das bebidas alcoolicas norte-americanas das prateleiras dos supermercados, ameaçou aumentar o custo da electricidade que o Canadá exporta para os Estados Unidos, já que Ontario faz fronteira com vários estados, incluindo Minnesota, Nova Iorque ou Michigan. No entanto, perante a retaliação do Presidente norte-americano que disse que iria aumentar ainda mais as tarifas sobre matérias primas como o aço, Doug recuou ontem à noite.

Estima-se que haja cerca de 400 mil portugueses no Canadá e a a associação First Portuguese Canadian Cultural Center, fundada nos anos 50, é um dos mais importantes polos de convívio e auxílio aos portugueses no país. Após décadas de  presença no Canadá, muitos portugueses e luso-descendentes são hoje empresários e trabalham no sector da construção civil, um sector visado pelas sanções norte-americanas e que tem um impacto abrangente na economia canadiana.

"Dentro da comunidade portuguesa, pelo menos aqui em Toronto, a maior parte dos empresários são do sector da construção civil e muitos dos materiais de construção vêm da América. E claro que já está a haver um impacto profundo em termos não só de exportação e importação de quantidades de produto, mas também de preços. E isto afecta depois o mercado imobiliário, o que acaba por afectar toda a economia do país, portanto, aos poucos já começa a ser preocupante, principalmente nesses sectores", indicou a dirigente associativa.

As acções de Donald Trump têm tido o efeito surpreendente também de unir o Canadá, um país que devido à sua dimensão e á sua diversidade cultural nem sempre se mostra completamente alinhado internamente. Uma sondagem recente, mostra que os canadianos da província do Quebec estão mais apegados emocionalmente ao Canadá e também mais orgulhosos de serem canadianos - um aumento de 15% e 13% para 45% e 58%, segundo dados de Fevereiro de uma sondagem levada a cabo pelo Instituto Angus Reid.

É também neste sentimento de unidade que as palavras do novo primeiro-ministro, Mark Carney estão a encontrar eco, especialmente quando ele afirma que se deve preservar a forma de viver canadiana e que o Canadá "jamais" integrará os Estaods Unidos da Amércia. Este crescente patriotismo é também uma constatação de Carina Paradela.

"É engraçado isso, não é? Mas é isso que verificamos. Acho que as pessoas conseguiram perceber que somos um país muito grande, mas unido. Às vezes é difícil, quando se trata de um país tão grande. Há uma grande distância entre províncias. Mas foi uma maneira fácil, que dizer, não é fácil, mas de nos unirmos contra um mal colectivo", concluiu.