Atletas moçambicanos ganharam "experiência e reconhecimento" em Paris

Atletas moçambicanos ganharam "experiência e reconhecimento" em Paris

RFI Português
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Os sete atletas olímpicos que representam Moçambique nos Jogos Olímpicos de Paris ganharam "presença, experiência e reconhecimento", sublinhou o Secretário-geral do Comité Olímpico de Moçambique, Penalva Cézar.

RFI: Como é que têm corrido as provas dos atletas moçambicanos nestes Jogos Olímpicos de Paris?

Penalva Cézar: As provas estão a correr satisfatoriamente naquilo que são as nossas previsões. Os atletas portaram-se de uma maneira razoável. Todos os atletas que competiram até agora superaram aquilo que são as suas marcas, principalmente na natação, os atletas superaram as suas melhores marcas pessoais. No judo foi uma prova que não correu tão bem como desejávamos. Já no boxe, as coisas apresentaram-se de uma outra maneira, uma vez que os nossos dois atletas, tiveram um comportamento muito positivo na primeira eliminatória e foram vencedores inequívocos. A segunda eliminatória não correu tão bem para os nossos atletas, principalmente para o atleta masculino, que na opinião geral terá ganho combate, mas há coisas esquisitas que só os especialistas podem explicar. Particularmente em relação à disciplina de boxe.

Está a falar de Tiago Muchanga que foi afastado por 2-3 pelo mexicano Marco Verde. Nos oitavos, Tiago Muchanga venceu dois dos três assaltos e o mexicano marcou apenas um, mas três dos cinco juízes deram como vencedor o seu adversário, Marco Verde.

Pois é... é a tal coisa subjectiva. Daí que as outras modalidades de combate, a esgrima e outras assim têm outro tipo de pontuação electrónica que é para sairmos desta coisa de ter dúvida. Uma coisa é nós, o público, nós, os apoiantes, acharmos que os nossos atletas estão a pontuar. Provavelmente não estão e penso que será altura do boxe pensar numa outra forma de pontuação porque se levantam sempre essas dúvidas e dá a impressão de que os países mais pequenos são sempre penalizados.

Quanto à Alcinda, eu direi que foi um combate dividido e aqui pode se compreender que tenha corrido mal. Mas é assim, alguém tem que vencer. Acho que foi uma experiência positiva. Para a Alcinda estas são as suas segundas Olimpíadas e por isso penso que a lição aqui foi bem aprendida. Temos mais quatro anos pela frente, são mais quatro anos de trabalho.

Moçambique ainda pode conquistar a segunda medalha para o país e a primeira aqui nos Jogos de Paris, nas provas de vela ou atletismo?

Medalhas não vamos conquistar de certeza absoluta. É preciso notar que o tempo em que qualificou o Sabino para Paris não é exactamente um tempo de qualificação, porque ele é um atleta que veio aqui a Paris no âmbito da universalidade, o que me deixa mais tranquilo é que é um atleta muito novo. Ele é júnior, tem mínimos para o campeonato mundial de júnior e se as coisas correrem normalmente, pensamos que ele se vai qualificar para Los Angeles. É um atleta sobre o qual nós não colocamos absolutamente nenhuma pressão porque é o andar do processo de crescimento e amadurecimento, e penso que ele está bem. Se ele conseguir passar à primeira fase vai ser um bom donativo, mas se não está tudo bem, ele tem todo o tempo.

Quanto à Daisy, ela não é candidata à medalha, sabemos disso. Existem muitas nuances na vela e uma delas é provavelmente o peso da própria atleta. Tem que fazer um esforço suplementar para fazer as manobras e isso é um processo que vai também levar muito tempo. Ela participa pela segunda vez e penso cada vez que ela participa, vai acumulando experiência. Vamos ver o que acontece até o fim e só podemos desejar-lhe o melhor. Depois a velha tem essas coisas, depende da sorte; se o vento ajudar. Se na altura de virar o vento estiver lá e a vela virar é mais fácil. Neste momento não é para medalhas, mas para ela fazer o melhor.

Em Paris já se pensa em Los Angeles?

Exactamente até as nossas conversas já são viradas para Los Angeles. São conversas que se baseiam naquilo que estamos a ver todos os dias e nas coisas que estão menos bem feitas para começarmos a trabalhar no processo de preparação. Para que 2028 Moçambique tenha mais atletas qualificados. Há que reparar, nós baixámos o número de atletas qualificados de Tóquio para aqui e provavelmente achava que nós estávamos com todas as condições para pelo menos atingirmos um número igual ao de Tóquio, mas houve muitos atletas no limiar da qualificação e as coisas, infelizmente, não correram como nós queríamos. É mesmo um processo que começa para que 2028 Los Angeles corra melhor.

Como é que se constrói esse processo para 2028?

É um trabalho que envolve muita gente. Nós, no Comité Olímpico, fazemos aquilo que é a nossa parte. Em Novembro vamos reunir com as federações olímpicas para planificar o quadriénio e depois verificar quais são os atletas que têm potencial. Olhando para aquilo que são os seus resultados nos últimos dois anos e a partir daí vamos criar um plano com um cronograma que é para a participação dos atletas nas provas de qualificação. Em Moçambique, as coisas correm um pouco ao contrário; não são as federações que qualificam os atletas, quer dizer, são, mas o Comité Olímpico é quem tem que suportar as despesas todas na sua preparação e na sua participação em provas de qualificação.

São encargos importantes?

São, são quase insuportáveis. Temos que fazer tudo possível e impossível para podermos suportar isso. Por vezes, temos de facto muitas dificuldades em colocar os nossos atletas nas competições em que eles gostariam de participar. Quando você tem uma manta pequena, está frio e quer cobrir os pés, a cabeça fica descoberta e quando você quer puxar a manta para a cabeça, os pés ficam.  de fora. E aí temos que fazer o tal exercício de ver quais são as prioridades, qual é a prova mais importante e provavelmente é um handicap para nós, o facto de os atletas não conseguirem participar em todas as provas porque não há recursos financeiros. Vamos continuar a conversar com o governo porque o governo tem um papel importantíssimo para desempenhar e também o sector privado, o empresariado, para ver se conseguimos aumentar o nosso leque de patrocinadores para aí, de facto, desenvolvermos um trabalho que possa garantir que os atletas não andem preocupados sem saber se vão ou não vão, porque isso passar a ser o nosso trabalho.

O que é que Moçambique ganha na participação destes jogos daqui em Paris?

Nós ganhamos presença, nós ganhamos a experiência que os atletas precisam e, acima de tudo, o reconhecimento do trabalho que é feito, principalmente relacionado com aquilo que são as actividades que temos com o Comité Olímpico Internacional, através da solidariedade olímpica, do qual os nossos atletas são bolseiros. É necessário que a gente demonstre que as bolsas que atribuem aos atletas têm algum resultado. Infelizmente, os atletas não atingiram as finais nem atingiram as medalhas, mas os resultados demonstram que, com o tratamento mais profícuo daqui para a frente, um bocadinho mais pensado, mais programado, poderemos atingir aquilo que é para além da visibilidade do nosso país, o reconhecimento que temos que ter em relação àquilo que são os nossos adversários mundiais e, quiçá mais cedo do quanto nós pensamos atingirmos aquilo que é o nosso sonho e sonho de toda a gente atingir as medalhas.