4/6 Santa Maria pode colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa
29 July 2025

4/6 Santa Maria pode colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa

Ciência

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Na ilha de Santa Maria, nos Açores, está em marcha um projecto que poderá colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa. Trata-se do desenvolvimento de um hub espacial com foco no retorno de veículos vindos do espaço. A iniciativa é liderada pela Agência Espacial Portuguesa e visa transformar a ilha açoriana no principal ponto europeu de regresso de missões espaciais.

O projecto tem como peça central o Space Rider, veículo reutilizável europeu que será lançado a partir da Guiana Francesa e cujo regresso à Terra está previsto para ocorrer em Santa Maria em 2027. Segundo Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, o objectivo não é apenas acompanhar a nova corrida espacial, mas colocar Portugal na linha da frente de um paradigma que valoriza cada vez mais a reutilização de tecnologia e a redução de custos operacionais.

"Uma economia espacial sustentável baseia-se nos custos de acesso ao espaço. Se o custo for baixo, a economia eleva-se”, explicou Ricardo Conde, sublinhando a importância do retorno como parte essencial da cadeia de valor espacial. Ao contrário da abordagem tradicional, centrada nos lançamentos, o foco em Santa Maria será, sobretudo, o regresso: “Não queremos só lançar. Queremos recuperar. O retorno, do meu ponto de vista, é o mais importante aqui. Porque não há alternativas a nível europeu.

O conceito é claro: criar em Santa Maria não apenas um porto espacial, mas um verdadeiro ponto de acesso e retorno. Esta abordagem distingue-se de outras infra-estruturas europeias pela sua agilidade e versatilidade, essenciais para responder às novas exigências do sector, nomeadamente a chamada resposta rápida ao espaço. Neste contexto, pequenos lançadores terão um papel relevante, permitindo colocar satélites ou sondas em órbita num prazo de dias, algo particularmente útil para fins militares, de monitorização ambiental ou em situações de emergência.

Actualmente, a cadência de lançamentos na Europa é limitada. O novo lançador Ariane 6 poderá realizar no máximo nove voos por ano, contrastando com os quase 200 lançamentos anuais da SpaceX. “Se quiser lançar [um satélite] na Europa, tem de esperar. E quando precisamos de uma resposta rápida, essa espera torna-se um problema. É aqui que iniciativas como a de Santa Maria ganham valor estratégico”, referiu Ricardo Conde.

O ecossistema espacial açoriano será composto por várias infra-estruturas. No antigo kartódromo da ilha, cedido pela Câmara Municipal, será erguido o Centro Tecnológico Espacial de Santa Maria, onde se instalarão hangares com câmaras limpas e sistemas de integração. Este centro será a espinha dorsal das operações de preparação e manutenção dos veículos espaciais.

Junto ao aeroporto será construído o local de aterragem do Space Rider, uma área circular com 500 metros de raio, concebida especificamente para acolher o retorno seguro do veículo reutilizável. Além disso, no teleporto de Santa Maria, será instalada uma nova antena, já em fase de concurso, destinada a garantir as condições de segurança durante as operações de lançamento e regresso.

Todavia, as obras estão atrasadas. “Estamos neste momento com cinco meses de atraso”, admitiu Ricardo Conde, que acrescenta que o financiamento e os quadros de investimento ainda estão em fase de preparação. 

O objectivo, no entanto, mantém-se inalterado: fazer de Portugal o primeiro e único ponto de retorno de veículos espaciais na Europa, complementando assim a oferta europeia de acesso ao espaço com uma valência estratégica até agora inexistente. 

O regresso do Space Rider em 2027 poderá marcar um momento histórico para a presença portuguesa no espaço e consolidar Santa Maria como uma plataforma europeia de referência no sector aeroespacial.